NOITE DE ELIMINAÇÃO
Por defeito no aparelho, que já se arrastava a algum tempo, o sinal da televisão congelou por volta dos 30 minutos do segundo tempo.
“É meu filho, vamos dormir que é melhor, amanhã trabalhamos”, disse o pai.
Inconformado, mas sabendo que com ele estava a razão, aquiesceu o filho.
No trajeto de volta, poucas palavras, quase nenhuma relacionada ao jogo. Já no ar aquela nuvem negra da eliminação.
Despediram-se e, na volta para casa, uma notificação no celular do filho: do aplicativo do futebol.
“Será?”, pensou o jovem. “Meu Deus como ia ser bom...”. Ele sabia que um gol classificava, bastava unzinho. Um pequeno, grandessíssimo milagre.
Mas não era. O aplicativo apenas anunciava o encerramento de um outro jogo, cujo resultado pouco importava.
“Talvez o jogo ainda não tenha acabado”, pensou, procurando renovar em sua mente a esperança que já abandonara seu coração.
Ligou a TV, o sinal fora restaurado. Para seu azar, em campo estava apenas o capitão de seu time, cercado por jornalistas, justificando o mau resultado e a eliminação na competição.
Embora muitas fossem as palavras e justificativas, o jovem torcedor nada ouvia. Olhou para a TV, infeliz, e desligou-a pouco depois.
Guardou sua camisa, importante que só ela.
Escovou os dentes.
Aninhou-se na sua cama com cuidado, para não acordar a esposa.
E murmurou:
“Pelo amor de Deus, como que o reserva entra só pra ser expulso!!!”.