Cada um com sua dor
Nós seres humanos, temos um mania equivocada de querer compreender a dor alheia. Nos esquecemos que quando a dor é do outro ,só ele sabe a sua dimensão e qual a maneira suportável de lidar com ela.
Não tenho muito encanto por conselhos, embora saiba a importância dos mesmos para nos precaver de situações complicadas, para acalentar nossos corações, nos apontar uma luz, uma possível saída. O que me deixa meio resistente a acatar e dar conselhos é que quando aconselhamos alguém, fazemos isso baseados em nossas experiências individuais, nas nossos óticas de mundo, nas bagagens culturais, pessoais que trazemos dentro de nós. Aqui que mora o problema, a forma de sentir de enxergar uma situação é relativa. Cada um sente de um jeito , em uma proporção.
Às vezes na nossa tentativa de ajudar a amenizar uma dor ,corremos um sério risco de estarmos subestimando -a ,desrespeitando o direito do outro de sentir, de expressar e suportar de seu jeito ...
Chegamos a um velório e temos a ousadia de abraçarmos um pai, uma mãe que perdeu um filho, uma esposa que perdeu o esposo, um filho que perdeu um pai uma mãe e dizê-lo para não chorar, não se desesperar. Como assim??!!! Podemos até chorar rios de lágrimas, desmaiar, ter pânico em um velório, mas sentir o que aqueles pessoas próximas estão sentindo, jamais. Sentimos um por cento, talvez, daquela dor. Voltamos para casa , tomamos um banho e vamos jantar e dormir normalmente. No outro dia voltamos as nossas atividades cotidianas.
Não somos nós que ouviremos aquele filho inocente perguntar : _Cadê mamãe, cadê papai???E chorando escondido ter que dizer que ele ou ela virou estrelinha. Não somos nós que iremos dormir e veremos o travesseiro vazio, a dispensa vazia, dívidas para pagar, o guarda roupa abarrotado, as fotografias espalhadas pela casa e aquele silêncio sombrio, aquele vazio ,aquela ausência e não se sabe para onde correr ,para quem gritar. Não somos nós que que iremos querer gritar: _ Mãe , pai ,me socorre!!! E nada...Não somos nós que iremos naquele quarto daquele filho adolescente tão intenso, tão barulhento, tão carinhoso e gritar... gritar por ele e ele não aparecer...
Olhamos para um cônjuge que foi vítima de uma traição ou violência física, verbal e a aconselhamos a perdoar e a manter o casamento. Fazemos isso porque não somos nós que teremos que conviver com o agressor de forma pacífica, não somos nós que teremos nossos corações consumidos por revolta, mágoa ,dor e frustração.
Olhamos para alguém que foi fortemente injustiçado, caluniado, ferido por outro e o dizemos para esquecer a ofensa, não expressá-la em redes sociais. Isso porque não somos nós que estamos sentindo a dor aquela avassaladora ...
Olhamos para alguém que teve a perda de um emprego, de um bem material e o dizemos :”Isso não é nada”. Nos esquecemos que só a pessoa sabe dizer o valor afetivo, sentimental que aquele emprego ,aquele bem representava para ela.
Não cabe a nós sugerir que maneira agir nesses momentos, apenas dizer, talvez, “aja como você se sinta melhor , estarei aqui te amando e te respeitando de qualquer jeito”.