Prelúdio
Era um homem de idade, quase ali nos seus 70 anos. Obteve seus bens pelo esforço. Seu dia a dia era regrado, sua infância e adolescência foram duros, sabe se lá o que passou, evitava dizer a respeito. Acredito que isso demostra que o afetou profundamente, pobre.
Já aposentado, na sua monótona vida, isso, claro, não o incomodava. Seu único sufrágio era andar pelas ruas, andava como se fosse libertador. Numa súbito inconveniência, o Sr. Adalberto decidiu tomar um café em uma padária. Meio copo, entornou rapidamente. Logo ao sair, um homem se aproxima e puxou assunto, falou sobre várias inclusive. Entre a maioria eram assunto que ocasionavam a morte. Sua resposta eram curtas: trágico, lamentável, ou apenas um balançar negativo da cabeça. O homem, em um cansaço de assuntos, com um sorriso de quem percebe que incomoda, da o seu adeus e sai.
Sr. Adalberto pausa um pouco e ficou recordando um pouco os assuntos, depois de um tempo volta para suas caminhadas.
Pensamento
Aquele assunto o domou, pouco a pouco, foi tomando mais parte do seu dia, da suas semanas. Passou a se alimentar mal. O que não tinha envelhecido na vida, envelheceu depois daquela conversa. Em casa, atormentado, decide sair para caminhar, tentar espraiar. Nas suas desilusões, acaba que no acaso encontrou o homem da tal conversa. Seu Adalberto, sem pensar duas vezes, o parou quase que o encurralando, soltou toda sua ânsia:
Por que me amaldiçoou homem? Agora isso não sai da minha cabeça. O homem assustado, sem saber com o quem falava, apenas perguntava balbuciando: quem es tu? Não te fiz nada. Em um deslize de Adalberto, o homem foge. Enfurecido e frustado, ele resolve voltar a andar, passa a observar as pessoas e suas atitudes. Passou a pensar na vida, no passado. Andou, andou e andou, acabando em parar em um cemitério. Pensou:
Isso me persegue.
Cova
Era de tarde, resolveu entrar. Caminhando e refletindo, viu um caixão aberto, não tinha ninguém por perto, foi sorrateiro e entrou e se deitou. Se sentiu um tanto quanto miúdo. Saiu de lá, foi para sua casa, meio tremulo, pegou um papel e uma caneta e começou a escrever. Após termina-la, sentou no sofá, e num sufrágio, morre. Em alguns dias, os vizinhos sentiram o mal cheiro e chamaram a policia. Ao entrar na casa, o Sr. Adalberto estava sereno, com um leve sorriso, aqueles que damos quando temos razão ou quando entendemos algo. Na mesa o papel e o texto.
Ultimas palavras
Não aceito ilusões.
O axioma do homem perfeito pode beirar ao erro, pois se rejeita a incógnita: somos humanos. Negligência o obvio. Nos suprimos o homem por um bem maior. Mas que bem é esse? Afinal, porque negamo-nos? Nos cancelamos em todo remetente, nosso epitáfio é o vinho que não tomamos, o beijo de resguardo, o amor ressentido. E o amor? Como podemos inventar tanta miragem que o aluda. Nem quero mais pensar nisso.
Meu epitáfio nega a vida, como pode então me representar na morte?
Como posso então ver vida?
Isso me consome. Eu que estava na meia xícara de café, sem perceber, tomei quase um jarro. Eu que não sou de fumar, fumei dois charutos. Tinha comprado-os a tempo e deixei cair em esquecimento, estavam péssimos inclusive, mas coube ao momento. Eu que não sou de beber muito, já se tinha ido quase duas garrafas de vinho. Eu, que sempre me precavi nos míseros detalhes, não via o medo encobertado. Eu, que sou dosado, exacerbei. Logo eu, sem perceber, fugi da vida e então, não tardiamente, ela, como vingança, escapou de mim.
Enterro
Na sua lápide deixaram a seguinte frase: a vida não é longa.
As pessoas liam, lembravam da carta deixada pelo homem, falavam baixamente entre eles: morreu depois da carta. Outros diziam: essa foi sua maldição. E ainda: seria melhor se nem tivesse pensado.