Febre

Não há lágrimas, embora seu coração esteja inteiramente retorcido. Sempre teve tudo nas mãos, mas justamente o que queria, seja por punição, ingratidão, ironia ou teimosia, não logrou, embora tentasse. A ambição fazia suas mãos e seus lábios tremerem. Um arrepio frio corria pela espinha. Os olhos, por sua vez, estavam congelados, aéreos, distantes. Fechavam-se, as pálpebras magoando a retina, obrigando-se a dormir. Em vão. Ela se contorcia na cama, atritando-se contra o colchão na ânsia de encontrar calor; ou razão. Insatisfeito, o corpo rendeu-se ao cansaço de uma mente perturbada. Acordou cedo no outro dia, não por interferência de uma voz rouca e balbuciante, mas pelo azucrinar do som do maldito despertador. Estava desnorteada, sem saber o que fazer, mas, ainda assim, levantando-se, pois havia muito o que fazer.