INVEJA E TRAIÇÃO. MARCOS DA HISTÓRIA.
O que é pior, a traição ou a inveja? Só existe traição se existir vínculo anterior. Não é um malfeito independente, necessita que o traído tenha confiança anterior no traidor. Um dia dele pode precisar em palavras e obras. Mas não é só ativa a traição. A traição é plural. Se faz por ação ou omissão. Se trai a confiança ou o requisito da necessária palavra de conforto e assistência presencial ou de estímulo quando faltam, como a assistência a um pai doente ou a um irmão. Nada mais deplorável e tão comum. Abel era irmão invejado, mas existem irmãos simplesmente esquecidos e abandonados, não invejados, ignorados tão só.
Mas traição e inveja são marcos da história, elas começaram com Caim e Abel. Andam juntas e se manifestam com vigor na ação e na omissão.
Caim levou mundo afora a pena de viver muito para expor seu estigma lacrado em seu corpo por Deus para expiar seu pecado, um dos maiores de todos até hoje, a inveja. A inveja carrega o amargo sabor da traição, pois vive nas sombras a espreitar um momento para trair, até pela omissão que ignora quando devia ser manifesta a palavra ou ação.
Ela por vezes está ao seu lado naqueles que seriam amigos, mas passam uma vida carregando a própria pena escolhida, expiar pela inveja essa culpa nefasta, são seus juízes e algozes pela escolha os invejosos, elegem a infelicidade alimentada pela inveja em que vivem em meio a migalhas colhidas por seus gigantescos embotamentos e péssimo caráter que todos conhecidos assim qualificam.
Sempre dependentes de algo químico ou por engenho que os tire da realidade para tentarem viver outra vida que não seja a infeliz vida pela qual se movimentam. Os invejosos são pais do egoísmo, só conhecem seus malcheirosos umbigos insignificantes e botos. São incapazes de uma palavra que anima ou vivifica o interior de outras pessoas, nada reconhecem de mérito ou de vitórias, só invejam e traem, pela omissão do silêncio, inclusive.
Trai quem falta com o socorro e a palavra que conforta para entes queridos e os abandona. Pena uma vida infeliz decorrente de seu péssimo caráter. Nada que ocorre sob o sol ficará impune.
Trai quem falta com a palavra que fortalece e enriquece, mas usa com prazer a nocividade da palavra negativa que aponta a derrota e ignora o mérito. Está vivo pela inveja que o mortifica e dilacera e morto pelo insucesso em tudo que planeja. É e sempre será um morto- vivo às voltas com suas dependências do corpo e do espírito que não cessam. Suga com droga a irrealidade em que vive para sobreviver entre as mentiras que não consegue ensombrar.
O discutido Iago, em Shakespeare, lugar-tenente de Otelo, com Rodrigo engendra meios e modos de noticiar a Brabâncio que sua filha Desdêmona tinha envolvimento íntimo com Otelo que levavam à infidelidade.
Iago enfurecido visou a desonra de Otelo que por tráfico de influência favoreceu Cássio, simples soldado florentino, elo entre Otelo e Desdêmona. Teria chegado ao lugar de tenente distante dos padrões normais dos procedimentos.
A inveja com força se apresenta no mago apreciador de almas, Shakespeare.
Iago se sentiu violentado, pois pelo costume a antiguidade devia ser observada na tradição. Nunca por trocas e favores. E o desfecho da vingança todos conhecem.
Surpreende um general como Otelo ser enredado de forma tão sutil, aceitando de pronto e sem provas mínimas a decantada infidelidade calcada em um lenço principalmente.
São assim traição e inveja, que invejosos levam pela vida e incorporam na traição por ação e omissão, mas invejosos e traidores em suas inúmeras facetas serão infelizes nesta vida e na vida anímica. Não verão a luz. Se traíram quando deviam ser presença e palavra, e se ausentaram, e calaram, não verão a luz da verdadeira vida espiritual como não puderam ver a luz do sol nas poucas vezes vista na passagem terrena e sentiram o que seja felicidade.