A Vizinha do Viriato

Meu amigo Viriato confessou:

- Cara! A minha vizinha tá me deixando doido!

Ele estava desfigurado. Enquanto todos na empresa andavam engomadinhos em seus ternos, Viriato já não era mais o mesmo: gravata desalinhada, cabelos desarrumados, terno mal passado e tudo por conta daquela mulher.

- Quando ela passa por mim, dizia ele, o perfume fica no ar e enlouqueço de paixão! Tenho vontade de fazer mil e uma maldades!

- Tá bom Viriato! Sem detalhes, por favor! - Dizia eu.

Viriato foi piorando a olhos vistos. Já não se concentrava no trabalho e perdia os prazos. Os relatórios eram péssimos e o chefe já andava com a pulga atrás da orelha:

- Ou o Senhor melhora ou será RUA!

- Viriato, te cuida homem! - Dizia eu, seu melhor amigo.

- Tô ficando é doido!

De repente, na próxima segunda, ele não foi trabalhar. Liguei para o celular e nada!

Preocupado, na corrida hora do almoço, fui ao seu apartamento. Toquei o interfone ouvindo uma voz feminina chorosa:

- Alô.

- Matilide? -Era como se chamava a sua esposa.

- Sim. - A voz era melancolia pura.

- Sou eu, o Peixoto! O Viriato está?

Apenas ouvi um berreiro profundo.

- Deu bode! - Pensei.

- Suba! - Ela mandou e eu, hesitante, fui.

Assim que ela abriu a porta, mandou-me sentar. Desconcertado, acomodei-me sem jeito em uma das poltronas. Fui logo ao ponto:

- O amigo Viriato não foi trabalhar e nem atende ao celular. Vim ver se posso ajudar em algo!

Ela chorava compulsivamente. Quando terminou, entre prantos, disse:

- O cachorro fugiu com a vizinha!

E chorava. Desconcertado, fiquei pensativo olhando para a cara dela. Até que disparou:

- E o pior é que era uma velha horrorosa! - E me mostrou uma foto de uma anciã para lá dos 80 no seu celular!

- É essa a vizinha?

- Sim! - E chorava. Mal pude acreditar. A esposa dele não era nova, mas a velhinha estava caindo pelas tabelas. Saí dali deixando o melhor conforto possível e nunca mais tive notícias do Viriato até que, um belo dia, atravessando a Paulista o vi do outro lado de braços dados com uma Senhora magrinha e toda arrumada. Foram de braços dados sumindo dentre a multidão. Voltei para casa pensativo:

- Ou foi amor, ou tem algo nessa história que o Viriato ainda não me contou!