A difícil missão de julgar
Quando tomamos conhecimento de que já somos capazes de viver sem ajuda, tomamos conhecimento também de que já crescemos sendo julgadores. Quantas vezes julgamos apenas de ouvir falar de um acontecimento, sem mesmo nos darmos a iniciativa de irmos ao encontro da verdade. Somos e seremos eternos julgadores.
Agora, falando na primeira pessoa, não sei se por imposição de meus tutores ou por um impulso ainda por mim não descoberto, sempre tive um pé atrás ao ouvir histórias que não batiam com o meu modo de julgar. Cautela, talvez essa a razão do meu eterno meio de desconfiança em quase tudo o que ouço, sempre busco primeiro ouvir, analisar e depois de muito ponderar, a mim mesmo firmar um julgamento, que no meu mais parco entender seja o justo, o ideal para o caso em tese.
Meus filhos sempre me questionaram o porquê, dessa minha desconfiança à primeira vista dos seus relatos. Minha resposta também sempre foi a mesma, irei averiguar. Anos mais tarde talvez eu tenha encontrado enfim a resposta desse meu, digamos assim, estranho comportamento, ao ouvir de um Magistrado com o qual trabalhei por vinte e cinco anos o seguinte: um julgamento para pelo menos parecer correto e não machucar nenhuma das partes envolvidas e também o seu julgador, tem que ter cinquenta por cento de razão e cinquenta por cento de coração.
Quiçá, Ele não estava correto nessa sua afirmação.
Anos mais tarde, agora que já faz mais de quatro anos que me aposentei e não quis mais me envolver com processos, tive o tempo necessário para estudar, analisar e buscar o verdadeiro fundamento que envolve um julgamento. Como cheguei a esta conclusão? Estudando a mim mesmo, analisando mais de perto as minhas decisões nas minhas andanças pelo País e conhecendo mais de perto, o meu senso julgador. Confesso que isso me levou de volta a um passado, onde com mais calma pude ver que errei, mas que errei buscando sempre o acerto, talvez seja essa a saga de um julgador, descobrir seu erro e calar, calar para não abrir mais uma ferida que talvez já esteja fechada e apagada da memória dos envolvidos.
Estamos vivendo hoje com uma chuva de denuncias arrasadoras, desconcertantes e muitas vezes duvidosas, mas que a Sociedade abraça assim como eu abraçava a muitos anos atrás sem ao menos se dar ao trabalho de analisar e julgam como eu julgava, só no ouvir, isso antes de me conhecer melhor, porque sempre tive o meu alerta julgador ligado. Por isso clamo por cautela e peço que rezemos em favor daqueles que terão a difícil missão de julgar os fatos a eles imputados.
Apreendi também que antes de julgar alguém, terei que julgar a mim primeiro. E se fosse eu o acusado? Como eu iria me sentir como réu, mesmo sabendo que errei e que terei que prestar contas do meu erro? Aí, já não mais me incluiria na pele do julgador e sim do julgado.
Vem aí novas Eleições e novas oportunidades de poder de novo julgamos, que tal fazermos primeiro uma análise de nós mesmos, para depois analisarmos com a consciência tranquila na hora de julgarmos aqueles em quem vamos depositar nossa total confiança. Julgue a si mesmo para depois julgar alguém. E com isso terás quem sabe não só um sono tranquilo, mas um futuro mais certo, mais confiável e com menos culpa.