De onde eu vim?
Segurava o queixo com as duas mãozinhas, enquanto se olhava no espelho, pensativo.
Os cabelos loiros e lisos emolduravam o rostinho bonito. Tinha em torno de quatro anos.
Sentada na beira da cama, eu lia um romance. Ergui o olhar e ele continuava ali, parecendo desligado deste mundo. Voltei a ler e imediatamente mergulhei na história. Despertei para a realidade com a voz dele que me perguntava: "Mãe, de onde eu vim?" No primeiro momento, já que estava voltando da história, não entendi a pergunta. "Como assim?" Respondi com outra pergunta. E ele voltou a perguntar: "De onde eu vim? Como vim parar aqui?" Desta vez entendi a pergunta complexa para um menino de quatro anos, numa época em que a televisão, a escola e os livros de história eram as únicas fontes de informação. Busquei rapidamente uma forma de explicar sem fugir da verdade e sem explicar além do que ele precisava saber. Respondi sorrindo: "Da minha barriga!" Ele elaborou a segunda pergunta de imediato: "E por onde eu saí?" Graças a Deus, fiz cesária. Expliquei: "Bem tu crescestes muito, minha barriga ficou grande e tu querias sair. Então o médico me deu um remédio pra eu não sentir dor, cortou minha barriga e te tirou lá de dentro. Depois costurou e ficou tudo bem." Neste ponto estava orgulhosa da minha explicação estar dando certo e fui além. Levantei o vestido e mostrei a marquinha. "Olha, ficou uma marquinha, foi por aqui"! Neste momento entrava o irmão menor com três anos e perguntou curioso:"E eu, mãe?" Respondi: "Também! Olha, tem outra marquinha. São duas marquinhas." Eles olharam com curiosidade satisfeita. E foram brincar. Ninguém naquele momento estava interessado em como entrou!
Para meu filho Patrick Aguiar!