Uma bicuda na maquininha de finalizar sonhos

Aconteceu um negócio muito esquisito. Sabe quando a gente tem vários sonhos numa mesma noite e lembra de todos? Aconteceu comigo mas, com um detalhe: os sonhos se misturaram um no outro. E por MINHA CULPA! Sim, por minha vontade.

Vou explicar: no fim do sonho, pra sinalizar que estava terminando, escurecia, igual escurece no fim do desenho animado ou no final duma cena de filme. E eu, não sei como e nem por que, sabia o que fazia escurecer o sonho, terminando-o. Era uma maquininha portátil ligada na tomada, parecida com aquelas de fazer fumaça de gelo seco. Em algum ponto da cena colocavam essa maquininha. E quando tava pra "escurecer" eu ia lá e chutava. Ela desligava (ou quebrava!), parava o escurecimento e o sonho continuava. Mas independente de claridão ou escurecimento, o sonho continuava numa outra situação e os "personagens" do(s) sonho(s) anterior(es) continuavam no sonho seguinte.

No primeiro sonho, eu brincava com um gato, jogando uma bolinha pra ele. A familiaridade era tanta que tudo indicava que o bicho era meu. O gato brincava com um ânimo e uma disposição dignos de cachorro. Começou a escurecer a tela. Incomodado, pois eu queria continuar brincando com ele, fui lá e dei uma bica na maquininha.

No segundo sonho eu era dono de um bar. Ou ao menos trabalhava em um, porque estava atrás do balcão pondo uma pinga no copo para um sujeito que já não estava muito dono de suas propriedades equilibristas. O gato me fazia companhia em cima do balcão. Depois de virar o copo, pôs de volta e pediu mais uma. Virei pra pegar a garrafa e quando me voltei pra servir ele não estava mais lá. Olhei pra porta e vi o malandro num tremendo carreirão na rua (apesar da embriaguez). Pulei o balcão e corri atrás (apesar da minha coluna), gritando pra ele voltar e pagar, xingando muito. Ele às vezes dava uma olhadinha pra trás e, vendo que eu ainda o perseguia, corria mais rápido. O coitado do gato corria junto comigo, sem entender bulhufas. Ia começar a escurecer. Eu, num ímpeto de não admitir que o sonho acabasse dramático daquele jeito, tomando um belo de um calote - e uma canseira - vi a maquininha de escurecer na esquina, parei um momento e mandei um chutão.

No terceiro sonho, quando eu ia continuar a correr, vi o sujeito pulando o muro de uma casa, apesar da manguaceira. Pulei atrás, apesar das costas. Ele pulou uma janela da casa e eu pulei também. E o gato junto. Era a janela do quarto e, à porta entreaberta do banheiro, uma mulher, ao celular, tremia e pedia socorro para a polícia. Pronto. Agora, de credor eu passava a ladrão. Saí pela porta da frente, abri o portão e ganhei a rua, correndo como nunca corri na vida (real). Olhei pra trás e tinha uma viatura da PM bem atrás. Santa Mãe de Deus... foi o momento mais assustador desta coleção de sonhos emaranhados! Na direção, uma loira cinquentona, sozinha, com o dedo em riste me mandando parar. A loira era a delegada. Eu não conhecia, nunca tinha visto a mulher, não sabia qual era aquela cidade em que acontecia o sonho, mas tinha certeza que aquela era a delegada e ela própria se encarregava em dirigir e ir atrás dos meliantes. O gato comigo, com aquela cara de quem não estava gostando nada da empreitada e eu pensando como livrá-lo daquela encrenca, seja fazendo-escapar, seja implorando ao advogado para convencer a justiça de que animais não podem ser julgados pela lei dos homens. O cara da pinga estava na minha frente, com boa distância de folga, correndo também. Ele corria de mim e eu corria da viatura, formando um trenzinho lastimável.

Foi quando vi uma maquininha de finalizar sonhos! Ajoelhei, pus as mãos em forma de reza e pedi com todas as forças de meus pulmões pra acabar aquele tropel. E a maquininha, apesar de minhas bicudas em suas irmãs, atendeu. Antes de escurecer totalmente, deu tempo de dar um tchauzinho pra delegada, que já estacionava às pressas a viatura.

FIM (mesmo!)