DEPOIS DOS QUARENTA, A FASE DO LIMBO
Uns dizem que a vida começa aos quarenta. Outros, que a fase dos “enta” é um caminho sem volta, pois poucas pessoas conseguem chegar aos 100 anos e quando isso acontece, a saúde e a qualidade de vida são precárias.
Eu prefiro acreditar que quarenta, cinquenta anos, é a fase do limbo. (Conforme definições do dicionário, limbo pode ser “caráter de indefinido”, “lugar intermediário entre o céu e o inferno, sem a felicidade celeste nem as penas infernais”, ou ainda “local utilizado para jogar coisas inúteis.”)
Vejamos:
Aos quarenta, você já não tem mais idade para usufruir de certos benefícios como meia entrada em shows, acesso a algumas vagas como as da área militar, que tem limite de idade. E ainda não chegou aos 60, 65, para ter direito aos benefícios do idoso.
Aos 40, 50 anos, se o cidadão perde o emprego, tem mais dificuldade em se recolocar no mercado de trabalho, mesmo se tiver qualificação e experiência. Muitas empresas dão preferência a pessoas jovens, talvez pela energia para trabalhar, talvez pelo receio dos custos com afastamentos por conta de problemas de saúde, talvez por que é mais agradável aos olhos da clientela ter um rapaz jovem e musculoso ou uma moça de pele macia e curvas sinuosas para atender do que um senhor careca e ligeiramente barrigudo ou uma senhora meio grisalha e de ar levemente abatido. E perder o emprego, na crise que o mundo inteiro enfrenta, com família pra sustentar e sem a mesma energia de vinte anos atrás, é coisa que ninguém quer.
Nessa fase da vida, a natureza também já não colabora. Nos homens, além das já citadas calvície e protuberância abdominal, o “Zezinho” também já não é mais tão saliente, às vezes necessitando de mais estímulo, ou até a ajuda dos azuizinhos vendidos em farmácias. Para as mulheres, vem as temidas estrias, as marcas da gestação e uma tendência gravitacional que puxa pra baixo, fazendo despencar partes da anatomia como seios e nádegas, que antes apontavam para o céu ou em frente.
Claro, tem como prevenir ou corrigir. Ginástica, musculação, implante nos seios, tinturas dos mais diversos tons (alguns meio bizarros) para esconder os fios grisalhos. É louvável, quase sempre é saudável, mas muitas vezes a ânsia de se manter saudável, atraente, desejável é tanta que se perdem algumas alegrias e prazeres pelo caminho.
Mas tem seus benefícios. Depois dos 40, a maioria já conseguiu se estabelecer profissionalmente, tem família formada, filhos crescidos, às vezes até netos. E para quem não formou família, há a maturidade de saber o que é certo e o que é nocivo, levando a não cometer os mesmos erros e excessos da juventude.
Por tudo isso, insisto na teoria do limbo. Nem tão pessimista pra dizer, como naquela música do Biquíni Cavadão: “Dizem que a vida começa aos 40/A minha acabou faz tempo.” Nem tão crédulo a ponto de achar que é a melhor fase da vida, por que a energia de viver e o otimismo já não são os mesmos.
Pra encerrar, com um tom menos lúgubre, deixo a frase de Quintana: “Nem todos podem estar na flor da idade, é claro! Mas cada um está na flor da sua idade.”