A preciosa arte de "tocar o foda-se" (e como ela pode te ajudar em muitos sentidos)

Começo esse texto dizendo que sou uma egoísta. Ou assim a vida me obrigou a ser. Fui obrigada a ser egoísta quando passei no vestibular de Direito da UFRJ. Minha família ficaria em outro Estado, enquanto que eu, de mala e cuia, iria para a cidade maravilhosa (na verdade, um regresso, pois sou natural de lá).

Sabe, eu sempre fui de ajudar e me importar muito com o que as pessoas pensam e sentem. Dentro de mim, eu ficava muito consternada em pensar: “caramba, você tá largando sua família só para conseguir um diploma numa faculdade federal? Não acha que tá sendo muito egoísta?”.

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Isso foi em 2010. Sete anos já se passaram. Fará uma década que essa dúvida me assolou internamente e… Até hoje não me arrependi de ter sido egoísta naquele momento. Por quê?

Bem, se foi difícil pra mim, também foi difícil pra minha família. Não cabe aqui dizer os nossos percalços, nem quero fazer uma história de coitadismo só para angariar "likes" (e palminhas) ou provocar a fúria de outras pessoas que podem se sentir magoadas e quererem dizer que não sei o que é sofrimento de verdade.

Não, não e não. Vou tirar essa tipo de negatividade do meu texto desde já.

Só posso dizer que não foi fácil. Mas aprendemos muitas coisas. Evoluímos com isso. E se eu não tivesse feito o famoso largar o foda-se, eu não seria quem sou hoje: alguém muito atenta para as minhas próprias necessidades emocionais;é que eu costumava ser muito metida a intelectual e ignorava meus sentimentos.

Talvez, se eu ficasse com medo/culpa de largar o foda-se e até com receios hipotéticos (sim, eles eram hipotéticos e ilusórios. Na minha cabeça, a casa iria parar de funcionar se eu não ficasse mais lá), muitas melhoras não teriam acontecido, tanto para mim quanto coletivamente. No final, tudo funcionou; aos trancos e barrancos, mas funcionou.

A isso não se chama sorte. Mas sim o poder de adaptação que cada um guarda dentro de si. Somos todos serem em evolução e com essa capacidade de alterar e tirar o melhor de cada situação.

E, sabe, o mesmo acontece e pode ser aplicado às seguintes situações:

1- relacionamentos fadados ao fracasso (abusivos, tóxicos e afins);

2- empregos que não nos motivam a alma e mal pagam nossas contas;

3- lugares em que “nada mais dá certo”.

Temos que aprender a largar o foda-se, não importa a situação, quando é a sua sobrevivência que está em jogo.

Não tô falando pra você ser um inconsequente, nem que deixe de calcular a influência que tem sobre a vida das pessoas.

Mas sabe lá no Processo Penal quando a legítima defesa te impede de ser condenado?

Às vezes, só precisamos disso: salvar-nos. E pra isso que o “foda-se” está aí. Saia dessa cilada que é um namoro (ou casamento) tumultuado e que não vai a lugar nenhum. Larga esse emprego que faz com que você se odeie todos os dias ao chegar em casa, mas nem dá pra você se sustentar direito. Mude de cidade se for necessário. Recomece.

Apegar-se a tudo isso é ilusório. Nessa vida, somos todos pontos de luz em meio a uma constelação. Uma hora, a estrela morre, mas pode demorar a perder seu brilho. Mas será que as pessoas, ao olharem pro céu, vão continuar vendo as coisas boas que você fez?

A verdade nua e cruel é: a maioria vai pensar que você poderia ter feito mais, sim. Que deveria ter amado mais, que deveria ter cuidado mais da própria saúde, sido mais calmo, etc.

Quer dizer… Então, pra quê serviu aquela obsessão em ficar querendo cumprir as necessidades das pessoas? Cara, elas nunca vão estar (realmente) satisfeitas.

Esses dias, eu me fiz uma promessa: vou deixar de me importar com o que outros pensam e sentem sobre mim se isso, no fundo, não diz respeito a eles. Mas à minha própria salvação.

Não busco com isso ser vista como uma pessoa fria; mas como alguém que está apenas cuidando de se amar em primeiro lugar. Até porque não tem como amar as outras pessoas, se você não se amar primeiro.

Uma metade da laranja não pode amar outra metade da laranja. Um vai tentar procurar no outro o que o outro não tem. No final, não dá nem pra fazer um suco de laranja direito, rs. Melhor comprar um suco artificial cheio de edulcorantes e açúcar.

Por isso, o largar o foda-se é a melhor coisa que você poderia fazer em relação às pessoas ou situações que parecem insuperáveis, mas que, na verdade, são sim.

Aquelas mesmas pessoas, por si, um dia vão se dar conta de que essa era a mais sábia decisão a ser tomada. Naquele momento. Pois antes te ver inteiro, do que só pela metade.

Eu não quero me ver despedaçada nunca mais.

S Paiva
Enviado por S Paiva em 11/10/2017
Reeditado em 12/07/2020
Código do texto: T6139538
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