Assim ou ...nem tanto. 111
O Vaticínio
Causas semelhantes resultam em efeitos parecidos. É uma regra que não garanto que esteja escrita. Há muitas coisas fundamentais que aprendi fora dos livros com o viver. Olho um rosto e adivinho coisas. Não fora a minha vontade de ser honesto e seria tão bom como qualquer bruxo da cidade. Assim, fico-me pelas análises grafológicas onde dois mais dois raras vezes são quatro mas tendem, sempre, para quatro. É fácil saber que mãos calosas, gretadas, secas, maltratadas pertencem a quem mexe na terra, cuida de gado, arrosta com ventos, chuvas e frios e, ainda assim, vai pelos animais, pelas culturas, pelo futuro incerto ao fim da ciranda para ver passar as mágoas. Traja de escuro e embioca-se em xaile ou anda na aldeia a passear a ganga e as unhas polidas a fantasia? Eis dois mundos que ficam no mesmo quarteirão ao pé de qualquer serra, num vale escondido, numa aldeia a morrer de exaustão durante o tempo de estar com aqueles que voltam para o verão das festas, das procissões, das santas descabeladas carregadas de notas e ouro, do vinho a borbulhar nas malgas. E vejo. E sinto. Eu poderia saber o fim de muitas histórias. Eu sei o fim de muitas histórias. Sei, porque me dizem os teus olhos, que tens mau gosto, que darias tudo por um homem sem vintém e cheio de palavras. Sei, que tudo o que ele diz deixa marcas no teu coração e que queres em vez do molho de papoulas desmaiadas pelo calor, balouçar a tua alma nas que os teus dedos pouparam. Vem, beija-me agora. É feio fazer esperar os poetas que se amam.