Educação X Polidez

Convidado dia desses a palestrar numa escola de educação infantil, fui informado que me dirigiria a pais e mães jovens. Falar de educação do ponto de vista laico, claro! Me vi de repente num aperto. Caramba! Que é mesmo educação? O vocábulo dava nome a outra coisa quando fui educado. Me vi diante de um nó tremendo. Comecei por buscar no “pai dos burros” o conceito de educação: “é o ato de educar, de instruir, é polidez, disciplinamento. No seu sentido mais amplo, educação significa o meio em que os hábitos, costumes e valores de uma comunidade são transferidos de uma geração para a geração seguinte.” Ai! Isso não me ajudava. Aliás, deixava tudo mais confuso. Venho observando que educação e polidez tornaram-se antônimos. Na prática quanto mais educado é o cidadão, menos polido ele é. Donde se conclui que ignorância é falta de conhecimento, mas estupidez é mesmo estupidez e não se concerta na escola.

Por outro lado, para alcançar plenamente o entendimento da conceituação me oferecida eu teria que obter o conceito de comunidade e aí chegamos a isso: “A palavra comunidade tem origem no termo latim communĭtas. Pode-se dizer que uma comunidade é um grupo de seres humanos que partilham elementos em comum, como o idioma, os costumes, a localização geográfica, a visão do mundo ou os valores, por exemplo.” Imaginei que o grupo a quem me dirigiria partilha mais ou menos o idioma e por acaso a localização geográfica, quando aos demais elementos é preciso pensar. Os valores, por exemplo. Cada um trouxe para a comunidade que compõem hoje, valores de sua comunidade de origem e sei que estes esbarram frequentemente em algumas cancelas. Tem sempre um idiota para olhar na cara de um velho e dizer que ele tem que se desconstruir.

Fiz um exercício mental interessante numa madrugada em que a insônia cismou de dividir comigo a cama. Fiz uma lista da turma “do primeiro ano novatinho”, (usávamos essa expressão naquele tempo) da Escola Estadual Major Agenor Lopes Cançado, do ano de 1973. Éramos quarenta alunos e, porque permanecemos na mesma turma até o quarto ano, posso me lembrar facilmente de todos. Não existia mais a palmatória, mas existia o chamado gabinete da diretora e um tal bilhete pros pais que aterrorizavam. Recebíamos ainda a professora de pé e em silêncio. Sabíamos que ela era uma autoridade. Os valores que carrego hoje tem suas raízes ali. Fiz uma lista daqueles alunos e tive uma grata surpresa: estão todos por aí, ninguém se perdeu pelo caminho. Acho que são todos retrógrados como eu, mas estão bem carregando seus antigos valores. Vez em quando cruzo com um ou outro e percebo que estamos envelhecendo em paz. Talvez se nos reuníssemos hoje com nossos filhos e netos seríamos mesmo uma grande comunidade.

Carlinhos Colé
Enviado por Carlinhos Colé em 02/10/2017
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