UMA SURPRESA EM MINHA PORTA
Era preto e branco. Tinha o pelo macio e brilhante. Certo dia, pela manhã, ao abrir a porta da sala, lá estava ele, sobre o capacho, em uma caixinha quadrada. Era recém-nascido, mas sua aparência já indicava que seria bem bonito. Fora deixado lá, provavelmente, durante a noite. Dei-lhe o nome de Gaturano.
Foi assim que ganhei esse gatinho cheio de vida e peraltice. Fiquei encantada e nunca me passou pela cabeça rejeitá-lo. Tive especial carinho por ele, que retribuía à altura. Mas, como todo felino, era temperamental e, às vezes, quando meus carinhos eram exagerados, revidava com mordidas e arranhões.
Gatos são seres muito independentes, diferentes dos cães. Eles não se sujeitam ao confinamento. São noctívagos e o bichano saia todas as noites para namorar, brigar ou caçar. De uma feita, saiu para não mais voltar. Nunca soube o que aconteceu. Foi melhor assim. Eu sofri, mas sofreria muito mais se o visse machucado ou morto.
Foi a minha primeira perda sentida, depois, na maturidade vieram outras, de pessoas muito amadas. É sempre difícil superar, mas aos poucos vamos aprendendo que perdas são inevitáveis, que é a ordem natural, o ciclo da vida. Entendendo essa dinâmica, fica menos penoso enfrentar esses fatos naturais. Com o tempo, passa a tristeza, mas nunca esquecemos.