Modorra

- Ei, dê-me um remédio para ficar acordada. Minha mente está dormindo - um sussurro lhe disse ao pé do ouvido.

Tudo o que via na frente era uma folha branca que refletia a luz forte de uma luminária em cima da mesa. Não conseguia distinguir o que estava escrito. Ela deveria, mas não consegue. Era apenas uma folha com letras negras, impressas metodicamente.

Pega a xícara. Na hora em que a vira para saciar-se com o líquido negro, sente apenas o ar entrando-lhe pela boca. A xícara está vazia, novamente.

A figura move-se com a xícara na mão escada abaixo. Não há luz. Não há som. Seus passos não produzem nenhum ruído. Sua respiração é silenciosa. É um fantasma. Põe a xícara na mesa e a enche de café. Enquanto o negro preenche o vazio, ela olha fixamente para a xícara. Fecha os olhos. Talvez estejam fechados; é o que parece. Pega a xícara e volta silenciosamente. É um fantasma, só pode ser. Não há vida ali.

Volta-se à folha branca que reflete a luz focal. Tudo em volta é negro, exceto pela mesa com a luminária e pelo fantasma com a xícara na mão. Não enxerga nada. Seus olhos estão ofuscados pela luz. Ouve um sussurro atrás de si, ou talvez de dentro:

- Ei, dê-me um remédio para ficar acordada. Minha mente está dormindo.

As letras no papel não dizem nada.