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Eu pensei que teriamos mais ócio, me enganei mais uma vez. Pensei que teríamos mais sossego, outra enganação, culpa dessa era que vivemos. Vivemos? Será que usei a expressão certa? Acho que o correto seria dizer: pensamos viver. Então a culpa é dessa era em que pensamos viver, há uma global futilidade, uma insuportável corrida pela competição e produtividade. A Revolução Tecnológica nos cobra mais velocidade.
Antes viver calmamente era dádiva divina; agora não. Tudo tinha seu tempo e respeitávamos isso, hoje tudo é precoce, imagine um orgasmo feminino antes do ato sexual, entende como é ruim? A vida tem se tornado algo assim, mas é um orgasmo vazio. Não temos tempo para sentir, afinal, sentir o quê? Tudo é tão superficial e desnatural. Somos condicionados a nascer, trabalhar e morrer de forma que seja proveitoso para o sistema.
O ser humano vive essa coisa que chama vida, tem tempo para seu mundinho egoísta e fora de moda, esbanja sua fome de se mostrar para obter prazer principalmente quando curtem e comentam fragmentos de sua ejaculação vazia dentro da desorganizada coisa que considera vida, mas não tem tempo para seu próximo, sabe que seu colega de trabalho se chama Valdo e acha que só pelo nome e por vê-lo conhece-o completamente e pode julgá-lo, afinal há uma infernal corrida pela competição. Além de não se enxergar - e não falo de ver-se diante do espelho - não enxerga os outros e julga-os.
E a velocidade está sobre tudo, o ser humano não vive mais, é mais uma máquina, apenas, deseja dinheiro sobre todas as coisas, por isso há tantas injustiças sociais, porque são velozes e não pensam em dar um sentido humano para as suas construções, amam o dinheiro e a falta de pensar, não enxergam mais, apenas agem conforme manda os estatutos capitalistas. Porque vivem mecanizados e ofuscados por desejos mesquinhos e ambiciosos, não sabe o que é vida, o que é viver. Não há amor em seu ser, somente narcisismo, não conhece o próximo nem a si mesmo, por isso é escravo. E não entende o motivo que levou o filho do homem, há muitos séculos, a morrer, ele que sempre mostrou que somos filhos de um só pai e que a vida aqui é cuta, mas lá é eterna.