O ESPELHO, O REFLEXO E A FUGA
"Suas atitudes falam tão alto que eu não
consigo ouvir o que você diz".
Ralph Emerson
Eu sou espelho e sou reflexo. Ou o contrário. Pode ser. Estou sempre mudando de lado. Não sou espelho. Não sou reflexo.
Às vezes, nem me enxergo, opaco. Na maioria delas, sem tempo para mim mesmo. As coisas do mundo me consomem.
Folha lançada ao vento. Árvore arrancada. Natureza morta. Mortal combate. O tempo versus a mente.
Enquanto o corpo envelhece, desgasta, a alma se liberta. Ou não.
Tempos vorazes.
Eu, espelho, não reflito nada. Só reproduzo. Produto do meu reflexo?
Às vezes, não sou o que sou, andando em círculos (viciosos), corrompido por um simples aceno de mão, um olhar, uma pequena encenação.
O reflexo não está nada bom.
O espelho quebrou o reflexo e partiu. Vários pedaços de mim. Círculo vicioso e corrompido.
O coração não bate, apanha. Sentimento barato. Um e noventa e nove. Negócio da china.
Tento, várias maneiras, com palavras, expressar o que não se expressa.
Mercenário. Vagabundo. Andarilho. Perdido.
Não espelho. Não reflexo.
Lavo minhas mãos. Acovardo.
Esconder. Disfarçar. Maquiar.
Por fim, a fuga.
Para bem longe de mim mesmo.