Realidade

O que é a realidade se não o ambiente externo do qual estamos sempre fugindo cada vez mais pra dentro do nosso mundinho particular parcialmente distorcido?

Todas as minhas cicatrizes são sobre as eternas cruzadas que faço entre esses dois mundos; realidade e fantasia. Melancolia e carnaval, como diz o título de um maravilhoso disco de samba do Rogério Skylab, diga-se de passagem.

Essa mesma realidade, subentendida como sinceridade, franqueza e todos os adjetivos do gênero que são colocados em um pedestal comportamental por absolutamente todas as pessoas que fogem dos mesmos, é o mundo que eu aprendi a abrigar e construir meu castelo.

E cá estou eu, encarando a radiação realística de como o mundo é longe da perspectiva não dos sonhadores, mas dos perdidos. Conquistando, aos poucos, um espaço, um cenário profissional e até, quem sabe, algum respeito. Com uma pretensão que não me cabe no peito, sim, mas quem é que vai me julgar do alto de suas selfies?

O que eu posso concluir é que a realidade tem seu glamour, os covardes é que não enxergam isso. Se o ponto de tudo é a felicidade, são doses homeopáticas que te trazem uma qualidade de vida significativa. Não se conquista uma montanha chegando no topo de carona em um helicóptero. A máxima desse prazer só faz sentido dentro da cronologia de escala-la por completo, rocha-a-rocha.

A fantasia só é mais confortável, pois ela reflete a nossa vaidade. Mas qual o valor da vaidade de uma personalidade sem expressão? Expressão essa que se adquire com a experiência sã de uma vida humilde, repleta de crises e autocrítica.

Lógico que estou sendo abrangente demais. Simplório. Generalizo pra tornar humanamente possível escrever sobre. Já as possibilidades infinitas de situações e sobre o que é a realidade e fantasia alheia, é com você, amigo. Cada um com seus demônios. E esse texto é justamente sobre encara-los.

A raiva e o rancor que eu descarrego nas minhas palavras por aqui não são resultado de uma frustração pessoal. Muito menos uma tentativa de fazer parte do jogo. E sim o resultado de uma maturidade que muitos não alcançam, de viver a extensão real dos meus desejos, sonhos e sentimentos.

Se no fim do dia você acha que a vida ainda se trata de uma competição vale tudo, mesmo que com você mesmo, não vou ter nenhum remorso em gargalhar quando essa favela de areia emocional começar a desmoronar na sociedade como já vem, de maneira epidêmica, acontecendo.

Talvez meus passatempos sejam cruéis demais. Mas é que a realidade anda meio vazia, acabo me obrigando a assistir a programação de domingo que se tornou o semblante dos que fogem eternamente de algo que nos transcende: a porra da realidade.

Raphael Barros
Enviado por Raphael Barros em 22/09/2017
Reeditado em 22/09/2017
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