Cucurucho
     
          O dia estava pra lá de quente, a praia lotada de banhistas e muitos turistas , como sempre naquela época do ano, e nós já estavamos acostumados com aquela movimentação toda, pois morávamos exatamente por ali.
          Meus pais pararam na frente do carrinho de "helados", e de cara lhe pedi um "corte" ( um sorvete quadrado, com dois bijus feito um sanduiche), no que a minha mãe já ralhou, e disse firme : "No Pepito, que sea un cucurucho !" (Casquinha).  Bem, ela sabia a melequeira que era um "corte" para um garotinho de seis anos,  lambuzava  a cara , os braços, o peito e até os pés...depois teria que me levar até o mar e me limpar, no meio daquela "muvuca" toda. Se eu fosse sozinho, certamente me perderia, ficaria chorando procurando por eles, ou talvez não, eu costumava me distrair com enorme facilidade e tinha um senso de "independência respeitável" para a minha idade.
           Quando pedíamos um "polo", era um alívio para ela, pois é um tipo de picolé, no formato de cone truncado, e me lembro que eu gostava muito do "verde", que era bem refrescante, tinha sabor de menta.  Meu pai não se importava, às vezes sozinho, ele me comprava o tal do "corte", mesmo sabendo que eu poderia me tornar o monstro do pântano, de tanta meleca, e depois se entendia com a minha mãe , que era bem brava.
             Naquela época não se vendiam tantas coisas na praia, só refrescos e sorvetes,  o demais levávamos de casa, na cesta de vime, até água nas garrafas, e quando a praia estava mais tranquila, os meus pais nadavam até se perderem  no mar, eles conheciam aquelas águas desde que nasceram, não havia perigo.
             Esta é uma lembrança boa que guardo deles, ainda no sul da Espanha, um relicário com gosto de chocolate gelado.

 
Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 26/09/2017
Reeditado em 26/09/2017
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