Uma troca de olhares transcendental numa sexta-feira comum
Ora, quem diria que essa sexta seria intrigante. A mim, todos os dias tem se apresentado como dias de estudo, dias na frente de um computador, dias num quarto, dias... bem monótonos.
Não que a monotonia seja em si uma coisa ruim. Não, não me leve a mal. Porque sempre cogito que uma vida seguida de marés baixas faz notar mais claramente as marés boas para surfar. Oportunidades são assim. Claro, admito que é muito mais difícil suportar a espera entre uma Teahupoo e outra.
Mas nessa sexta... me vi intrigado. Uma instituição pública, um aniversário, muitas pessoas, mas você, ah você... você estava lá. E nem sabia que estaria. É curioso como a vida faz isso com a gente. Coloca nosso olhar entre um monturo de pessoas e, entre vários corpos, encontro um par de lindos olhos. Há quanto tempo você estava ali? E por quê logo nessa sexta? Por quê não algumas sextas anteriores? Mas bem... lá, por alguns segundos, já pude contemplar uma beleza, uma graciosidade que me encantou. Cativou puramente.
Pensei... "essa moça me parece muito intrigante e que faz de sua beleza não algo meritório, mas como dádiva, como alguém que sabe que sua beleza é única mas que uma beleza de olhar - como ela possui - deve ser merecedor de algo a sua altura".
Aí, descemos. Esperei ver você novamente no cocktail. Um Moscatel bem servido, pessoas amontoadas... você e eu trocamos olhares. Praticamente em linha reta, de um lado do outro do salão era nossa distância, mas os olhares... revelavam convites, revelavam interesses. Nesse instante, o gole final daquele Moscatel desceu mais prazeroso em meu paladar, mas, não menos inquietante. Afinal, eu me via com uma moça, à distância mas com abertura, talvez vendo-a pela última vez em toda a minha vida.
O meu coração, porém, por maior beleza que tivesse contemplado, como um rosto delicado de um anjo no caos de múltiplas faces, ainda está avariado pelas experiências anteriores. Na vida, errou o alvo, adiantou os passos, enfim, o que dizer de um coração impulsivo, de ímpeto mas de pouca ponderação?
Então ponderei e a vi, mais uma vez. De fato, linda moça. Muito alegre, sorridente, socializando muito bem com suas amigas. Mas aquele olhar me encarava com certa dúvida, uma dúvida curiosa, uma dúvida cativante.
Eu poderia olhar para ela fixamente durante todo o momento, tentando gravar cada aspecto de seu rosto, olhos e lábios. Como o cabelo castanho escuro estava sobre os ombros de uma jaqueta com ombreiras bem características de uma simpatizante de Rock. Sua calça jeans azul-piscina revela que o look é de alguém com o mesmo gosto musical que o meu. Certo, tudo bem até aí.
Mas aqueles olhos... grandes, expressivos, de um castanho escuro cheio de vida, claros como o Sol ao refletir em areias brancas numa praia que idealizei... eu finalmente percebi.
Percebi. Aconteceu que meu coração somente estava procurando um olhar feminino inocente. Um olhar cativante, sem maiores interesses a não ser pela curiosidade de um ser humano que poderia lhe ser interessante.
Porém, não me entreguei além do que o momento me reservou. Como lhe disse, meu coração... ainda não confia nele mesmo, principalmente se caso se apaixonar novamente - já dizia John Mayer. Não cheguei perto dela, exceto na primeira troca de olhar, contudo nem sei seu nome. Bem... por quê um momento de contemplação de uma beleza tão ímpar precisaria ser diferente? Penso no motivo de contemplá-la e estar feliz com a experiência:
Aquela troca de olhares foi mais íntima e mais calorosa que muitos momentos da minha vida e sei que poucos momentos serão tão vigorosos em contemplar um ao outro diretamente nos olhos... e nada mais.
Essa sexta foi bem intrigante, bem curiosa. Nunca senti tanta cumplicidade no olhar e quem sabe quando o sentirei?
Não sei. Porém, que lindos olhos.
As minhas próximas doses de Moscatel ocorrerão, mas, não serão como foi dessa vez.
(Sexta do dia 29.09.17)