Abençoai-nos São Francisco!
Havia tanta poeira naquela estrada
Que o sol poente parecia um brasão
Pendurado numa moldura, do inferno.
Não havia como falar sem tossir e se engasgar
E as longas cercas ao lado da estrada
Parecia um curral rumando para um triste fim.
Havia tanto cansaço naqueles corpos esqueléticos e mal vestidos
Que os passos pareciam não deixar pegadas pelo chão
Não havia como dar banhos nas crianças
Se nem água havia mais para beber.
E a estrada parecia uma reta rumo a um sonho coletivo
Como único caminho para sobreviver.
Havia mesmo assim tanta esperança naqueles olhos
Que os castanhos e azuis pareciam um verde único
Não havia como cantar as canções das colheitas
E nem correr pela liberdade dos campos
E se encantar com as flores silvestres
E o dia parecia nunca acabar
Como se nele tudo tivesse que terminar
Havia por isso tanta pressa de chegar
Naqueles pensamentos
Que o que foi deixado para trás
Pareciam apenas folhas secas levadas ao vento
Não havia como voltar
Para onde as máquinas
Tinham até olhos de fogo na escuridão
E os fazendeiros parecendo Senhores Feudais
Colocaram as toscas moradas ao chão
Havia sentimentos naqueles corações fugitivos
Que amantes eram do céu das estrelas e do luar do sertão
Não havia mais como resistir ao novo patrão
Que armado até os dentes os expulsou
Feito gente sem terra para viver
Quando a noite chegou
Com a lua por dentre os montes
A poeira baixou e
Alguma coisa mudou
Havia uma brisa fresca no ar
Que fez os seus peitos estufarem
E até o cansaço passar
E os sem terra apressaram o seus passos
Chegaram a um enorme rio
O maior que já se viu
E sem saber de onde alguém gritou com todas as suas forças
Abençoai-nos São Francisco!!!
E por ali o Nome ficou
E com terras irrigadas nova vida se criou
Havia tanta água naquele rio
Que o sol parecia uma luz
Vindo das entranhas das águas
Refletida no céu Poente
Não havia como olhar para esta nova vida
Sem agradecer Ao Bom Deus!
Mas o retirante hoje se voltasse
Se ajoelharia e beijaria novamente aquele chão
Lá longe além dos montes áridos
Que o viu nascer e as espigas de ouro colher.