Azul turquesa

Mesmo ainda usando aquela cueca azul turquesa , já com o elástico mais frouxo , aquele jeans surrado , já costurado entre as pernas, o cabelo mais branco , a barriga mais avançada pelos anos . Com uma pegada menos suja e agressiva , já buscando um interlúdio entre o evangelho e a paciência de Jó , vou moldando as minhas noites , como os dias que evaporam, como uma ampulheta , onde temos a falsa ideia de que o tempo passa lento , arrastado , como uma música sinfônica , sequenciado por um som do My Dying Bride , onde penso em deixar barba e cabelo crescer , para quem sabe numa peça de qualidade duvidosa , pedir minha pregação como o novo Messias? , tudo é possível na fantasia , tantas bocas beijadas no pensamento , tanto sexo quente feito através do olhar , tanta mentira oculta dentro de pequenas entrelinhas , fixas na moldura da parede , tanto gozo e sussurro , tanta misericórdia pedida , ajoelhada com a Bíblia aberta , e empoeirada , jogada em cima do armário vazio , no canto da sala , bem vindo ao seu lugar.

Leandro Vidile
Enviado por Leandro Vidile em 06/10/2017
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