Leitores do Mundo, Uni-vos!

O apocalipse chegou e quase ninguém percebeu. Não veio por bombas, nem dilúvios, mas sim por um aparelho eletrônico aparentemente inofensivo. Tal dispositivo mede uns pouco centímetros e pesa algumas gramas, mas está escravizando à todos. Suas telas luminosas exibem imagens de outras pessoas, que também estão refém desses aparelhos.

Andando pelas ruas, podemos ver os transeuntes carregando os seus próprios algozes. Com os dois braços levantados, como se estivessem presos por algemas, erguendo seus aparelhos a poucos centímetros de seus olhos. Mal prestam atenção na rua. Acham que estão levando seus celulares, quando na verdade, eles é que estão os levando (direto ao abismo).

Todos tem o celular como seus melhores amigos. Passam à repudiar a companhia de outro ser humano, preferindo á do velho companheiro eletrônico. A interação humana vai se extinguindo, os ciclos sociais vão diminuindo e os amigos virtuais vão aumentando.

Ocorre a regressão do Homo Sapiens. A postura ereta, que o diferenciava dos outros animais, vai dando lugar à postura curvada, os braços erguidos, as mãos postas, os dedos clicantes, aos olhos que quase já não enxergam.

Pior do que os malefícios físicos, são os efeitos psicológicos. O celular vai roendo o cérebro das pessoas, até o ponto em que passam a desenvolver um apetite voraz por Stories do Instagram, vídeos idiotas no YouTube e grupos de WhatsApp. Tentam preencher suas cabeças vazias com conteúdos ainda mais vazios.

Entretanto, ainda resta uma esperança. Certo dia, em um ponto de ônibus, em meio aos zumbis tecnológicos, retirei da minha mochila o meio de comunicação que, apesar de não ser tão viciante, é o melhor que já existiu: um livro. Um livro preto de capa dura. Abro-o diante de meus olhos e começo a ler, folheando-o ao virar as páginas.

As pessoas ao redor retiram por um instante a vista do celular, e me fitam com uma expressão desconfiada. Me julgam como um maluco, como uma pessoa atrasada, que ainda é capaz de se divertir com um objeto do século passado. Não conseguem acreditar que uma pessoa faça, por opção, algo que elas só fazem quando são “obrigados”. Ás vezes nem assim, pois preferem pesquisar o resumo do livro na internet.

Logo voltam à tranquilidade das telas de seus celulares. Continuam clicando nas notificações, curtindo as fotos dos outros usuários, digitando mensagens... Então, de repente, algo perturba o seu sossego delas. “Cheeeck” Olham na direção do barulho. “Ah, é só o maluco virando a página do livro” pensam.

Era eu virando a página. Minha mente vaga por lugares longínquos, levada pelo narrador da história. Mesmo assim, consigo prestar atenção nos olhares desconfiados ao redor. Creio que, nesse dia, umas ou duas pessoas tiraram fotos de minha pessoa segurando o livro, como se eu fosse uma peça de museu.

Novamente eu virava a página e as pessoas olhavam, irritadas. Talvez se lembravam de tempos bem distantes, em que mergulharam na leitura de um ou outro livro. “Esse cara só pode estar fingindo. Ninguém lê mais tanto assim, hoje em dia” O cara ao meu lado pensou. Mas o tempo em que fiquei ali lendo, ele ficou grudado ao celular.

Pouco depois, chegou um ônibus, que ainda não era o meu. As pessoas embarcaram e fiquei sozinho ali. Todos seguiram suas vidas, indo para onde o celular as levassem, que, em um futuro bem próximo, seria direto ao abismo.

Na verdade, me engano. Nem todas terão esse trágico fim. Naquele dia, eu acabei causando um desequilíbrio em suas vidas. Algumas irão se esquecer, e continuarão seguindo em direção ao declínio. Mas outras tentarão se libertar. Tentarão arrebentar os grilhões do aparelho celular e buscar nos livros a salvação de suas vidas. A chave da liberdade que esteve a tanto tempo bem diante de seus olhos. Outras seguirão seus exemplos e também se libertarão.

Em verdade, afirmo: nós, leitores, somos o futuro!

Leitores de todo o mundo, uni-vos!

(...)

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