OU ELA OU EU

Eu, chegando no salão de um amigo meu para arrumar o cabelo, me deparei com uma pequena confusão causada pela chegada de muitos clientes e ele, atencioso como sempre, preocupado por não ter podido fazer o café para servir a todos. Prontamente me ofereci para
prazerosamente, executar a tarefa e tentar sanar o problema.
- É só me indicar onde está tudo que eu me ajeito.
Achei tudo e fui me acocorar perto da cafeteira que, diga-se de passagem, era feia, diferente e mal encarada. Fiquei tempos tentando adivinhar como poderia fazer o café. Era diferente de todas que eu já tive ou já vi. Ela parecia um ser que não gostava de ser observado e tudo que eu tentei, ela se negou a me atender. Depois de muito estudar, descobri que teria que girar uma parte de cima, dar três pulinhos pra trás, pois na posição em que estava eu poderia me desequilibrar, inserir sem que ela percebesse, o coador por uma fresta que ela abriu e só; depois de ajeita-lo com dois dedos, colocar rapidamente o pó, antes que ela fechasse a fresta de novo. Uff!...A água foi rapidamente pela parte de cima. Saí depressa de perto daquele bicho e fui conversar no salão. Quando sentimos cheiro de café no ar, fui olhar e tive que pedir socorro. A água passou por não sei onde e foi parar na parte de baixo límpida e clara como Deus a fez e o cheiro era causado pelo vapor que passou no pó. O meu amigo repetiu a operação três vezes, para conseguir um café médio e enquanto ele assim procedia, clamava que não podia entender o mau procedimento da peça, pois era nova e veio como presente de uma cliente. Servi o café a quem se animou e aqui termina o primeiro episódio.
Agora, três meses depois... Eu, chegando para arrumar o cabelo e ele sozinho novamente, então dei uma ajuda e fomos fazer o café, pois estava fazendo frio. Ele alegremente me contou que ela estava muito normal ultimamente, o que eu concordei, pois nos dois meses de intervalo tomei café lá normalmente, me esquecendo porém, que foi feito por outra pessoa e no fundo, acho que também foi porque eu não estava perto. E qual não foi a nossa surpresa, quando veio o cheiro gostoso no ar. A água havia passado novamente por não sei onde e estava límpida. Ela, com aquela cara trancada, parecia que me observava e eu fui acompanhando aquele trabalho todo que ela dava. Depois da terceira repetição, saiu um café mais ou menos e ele me disse:
- Você pode tomar o café, que eu não quero mais.
Eu preparei o meu copinho com suporte e fui para me servir. E quem falou que a jarra saía do lugar?
A máquina que raciocina melhor do que eu, quando viu“quem”estava para se servir, trancou tudo. Eu puxei para o lado, para cima, sacudi tudo e nada saiu do lugar. Tentei ajudar com uma colher, forçando por baixo e tive medo de quebrar a jarra que estava como que soldada na placa de metal. Ele veio em meu socorro, mas não adiantou. Então eu perguntei para ela se ela queria que eu ajoelhasse no chão e pedisse pelo amor de Deus. Nem resposta! Fiquei revoltada pensando que iria embora com frio, com fome e que aquele café ficaria ali para todo o sempre... Amém. Tentei raciocinar, mas não dava, pois sem um cafezinho quente e com fome, nem adiantava o cabelo bonito como estava. Por dentro da cabeça era um oco só.Quando eu já pensava em por o pé na parte de baixo da energúmena e puxar a jarra com toda a minha força, no auge o desespero que exacerbado pela situação, me fazia sentir mais ainda o cheiro do café, o meu amigo teve uma luz e destorceu a coisa por cima, arranjou um copinho e foi passando o café da tal para o meu copo, até fazer meio copo.
Finalizando, ele ficou atrasado para o almoço e eu, para os meus afazeres, mas eu tomei o café. Passei Por ela, olhei de lado, joguei o cabelo para trás, como se ele tivesse um metro e fui saindo e sentindo aquele olhar fulminante da fulana, soltando fumaça e se derretendo de ódio de mim. Acredito mesmo que o procedimento inadequado da tal, era por minha causa mesmo e quando voltar lá, vou dizer a ele: OU ELA OU EU!
E talvez eu leve uma garrafinha térmica com café pronto, que contaminada, poderá trancar a rolha...Ou não.



Pássaro Feliz
Enviado por Pássaro Feliz em 18/08/2007
Reeditado em 22/04/2008
Código do texto: T613469
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