Periscópio



      Instalei no meu gabinete de trabalho um "periscópio". Não é de última geração. Mas  seus espelhos, suas lentes, ainda estão tinindo! Através dele, estarei, diariamente, perseguindo aquelas notícias que, no meu entender, devam merecer um Light ou um apimentado comentário. Comentário rápido.

      Não estou inventando nada. Se o leitor se dispuser a promover uma pesquisa, saberá que muita gente boa fez ou faz a mesma coisa. O que pode haver, é uma diferença na adoção de cretérios, quando da escolha da notícia a ser dissecada, analisada, esmiuçada.

      Queria, entretanto, que esta coluna, que acabo de apelidar de Periscópio, não fosse jamais confundida com um blog. Considero imensurável a responsabilidade do blogue(i)ro.
 
      Não gostaria de carregar sobre meus ombros o peso que suporta "um cara bem informado"; e, em conseqüência,  ter a me perseguir milhares de leitores, desejosos de uma boa ou má fofoca. Não. Não é minha.

      Será uma coluna semelhante a, digamos,  uma estrela cadente, ou seja , aparecerá inesperadamente. E a depender do dia e circunstâncias,  com maior ou menor brilho, no monitor do meu leitor.

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Abro o primeiro Periscópio dando destaque a três notícias que colhi na BBC Brasil.com. Por coincidência, as três têm cunho religioso. Por isso, as tratarei com o maior respeito. Nada de mexer com o Credo de quem quer que seja.

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      Começo com uma notícia vinda de Roma. Muito interessante, por sinal. Segundo a correspondente do citado site, "padres vão à praia em busca de fiéis, na Itália". Repito: na Itália.

      O argumento principal usado para justificar a surpreendente inovação litúrgica tem até procedência: os católicos, no verão, fogem das igrejas, e ganham as praias, para o merecido lazer.

      Os pastores, então, vão ao encontro de suas ovelhas, "brincam com as crianças, conversam com os adultos, dançam e cantam com os jovens, e, ao mesmo tempo, transformam as praias em igrejas a céu aberto".

      Um prelado, Dom Roberto Fiscer, assim defendeu o que chamo de evangelização à beira mar: ..."praia não é sinônimo de pecado, mas lugar onde nasceu o Evangelho." E, oppotuno tempore, lembra o bispo, "que Jesus rezava na beira do mar da Galiléia junto com os 12 apóstolos e todos eram pescadores".

      Muito bem. A praia, Senhor Bispo, pode não ser sinônimo de pecado. Mas, freqüentando-as, é possível que o cristão, até o mais carola, peque por pensamento... e, mais tarde, "por palavras e obras".

      Por outro lado, resta também saber, se as mulheres da antiga Galiléia, nos seus banhos de mar, usavam maiôs, ainda que discretíssimos...

      Pergunto: Será que os nossos presbíteros (alguns tão ariscos!) "suportariam" evangelizar nas praias de Salvador circulando por entre sumários biquínis, e sentindo o penetrante cheiro do saboroso acarajé? 
      Melhor me parece,  procurar ajudá-los a não cair em tentação, estimulando-os a continuarem usando o púlpito convencional.

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      A segunda notícia. "Vaticano recomenda beatificação do papa Pio 12".
      Eugênio Pacelli (1939-1058) - Sobre o "papa do soluço" pesa a suspeita  de que teria ignorado o massacre dos judeus, na última Grande Guerra. Por isso, ele chegou a ser chamado de "o papa de Hitler".
 
      A Santa Sé tem desmentido esta versão. Argumenta a Cúria romana, que Pio XII, para defender nossos irmãos judeus, terria liderado uma "discreta diplomacia", contra o Führer.
      
      Muito bem. No tempo de Pio XII, pouco se sabia sobre a vida - pública e privada - de Suas Santidades. 
      Apenas a Rádio Vaticana, fundada por Pio XI (1922-1939) levava a alguns Continentes o que os pontífices andavam fazendo (ou não fazendo), no seu dia-a-dia.
      E assim mesmo, com uma exagerada cautela canônica, a fim de que nada de ruim atingisse o Santo Padre, considerado o representante de Cristo na Terra. 
     Tivesse Pio XII reinado na Era João Paulo II, e dúvidas não seriam levantadas sobre seu comportamento político, inclusive sobre sua posição diante do  Holocaustico.    Como aconteceu com o papa Wojtyla, na sua cruzada contra o Comunismo.

      Ninguém melhor para falar sobre os propósitos do Papa Pacelli do que  sóror Pascualina, sua auxiliar por mais de quatro décadas. Durante o seu reinado, ela dizia quem podia ou não falar com o papa. Não sei se ela ainda vive.

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      A terceira e última notícia. "Mostra em Roma revive escândalo de amante papal".
      O despacho registra a exposição de um fragmento do quadro retratando o Papa Alexandre VI ajoelhado diante de sua jovem amante, Giulia Farnese, que carrega nos braços o Menino Jesus.

      Trata-se do afresco do Menino Jesus das Mãos, cuja existência é indiscutível. Pintado a pedido de Alexandre VI,  nele o pontífice safado aparece aos pés do Menino, nos braços da Virgem Maria, "pintada à semalhança da amante papal", a encantadora Giulia Farnese.

      Muito bem. Que Alexandre VI (1492-1503) foi uma papa devasso, a história do papado confirma, com todas as tintas.  Do seu extenso Curriculum vitae consta, entre outras coisas, o seguinte:
      Que ele fora eleito papa mediante suborno;
      Que teve seis filhos; dois nascidos durante seu pontificado;
      que são verdadeiros os seus escandalosos romances com com as lindíssimas Vannozza Catnei, Giulia Farnese e Lucrécia Bórgia, sua filha.

      Conhecido como o "Tibério da Roma cristã" ( por causa da sua "voracidade sexual") o promíscuo papa Alexandrfe VI teria morrido envenenado, ou vítima da peste bubônica.

      É de se esperar, que a Igreja nunca cogite de fazer o papa Alexandre VI um seu bem-aventurado; e muito menos um dos seus beatos.


 
      

     
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 19/08/2007
Reeditado em 03/11/2020
Código do texto: T614147
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