Sou fã das voltas que o mundo dá

“Cedo ou tarde, seremos cobrados por tudo aquilo que fizemos ou mesmo que deixamos de fazer, pelo que dissemos, pelo que criamos ou destruímos, porque ninguém consegue desviar das mudanças, das rúpturas, do novo, ao fim do dia, ao belo amanhecer, por mais que isso doa.”

Crescemos com nossos pais tentando nos ensinar, em companhia da vida, teimamos em acreditar que o tempo passa depressa, e que com esse, chegamos ao banquete das consequências e lá teremos que enfrentar algumas das nossas decisões refletidas e as de impulso também, só nos invade aquela doce certeza, tudo o que plantamos é tudo aquilo que posteriormente colheremos. Cada escolha, cada sorriso deixado de lado, cada bom dia sem resposta, cada olhar provocado e até mesmo cada beijo desejado e afogado em desejos.

Quando adolescentes, imaginamos a imortalidade, raramente projetamos a ideia de futuro, ficamos à beira do precipício, optamos pelas inconsequentes decisões, aquele sinuoso frio na barriga, as borboletas dispersas no estômago, como é doce senti-las. Sensação de liberdade, trocadas muitas vezes pela libertinagem. Decisões erradas, muitas vezes esses erros, beijam bem. Nos levam a viajar e a buscar ainda mais a adrenalina. Adultos agora, estudamos e formamos, temos a leve ideia de que amadurecemos pelos tombos acumulados e que continuamos ignorando quem estás a nosso lado, em prol de seus objetivos e metas. Parece exagerado citar porém, por muito tempo e às vezes uma vida toda, insistimos em errar e erramos outra vez, sendo, furando a fila do banco, atravessando fora da faixa de pedestres e traindo a confiança de quem estás próximos, quem amamos. Vendendo um de nossos bens maiores a nossa integridade.

Desencadeamos consequências nefastas quando deixamos o outro de lado, ações que envolvem descaso ao próximo percorre por muito tempo. Causam feridas, cicatrizes com o tempo, que se alastram pelo tempo, e não somente no outro mais no “eu” que sem notar prejudica, fere. O mal acaba por tornar-se infindo, sem limites. Não que queiramos fazer o mal, mas isso está inserido no nosso ser. Segundo Paulo no livro de Romanos no capítulo 7 deixa-nos claro isso: “19 Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço.” Por muitas vezes desconhecemos nossas atitudes maldosas e não percebemos que machucaremos o outro. Inconscientemente provocamos consequências, que nem sempre são as mais cabíveis. Plantai desrespeito da existência e dos sentimentos alheios, colherás abandono e sentimentos fúteis, daqueles que corroem toda a alma suave e sucinta.

É tão normal, o julgamento agressivo, em tons egoístas. A invisibilidade que o outro está revestido, e obviamente tudo aquilo que este venha assentir, tudo desencadeia um mar de atitudes intolerantes. Abandonamos os direitos de escolha e seguimos o que rege o social, é padronizado um deixar de olhar o próximo, a estender a mão, auxiliar a abrir a porta do carro, ofertar a vaga a um idoso, ser gentil ao despertar, seguir para o trabalho com a cabeça curvada, disposta ao celular, ao mundo tão virtual. Que a soma dos bom dias deixa de existir. Perdoem-me os egoístas de plantão. Dizem que para termos um dia mais alegre e produtivos devemos espalhar sorrisos, dispor de abraços, pelo menos oito, segundo pesquisas, e aí me conte, quantos distribuiu hoje?

Existe um êxtase conhecido como poder, dizem os mais ousados que é afrodisíaco, e nos conceitos de ser humano, é conquistado a qualquer preço, sem medir os escrúpulos, o invisível agora passa a ser utilizado como degraus, que mesmo feridos, com cicatrizes expostas, serão de grande valia. Desde dos primórdios da história, isso se repete, continuamos a errar. Sem mesmo indagar, sem medir qualquer consequência, o que interessa agora é alcançar o ápice desse êxtase. Poder almejar o tal e imensurável status. Sentir aquele deslumbre pelo caminho, poder olhar superior, desejar e enfim ter, a todo e qualquer custo, e o plantai segues.

O detalhe mais certo é que, esse poder é algo transitório, um momento estás no topo e outro voltas as origens. E sabe, esse é o porém, para chegar ao topo, as pessoas pisam, humilham e transpassam tudo e a todos. E quando cais, aí as consequências tornam-se mais pesadas que nunca. E desse recomeçar, o caminho torna-se turvo. Quem estava lá deixando os outros no modo invisível, agora carece de se refazer, encarar cada uma das consequências. Infelizmente, poderá ser tarde demais para reconstruir amizades, recuperar confianças e ainda mais intenso, reestabelecer uma dignidade esquecida e ignorada. Tão simples subir as custas dos invisíveis, o difícil mesmo é retomar ao chão.

Quando permitimos que a frieza das ambições e vaidades subam, concentramos nossa perseguição ao ápice do status, vamos dispensando amizades, carinhos, amores e carregamos o cotidiano com fardos desnecessários quase que desumanos. Aproximamos queres perigosos, falsas e inevitáveis amizades, daqueles que serão consequências das pisaduras do seu subir. Corremos um risco ainda maior e mais doloroso, de precisarmos em determinado momento daqueles conselhos, risos e amizades sinceras e ao estendermos as mãos sermos surpreendidos pelo vazio e a frieza que vem de modo desolado e avassalador. Tão decepcionante quanto cada um dos amigos verdadeiros que tornaram-se invisíveis em nosso percurso.

O papel dos pais, professores e amigos, é tentar nos ensinar, mostrar uma rota simples, com muita paciência e dedicação, direcionando para a construção de uma ética e princípios dignos, sem deixar de lado que não estamos sozinhos, ou seja, fazemos parte de um todo, e tudo precisa ser harmonizado, trabalhado em um coletivo. Felicidade solitária não é feita para ser vivenciada por muito tempo. Tudo precisa de temperança. Ainda assim, em meio a desistência, quando imaginamos que todos desistiram de nós, vem a vida linda e gentil nos ensinar algo, sem rodeios sem obviamente nos poupar de sofrimento. Cedo ou tarde seremos cobrados de cada uma de nossas atitudes, do que fizemos, deixamos de fazer, falamos, tudo aquilo que criamos ou destruímos, porque não há como fugir às consequências, às rupturas, ao novo, ao fim do dia, ao belo amanhecer, por mais que isso doa. Porque ninguém fugirá ao enfrentamento da verdade daquilo que almejou tornar-se. De tudo aquilo que és.

 
Elisa Strubb
Enviado por Elisa Strubb em 21/09/2017
Reeditado em 21/09/2017
Código do texto: T6120317
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