OS DEGRAUS DA SOCIEDADE.
Reuniram-se dias atrás , varias linhagens da sociedade. Os bacanas foram os primeiros a dar o ar da graça, em seguida foram aparecendo elementos mais sofisticados: A elite e seus comparsas ,a burguesia com seus ares de conquistas, os doutores da lei, os latifundiários com sua botas de couro e seus bigodes retorcidos.
Primeiro acenderam-se as luzes , e em seguida uma musica suave.Taças de vinhos nos brancos forros das mesas, o trança trança, O leva e traz, o me larga e me deixa, tomaram conta dos cantos sórdidos do nobre salão.
Desfiavam-se ali a matéria, todos no mais verde da alma, mãos inadequadas sobre finos linhos acenavam, apontavam algumas avarias que o dinheiro sutilmente nos submete. Risos e gargalhadas sobrepunha a serenidade da musica que morria mansamente na vitrola. Ali comiam-se e bebiam-se os melhores dos desejos periféricos , tudo e todos num laço de classes indesatável.
No apagar das luzes, quando o portão que divide as classes rangia para decretar a separação, entra espremido entre o portão e o batente o poeta. Ele respira e se recompõem do sufoco, ajeita o paletó desgastado, ata o cadarço do sapato que acabará de afrouxar, sob a vasta rampa, engole a ofegante respiração, desvirgina os ramalhetes que o levava ao salão.
Adentra o salão sem ser notado,acomoda-se na ponta de um assento, olha a nata da sociedade na periferia dos sentimentos, enxerga-os tão distante de Deus.Observa a flutuação dos corpos entre taças e ilusões.
Ele então analisa a desigualdade das classes. Mete a mão na algibeira, retira uma caneta sem tampa e um bloco amassado, ali mesmo ele começa redigir um poema, ele vira e mexe entre palavras, organiza as idéias, e rapidamente descreve os vários degraus da sociedade.