Batismo público!

Caprichosos, por capricho próprio, capricham em nomear prédios públicos com nomes de, às vezes, nem tão ilustres cidadãos. Quantas vezes lemos, nas placas dos halls dos prédios públicos, nomes de pessoas deslustradas, ricas criaturas, narcísicos seres que, ainda em vida, imploraram que seus nomes fossem ali postados? E por aí vai esta crônica procurando o caminho do entendimento / desentendimento, tanto dos que homenageiam, quanto dos homenageados. Parece-me que os prédios da justiça estão entre os primeiros no rinque dessas nomeações, verdadeiros batismos públicos!

Não sou desfavorável a essa conduta, mas à forma como ela é feita e por quem. Em Alagoas, os coronéis, os abastados, os aculturados famosos, os prepotentes, esse últimos em sua maioria, são os agraciados. Os homens de bem, que exercitam o cotidiano da humildade, jamais aceitariam facilmente essas homenagens gratuitas.

A lei que proíbe essas benesses existe há tempo, embora não fosse cumprida.o pecado do batismo dos órgãos públicos com nomes de vivos é que veio à baila recentemente. Agora está na moda prédios públicos com nome de personalidades vivas, e o que é pior, muitas delas sem apresentar justificativa ética e moral para sê-lo. Pô-los nesses órgãos não combina, principalmente se o indivíduo está vivo.

Há famílias que se emocionam ao ver, em tais órgãos, o nome de um parente nas placas indigestas à maior parte da sociedade. Põem-se, muitas vezes, nomes raquíticos em prédios que abrigam elefantes e outras vezes, nomes de elefantes para nomear prédios guardadores de anões. Tenho visto no anonimato o nome de grandes juristas mortos, deslembrados injustamente.

É próprio do homem, bom para o seu ego, o prazer de ser homenageado. O que se coloca aqui, em tom de discreta contestação, é a forma como a coisa tem sido feita por minutos. A escolha desses nomes não me parece estar obedecendo à vontade de um colegiado ético, que represente uma unanimidade responsável mas, atendendo à imposição de alguns egocêntricos ou pensadores de araque, ou aqueles outros que simplesmente aceitam o que os amigos bajuladores decidem sem pensar, apenas para agradá-los. Narcisicos dão primeiro aos seus pares, para, através daqueles, mais à frente, receberem nova compensação.

Põe-se o nome de um profissional corrupto para homenagear uma instituição séria, um nome de estanho ao prédio para nomear outro, e até o nome daqueles que pedem para que seja feito esse procedimento dadivoso, para outros. E assim os egos criam asas enormes e, narcisicamente, dão rasantes nos espelhos públicos, achando-se reis, sem que qualquer majestade mereçam!

É necessário mudar e mudar para melhor. Sugiro o estudo de nomes dignos e representativos, tais como: Sílvio de Macedo, Ulisses de Mendonça Braga Junior, Guedes de Miranda (um dos maiores tribunos de Alagoas), Carlos de Gusmão Miranda, Osvaldo de Miranda, Zepherino Lavenère Machado, José Xisto Gomes de Melo, Antônio César de Moura Castro, Anderson de Almeida Vasconcelos, Anthero Montenegro de Medeiros, Jaime d’ Altavila, Paulo de Castro Silveira (imenso criminalista), João Teixeira Cavalcante, Cyridião Durval (mestre do direito), Hermínio Barroca (um dos fundadores da Faculdade de Direito de Maceió), o grandioso Pontes de Miranda, os desembargadores Mário de Guimarães e Gerônimo de Albuquerque, Inácio Gracindo, Osman Mascarenhas, Domingos Correia da Rocha, José Loyola Correia, dentre tantos outros que, esses sim, abrilhantariam e fariam jus, tendo seus nomes emprestados aos mais diversos órgão públicos.

Se é para ser mudado, que mude. Receio que certa morosidade doentia possa agigantar-se até que os atuais nomes vivos esperam, nos bastidores, que eles realmente morram e retornem às placas onde hoje pousam vivos com seus nomes. Alagoas precisa esquecer certos monopólios cultural, intelectual, etc, de um punhado de famílias, que, na surdina, elegem até seus tataranetos para serem e ou ocuparem este ou aquele lugar de destaque, culminando por emprestar seus nomes a prédios públicos, tornando-se com isso um faroleiro avisador de que neste Estado mandam mais as famílias A e B. vivem-se novos tempos e, por isso, ventos novos têm que soprar nesta terra de Marechais e “Marechais”!