CRÔNICA DO DIA: CONVERSA NO ÔNIBUS
Tem pessoas que tem facilidade para puxar assunto e com certeza eu não sou uma delas. Tenho dificuldades para conversar com pessoas que conheço a anos imagina os desconhecidos.
Todos os dias eu encontro quase as mesmas pessoas na parada para pegar o ônibus para ir ao serviço. Poderia sair uma amizade uma hora qualquer já que nós nos encontramos todos os dias; andamos de ônibus juntos. Nessa hora que eu percebo que não sou o único a ter este tipo de problema, sabe, com a conversa.
Mas hoje foi diferente. Um senhor, que eu ainda não sei o nome, puxou assunto comigo. Ele pega o ônibus todos os dias comigo. Até passamos a nos cumprimentar. Nós nos sentamos sempre no fundo do ônibus, para fazer bagunça¿ Não, claro que não. Sentamos lá porque sim. Porque queremos. Nós podemos escolher, quando o ônibus está vazio, claro.
Ele veio me falar que ontem me viu rindo enquanto eu estava lendo um livro. E que ficou encantado com a minha reação a leitura. Com a minha concentração na história e como eu me divertia enquanto eu lia. Respondi que gostava muito de ler e que aquilo me vazia muito bem.
Então, ele começou a falar e não parou. Me disse que a sogra e a esposa dele leem muito. A sogra um pouco mais que a esposa. E olha que a esposa dele lê muito. Mais a sogra lê mais. Ele falou lia mais quando era criança, lia gibis do pato Donald, dos Patetas. Isso lá em Uruguaiana, onde ele morava quando era criança. Mas agora não consegue se concentrar para ler. Me disse ele, segurando um jornal.
Há pouco tempo atrás ele fez até uma cirurgia no coração no hospital cardiologia aqui em Porto Alegre, ficou 45 dias internado. Nem assim ele conseguiu ler um livro. Estava admirado com o meu poder de concentração.
Até os filmes não consegue se concentrar o coitado. Esses dias ele comprou três filmes para poder ver com a esposa dele no final de semana. Um era os velozes e furiosos 8, o outro era o filme Kong e o outro não conseguiu se lembrar. Uma pena. Ele e a esposa começaram a ver o Kong, que é um filme curto, mas na metade ele pegou no sono. Não conseguiu se concentrar.
Ele tem o habito de acordar cedo, as cinco horas da manhã o despertador toca. Mas na verdade ele acorda um pouco antes, umas quatro e trinta. Às vezes até antes. Ele se levanta e faz a sua higiene pessoal (aqui gostaria de deixar claro que considerei desnecessária está parte, mas vou narrar) e vai para a cozinha preparar seu café. Ele gosta de fazer seu café da manhã.
A mulher dele reclama deste hábito de acordar cedo, já que ele faz isso até no domingo. O que convenhamos acordar ás cinco da madrugada de domingo deixa qualquer um de mal humor. Mas ele aproveita para fazer uma caminhada, começou depois da cirurgia no coração. É muito bom se exercitar faz bem para o coração. A sogra o acompanha nos exercícios. Aqui uma nota pessoal: acho que a sogra mora junto.
Eu costumo chegar sete e vinte na parada de ônibus. E ele já está lá na fila, esperando. E lendo o seu jornal. O ônibus chega sete e vinte e cinco e sai sete e meia. Nós começamos a conversa quando já estávamos dentro do ônibus. Ele uma parada antes de mim. E este trajeto leva em torno de quinze minutos.
Ele me disse isso tudo em quinze ou dezoito minutos. E eu fiquei entre: bom dia, gosto muito de ler e tenha um bom dia.