Herança tradicionalista
O tradicionalismo do Rio Grande do Sul é um dos movimentos mais bonitos do folclore brasileiro. Não há em outro estado um movimento mais bem organizado no gênero do que o Movimento Tradicionalista Gaúcho, que hoje reúne milhares de CTGs e outros órgãos de culto as tradições históricas gauchescas e que ultrapassam as fronteiras do garrão do brasil. Tudo isso é fato.
Pode parecer contraditório quando digo que o movimento teve diversas evoluções desde sua criação encabeçada por Antônio João de Sá Siqueira, Fernando Machado Vieira, João Machado Vieira, Cilço Campos, Ciro Dias da Costa, Orlando Jorge Degrazzia, Cyro Dutra Ferreira e João Carlos Paixão Côrtes, esse último o grande patrono do tradicionalismo gaúcho, e que juntos formaram o Grupo dos 8 ou os 8 do Julinho, e que mais tarde fundariam o 35 CTG , primeiro centro tradicionalista do mundo.
Há uma briguinha bem abagualada entre o 35 e o CTG Clube Farroupilha de Ijuí pelo titulo de primeiro do estado. A verdade é que o Farroupilha já existia quando o movimento nasceu, mas não tinha as mesmas funções que têm hoje e por isso não é considerado precursor do movimento. Pelo certo já existiam diversas entidades semelhantes aos CTGs antes do 35, mas dentro do movimento esse foi o primeiro e os outros se transformaram depois para fazerem parte do movimento.
Em 1961, no CTG Fogão Gaúcho de Taquara, no 8º Congresso Tradicionalista, foi aprovada a carta de princípios do movimento, sendo essa escrita por Glaucus Saraiva, o mesmo que escreveu aquele maravilhoso poema sobre o chimarrão (Amargo doce que eu sorvo...). Essa carta deve ser lida e relida nos CTGs, pois ela representa a filosofia dos pais do tradicionalismo como conhecemos. Se você nunca leu a Carta de Princípios do MTG, você não pode ser considerado parte do movimento. Não interessa se você usa bombacha o ano inteiro, pois o tradicionalismo é muito mais uma filosofia do que uma atitude.
Há muito tenho pregado que o movimento precisa de um sopro de vida para se tornar mais forte e vibrante. Não consigo entender esse movimento se ele não for usado como agente de transformação social e cultural da nossa sociedade, por isso, ele precisa ser mais do que um clube de amigos, precisa ser um propagador da cultura rio-grandense, assim como prevê a carta.
Precisamos abrir as portas dos CTGs para que mais pessoas possam ter acesso ao movimento. Somente aumentando as fileiras do tradicionalismo é que conseguiremos fazer um movimento mais forte. O tradicionalismo precisar ser repassado a diante como uma filosofia e não como uma alternativa de lazer. Preservar a tradição e cultura de um povo é obrigação desse povo.
Primeiramente entendo (isso tudo é minha opinião) que precisamos fazer com que as novas gerações aprendam o tradicionalismo como filosofia, pois só assim deixaremos de ter guris e gurias que se reúnem para dançar e laçar e passaremos a ter tradicionalistas. Segundo, é mais do que necessário que passamos a valorizar os departamentos de culturas dos CTGs, (coisa que não acontece na maioria das vezes), abrindo espaço para que esse seja ocupado por pessoas que consigam ao menor pregar a filosofia do tradicionalismo. Precisamos compreender que esse é o principal departamento de uma entidade tradicionalista.
É através dos departamentos artísticos e campeiros que atraímos o jovem para os CTGs, mas é através do departamento de cultura que é feito a doutrinação e repassado os ensinamentos da cultura tradicionalista, por isso é necessário que haja uma mudança de na forma com que nossos CTGs são administrados, senão, tudo que está na carta de principio não passará de lenda e metas que jamais serão atingidas.
O movimento tradicionalista gaúcho nasceu para ser um patrimônio gaúcho, de todo o gaúcho, e uma filosofia. Essa filosofia é baseada na união e na herança cultural. Só conseguiremos propagar a herança quando apreendermos a cativar o herdeiro, caso contrário, estamos fadados a ser um movimento de poucos, criado ao regalo, como alternativa de lazer para alguns poucos privilegiados.
Dar espaço cada vez mais à pluralidade social de seus ocupantes, tornar nosso movimento atrativo para os mais jovens, abrir as portas dos CTGs para a comunidade, reforçar e dar mais importância para os departamentos de cultura e pregar e ensinar aos novos e até os velhos o tradicionalismo como filosofia cultural, ao meu ver, são as únicas maneiras que temos de manter o nosso movimento como o mais belo e mais forte do Brasil.