ZE CABRITO 02
 

     Foi passando o tempo e de tanto comadre Genoveva brigar com ele, Zé pagou o valor da consulta e lá foi ele enfrentar o doutor. Doutor não, doutora, linda que só ela, novinha, recém-formada... Não sabia nem onde estava localizado o piorrético, mas estava lá ostentando na parede o seu diploma de doutora em dermatologia, formada em medicina pelas instituições de ensino Belo Horizonte, “as mais conceituadas do país” Zé cabrito entrou meio ressabiado, era um tipo ainda bonitão nos seus cinquenta e cinco anos, cabelos castanhos bigodes bem aparados, mas vergonhoso que dava dó, ficar pelado perto de outros homens, nem pensar, quando íamos pescar acampados, ele na hora do banho procurava um lugar longe só para ninguém rir do seu pintinho.

     Dona Genoveva foi junto e na hora do cabrito entrar ela perguntou meio tímida se poderia ir junto, a mocinha doutora foi categórica, não, a senhora me desculpe, mas nós médicos perdemos a concentração no exame se houver pessoas não participativas no local de trabalho, mas não vai demorar, a senhora pode esperar aí, se quiser água à secretária pode providenciar viu? Genoveva ficou meio decepcionada, mas concordou.

     O Zé cabrito entrou de cabeça baixa e ela mandou que ele se sentasse, ele o fez e ela fez o interrogatório típico das preliminares, idade, peso, se usava remédios. Depois perguntou qual era o seu problema de saúde, ele explicou que era coceira, ela quis saber onde era a coceira e ele foi falando. Ele respondia tudo sem olhar para a médica, quando se deu por satisfeita ela o mandou levantar-se e pediu para ele mostrar a coceira, ele levantou a camisa e ela olhou as manchas, com sinais das unhas do Zé.

     Mandou-o tirar a camisa e ele meio a contra gosto obedeceu, ainda tinha um bom físico curtido na dura luta pela sobrevivência e mostrando uma cor de quem tinha muita atividade e curtia tostar-se ao sol, ela perguntou se ele frequentava praia e ele respondeu que sim, mas de maneira lacônica e sem esticar muita conversa. 

     A doutora passou bem uns cinco minutos analisando cada marquinha de micose na pele do cabrito, ele lá caladão, pouco a vontade e pensando que estava demorando muito a tal de consulta. Nisto ela falou para o desespero do Zé cabrito, - arria a calça, por favor, ele não olhou para ela, apavorado repetiu: - a calça? - É disse ela, tenho de ver até onde o senhor está infectado, - ele disse sim senhora, e desceu a calça até o quadril na altura do: “meia porção”, e parou, ela disse, - por favor, retire até os pés, ele deixou a calça cair e vermelho que nem um pimentão pensou, seja o que Deus quiser.
 
Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 20/09/2017
Reeditado em 22/09/2017
Código do texto: T6119906
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