Vamos Falar de Vaga-lumes?
Hoje uma amiga falou em vaga-lumes e eu me dei conta que nem lembro da última vez que vi um.
Na selva de pedra onde vivo não existem mais e desconfio que as crianças daqui também nunca os viram. Elas provavelmente, já ouviram falar, pois os livros de histórias infantis são pródigos em apresentar-lhes todas as espécies de animais possíveis, reais ou fatasiosos, para que a imaginação infantil possa se alimentar.
Vou lhes confessar que gosto mesmo é da selva de cimento e asfalto, do barulho, do movimento. Sou bicho urbano, gosto do cinema, do teatro, das exposições, dos eventos mil. Preciso conversar, ver gente, sentir que a vida anda. Mas comecei toda essa prosa por causa dos vaga-lumes que ainda existem no lugar onde minha amiga mora. Numa cidade pequena, ela reside afastada do centro, em meio à natureza e cria galinhas e coelhos, cultiva uma horta e alguma árvores frutíferas.Tem gente que gosta disso, de caminhar quase uma hora por uma estrada um tanto deserta para chegar até o destino.
Já eu gosto de andar uma hora de carro, no meio do trânsito lento para chegar ao centro ou à praia mais próxima. Lá, a noite escura deixa ver os vaga-lumes, aqui a noite mais escura que houver mal nos deixa entrever as estrelas.
Passei grande parte da minha infância no interior onde víamos a lua, estrelas em abundância e os insetos com fogo no rabo. Onde a vida corria lenta numa época em que a gente quer crescer rápido para ser dono do próprio nariz. Meu avô caçava os vaga-lumes e os prendia dentro de um vidro com a tampa furada, para eles não sufocarem, e dizia pra gente que era uma lanterna. Nós nos divertíamos com a singeleza e saíamos pela trilha estreita em procissão de fila indiana, na noite escura como breu, os astros coruscando no céu, íamos em direção ao rio, ouvindo a voz repetitiva: Não vão longe! - mal enxergando onde colocávamos os pés.
No barranco do caminho, um pouco antes da margem, havia uma reentrância que parecia uma pequena gruta e ali colocávamos, eu e meus primos, a lanterna para alumiar a santinha, feita por nós, de sabugo de milho. Gosto das lembranças; vivíamos com tão pouco e éramos crianças felizes, travessas e sem traumas.
Crescemos, mudamos radicalmente de vida, estamos envelhecendo a passos largos e tenho saudades do tempo em que tudo o que a gente queria era mudar logo de idade, em carreirinha, para sermos igual aos adultos sem saber que isso implicava em perdas. Porém a vida é feita disso, de perdas e ganhos constantes, de trocas e de escolhas. Tenho boas recordações daquele tempo que parecia não passar nunca, numa era de um outro século de simplicidade e leveza.
Não sei quando que criei gosto por esta vida citadina, corrida e cheia de sons mecânicos, entretanto, sei que ela faz parte das minhas opções e oportunidades, mas cheguei aqui sem nunca ter deixado pelo caminho aquela lanterna luminosa de inúmeros vaga-lumes que meu avô nos presenteava.
Hoje uma amiga falou em vaga-lumes e eu me dei conta que nem lembro da última vez que vi um.
Na selva de pedra onde vivo não existem mais e desconfio que as crianças daqui também nunca os viram. Elas provavelmente, já ouviram falar, pois os livros de histórias infantis são pródigos em apresentar-lhes todas as espécies de animais possíveis, reais ou fatasiosos, para que a imaginação infantil possa se alimentar.
Vou lhes confessar que gosto mesmo é da selva de cimento e asfalto, do barulho, do movimento. Sou bicho urbano, gosto do cinema, do teatro, das exposições, dos eventos mil. Preciso conversar, ver gente, sentir que a vida anda. Mas comecei toda essa prosa por causa dos vaga-lumes que ainda existem no lugar onde minha amiga mora. Numa cidade pequena, ela reside afastada do centro, em meio à natureza e cria galinhas e coelhos, cultiva uma horta e alguma árvores frutíferas.Tem gente que gosta disso, de caminhar quase uma hora por uma estrada um tanto deserta para chegar até o destino.
Já eu gosto de andar uma hora de carro, no meio do trânsito lento para chegar ao centro ou à praia mais próxima. Lá, a noite escura deixa ver os vaga-lumes, aqui a noite mais escura que houver mal nos deixa entrever as estrelas.
Passei grande parte da minha infância no interior onde víamos a lua, estrelas em abundância e os insetos com fogo no rabo. Onde a vida corria lenta numa época em que a gente quer crescer rápido para ser dono do próprio nariz. Meu avô caçava os vaga-lumes e os prendia dentro de um vidro com a tampa furada, para eles não sufocarem, e dizia pra gente que era uma lanterna. Nós nos divertíamos com a singeleza e saíamos pela trilha estreita em procissão de fila indiana, na noite escura como breu, os astros coruscando no céu, íamos em direção ao rio, ouvindo a voz repetitiva: Não vão longe! - mal enxergando onde colocávamos os pés.
No barranco do caminho, um pouco antes da margem, havia uma reentrância que parecia uma pequena gruta e ali colocávamos, eu e meus primos, a lanterna para alumiar a santinha, feita por nós, de sabugo de milho. Gosto das lembranças; vivíamos com tão pouco e éramos crianças felizes, travessas e sem traumas.
Crescemos, mudamos radicalmente de vida, estamos envelhecendo a passos largos e tenho saudades do tempo em que tudo o que a gente queria era mudar logo de idade, em carreirinha, para sermos igual aos adultos sem saber que isso implicava em perdas. Porém a vida é feita disso, de perdas e ganhos constantes, de trocas e de escolhas. Tenho boas recordações daquele tempo que parecia não passar nunca, numa era de um outro século de simplicidade e leveza.
Não sei quando que criei gosto por esta vida citadina, corrida e cheia de sons mecânicos, entretanto, sei que ela faz parte das minhas opções e oportunidades, mas cheguei aqui sem nunca ter deixado pelo caminho aquela lanterna luminosa de inúmeros vaga-lumes que meu avô nos presenteava.