De volta à estação do Amor

Passos apressados, quase corria.

Olhava nervosa para os lados...Não...Não....Não !! Aquilo não era real. Não estava acontecendo novamente ! Não com ela! Jurou de pés juntos, ainda com as marcas amargas das lágrimas, olhos inchados denunciando uma noite inteira passada em claro por uma decepção amorosa - muito dolorosa! - de que, tão cedo, não abriria mais as portas de seu coração. Ficaria "fechada para balanço", tentando cerrar as fendas abertas, ainda muito recentes.

Mas...o que acontecera? Acaso alguém chegasse e lhe dissesse - "olha, não tarda florir a primavera revigorante neste seu peito sofrido" - riria gostosamente, na hora. Ficava a pensar nisso. "Homem é tudo igual....Ô raça infame!!", chegava a confabular lá com seus botões...

Mas as coisas mudaram - e ela ainda não havia percebido...Tomara-a de assalto, despreparada, sem tempo sequer para digerir aquela situação. Respirou calmamente. Sua mente estava um tanto confusa, a razão a negar algo que a emoção já o tinha como um acontecimento fortuito. Reunião de amigos. Quase sem querer, notara um olhar diferenciado. Desviava seu foco quando seus olhos cruzavam com os dele. Fazia que não havia percebido. Eram amigos de longa data. Não o via desde há muito, poucos contatos feitos. Mas o que a intrigava mais, era aquela sensação de que "vai começar tudo outra vez"...Leve suspiro. Sorveu mais um pouco de vinho. Ficou com vontade de ir até a sacada para ver a bela vista que se desdobrava diante do apartamento. Olhava, mas não via nada...Debruçada sobre o peitoril em mármore, fitava o horizonte. Sua mente vagava juntamente com estrelas cadentes que observava naquela noite agradável. Um leve toque em seu braço a fez voltar ao apartamento. Era ele. Sorria, sem dizer nada. Entreolharam-se por alguns instantes, que pareciam uma eternidade para ela. Seu coração palpitava, como há tempos não fazia. Porém, estava muito confusa para qualquer raciocínio mais ponderado. Aquela situação havia inegavelmente mexido com ela. Conversaram sobre amenidades, sobre os tempos de faculdade, os amigos, carreiras, enfim...Tiveram uma diálogo tão agradável, que ela sequer notara o tempo passar...Hora de ir...Enquanto marcava seu telefone em um pedaço de um guardanapo, ele dizia que, caso quisesse sua companhia, poderia chamá-lo para um cinema ou um teatro, coisas que ambos adoravam.

* * * *

Era fim de semana. Havia uma peça em cartaz que há muito gostaria de ver. Sem companhia, não estava muito inspirada para ir sozinha. Deu uma olhada em sua bolsa, à procura de sua escova. De forma casual, vê aquele guardanapo dobrado cuidadosamente ali dentro, como que a esperar por ela. Sorriu longamente. Não podia notar, mas seus olhos brilhavam. Pensara consigo: " Quem sabe já seja tempo da primavera florir de novo no meu coração...".

Marcio Roque
Enviado por Marcio Roque em 18/08/2007
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