À velocidade da luz

Hoje,dia 1 de Outubro completam-se 25 anos sobre do dia em que Jurei Bandeira.

Lembro-me com assombrosa nitidez desse dia, lembro-me de quase tudo, lembro-me das botas de 500 homens a baterem ao mesmo tempo no chão enquanto marchávamos, lembro-me da voz desses homens a jurarem:

"Juro

Como português e como militar

Guardar e fazer guardar

A constituição e as leis da republica

Servir as forças armadas

E cumprir os deveres militares"

(...)

E lembro-me como eu os meus camaradas encarámos aquilo, não de uma forma leviana, mas sobretudo de uma forma inocente, não parando de falar (em voz baixa) durante quase toda a cerimónia.

Mas o que mais me recordo foi da primeira lágrima que deitei em público, uma lágrima de respeito, na altura do toque que homenageava os camaradas mortos ao serviço da pátria, a mesma pátria que vai a votos escolher mais um pouco do seu destino 25 anos depois.

Não sou nem sentimentalista, nem saudosista, mas assusta-me que o tempo passe assim à velocidade da luz, demasiado depressa, não parando nem um pouco para que o possamos contemplar com mais atenção, apreciar um bocadinho mais, não parando, e quando damos por ele começamos a ter mais cabelos brancos do que negros, e não só nós como os nossos estamos diferentes, bastante diferentes. apesar de nos sentirmos na mesma.

Não me queria recordar desse tempo, queria-o viver hoje, porque isso era um sinal que não era passado, e que o tempo afinal não anda tão depressa como o lamentamos.

Queria pois segurar o tempo, mas é tão impossível fazê-lo como pegar num raio de luz, tempo que ao passar nos dá, nos ensina tanto, sendo que o preço a pagar por tanto recebermos é isso, o envelhecimento, ou se quiserem o amadurecimento.

E é pensando assim, que irei recordar aquele dia 1, mais grato por ter conseguido coleccionar estes anos todos, do que lamentoso por tudo se passar depressa demais, passar a uma velocidade perigosa, a velocidade da luz, que ao mesmo tempo que nos permite irmos mais longe e mais depressa, impossibilita que observemos nesta viagem com mais pormenor e profundidade coisas que acabamos por observar apenas à superfície.

1) Juramento da bandeira,cerimónia que marca o final da recruta. No Brasil penso que o nome será Juramento à Bandeira

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 01/10/2017
Reeditado em 01/10/2017
Código do texto: T6129902
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