O POETA E O CAMPO DE TRIGO

O POETA E O CAMPO DE TRIGO

Quinta-feira, 20/08/2015, quinze horas e quinze minutos, o Bimbo, depois explicarei de quem se trata, esteve em meu prédio, pegando o seu cunhado Farid, e a mim. Moramos no mesmo local. Iríamos ao ponto de encontro do grupo de amigos, onde estava o ônibus que nos levaria à fazenda do Duílio, situada em Botucatu. Esse passeio é tradicional, feito algumas vezes ao ano, ora nessa, como agora, ora na do Bimbo, que fica em Trabiju. Ambos, municípios do interior de São Paulo. O grupo, formado por velhos amigos, coisa de mais de 60 anos, sócios e simpatizantes do Clube Pan WD, bem conhecido em Santo André pelo nome de Panelinha. No veículo estávamos em dezesseis. De início, o Rodoanel Mário Covas, grande obra do governo paulista, até alcançar a Rodovia Castelo Branco. Esta, reputo, como uma das mais belas entre as magníficas rodovias paulistas. Não tem significativos relevos, mais parecendo um tapete, com raras subidas, dando oportunidade ao viajante, principalmente o que o faz de ônibus, de se deslumbrar com a maravilhosa paisagem que lhe é oferecida. Apesar de estarmos num período de seca, quando o verde fica algo descorado, o interior de São Paulo é quase, senão todo, tomado por plantações, sejam laranjais, canaviais, cafezais, e outros tipos de cultura. Uma demonstração de riqueza do estado! Fez me lembrar da diferença entre a que vi, há já um bom tempo, indo ao pantanal mato-grossense: centenas de quilômetros sem sequer um canteiro plantado. Há algum tempo. Hoje não sei como está.

E nossos olhos, privilegiados, alcançando um horizonte de beleza a perder de vista. Depois, já noite, perto do destino, uns dez quilômetros de terra. Chegamos logo depois das vinte horas.

Uma recepção agradável, e o Duílio, como sempre, fazendo de tudo para que nos sentíssemos em casa. Frio intenso. A fazenda é deslumbrante. Beleza cinematográfica.

No dia seguinte, ainda deveria chegar mais outro tanto de amigos, vindo de automóvel.

A nossa estada se desenvolve com as refeições café-da-manhã, almoço e jantar, todas entremeadas por muita conversa. Alguns praticam seus esportes favoritos, como o tênis, a bocha, outros a caminhada, a corrida, a pesca, e os mais arrojados, em vista do frio, a natação. Se bem que, após as 10 horas, o sol começa a esquentar o ambiente.

É claro que, num evento dessa natureza, sempre há um consumo maior de bebida. Nada, porém, que fuja à normalidade. Nosso pessoal é bem comedido. Lembro-me de que, antigamente, não era assim; quando começamos esse tipo de programa, bem mais jovens, lá pelos idos de 1985, o consumo de cerveja, principalmente, era alto. Sempre havia necessidade de um reforço, na cidade mais próxima.

Normalmente, a ida à Fazenda Eldorado, esse seu nome, ocorre em fins de agosto, para comemorar o aniversário do anfitrião. Por isso, sempre na sexta-feira, ele convida um grupo de músicos da região, alguns profissionais, para um show. São excelentes. Nessa ocasião, aparecem, também, políticos, inclusive o prefeito de Pratânia, cidade próxima. O Duílio, diga-se, foi deputado federal, daí essas presenças. A comemoração só termina de madrugada.

Sobre o Bimbo, apelido do Rubens Awada, ele prefere que assim o chame. Trata-se do decano da turma. Médico, possuidor de cultura invejável, excelente garfo, geralmente é a figura central de todas as rodas de conversa. Um senso de humor finíssimo. Impossível ficar sem dar boas gargalhadas diante de suas histórias. Como anfitrião, em sua bela fazenda Pedra Branca, em Trabiju, é impecável.

Num lugar tão aprazível, as conversas convergem em torno, na maioria delas, de fatos pitorescos ocorridos nos tempos em que éramos jovens; os namoros, as festinhas, as brigas, as aventuras acontecidas em jornadas esportivas, principalmente nos Jogos Abertos do Interior paulista, em que muitos de nós participávamos. Boas reminiscências. Outras inspiravam até, momentos poéticos, verdadeiros saraus, como a que o amigo Newton Porchia, médico, nos contou de seu tempo de acadêmico na Escola Paulista de Medicina. De onde nos encontrávamos, à beira da piscina, a visão do balançar das copas dos eucaliptos, em movimento cadenciado, iguais às olas, ondas formadas pelas torcidas em competições esportivas, o fez recordar-se da aula do seu mestre, Prof. Mangabeira Albernaz, sobre o ouvido. “O ouvido”, dizia o professor, “é possuidor de um sem número de pelos que, quando movidos por um som, provocam ondas”. E, em tom poético, do alto da cátedra, como que num sarau, declamava:

“...ondas suaves que o vento provoca no campo,

delicadamente, em leve sopro,

dobrando as ramas de trigo”.

No domingo, logo após o almoço, a volta à realidade!

Aristeu Fatal
Enviado por Aristeu Fatal em 26/09/2017
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