Brasileiro
- Moça, bom dia! Que horas fecha a farmácia, hoje?
- Moço, já estamos fechando; eu, só estou aguardando meu marido...
Há um contra-senso nesta resposta. A resposta correta deveria ser: "fechamos ao meio-dia" (considerando que seja este o horário de fechamento do estabelecimento).
Não sei se por medo, ou por querer agradar o outro, o brasileiro tem mania de querer adivinhar o que seu interlocutor pensa. O brasileiro não responde o que se pergunta - talvez querendo ser extremamente empático - perde-se a oportunidade de ser um pouco mais rígido e proprietário da fala.
Vejo acontecer isso com frequência em escolas. A mãe do aluno liga, e pergunta se o filho está na escola... se ele chegou bem, etc. A mãe não quer saber se a secretária está ocupada; se ela terá que subir três andares para procurar o filho; se vai atrapalhar a aula do professor; se terá que ir na quadra de esportes, que fica há 300 metros, para encontrar o aluno, etc. Não!!!! Nada disso passa na cabeça da mãe. Apenas e tão somente a vontade imperiosa de ordenar!
A secretária - receosa de a mãe não ser satisfeita no seu desejo de verificar se o filho está na escola, ou mais amedrontada ainda com o fato de que se ela não realizar o "pedido" da mãe, poderá, ela própria, ser demitida, imediatamente larga seus afazeres e vai atrás do aluno.
Quando, na verdade, a mãe deveria ter ciência se o filho está na escola, afinal, ela o deixou na portaria. Então, porque perguntar? Ora, porque ela não é somente mãe; ela é cliente, de classe média, e acha que a secretariazinha tem que cumprir sua ordem.
Às vezes, a cordialidade do brasileiro, em querer agradar o outro, esconde um profundo sentimento de insegurança. Insegurança financeira, pois é comum os empregadores agirem com agressividade com seus funcionários, podendo-lhes demitir com facilidade e uma insegurança social, em que as discrepâncias de classe, neste país são espantosas acuando as pessoas mais simples.