A Gente Bem Que Tentou...
Os dias não eram mais os mesmos. Eles estavam lá, mas conseguiam não estar. As mãos, elas já não suavam mais, e o tempo, aquele tempo que antes parecia voar quando estavam juntos um do outro, esse tempo parecia se arrastar. Parecia simplesmente passar, simplesmente correr sem grandes méritos ou emoções.
Eles bem que tentaram. Sério! Eles tentaram! Talvez ele um pouco mais, insistindo, acreditando e tentando fazer com que a história se reacendesse. Ele tentando mostrar que existia a possibilidade, que o amor é um combustível fóssil, totalmente orgânico, resultado de muitas reações químicas em nosso corpo, e que só precisava ser manuseado da forma correta para reacender, assim tornando novamente tudo mais belo, e com aquela sensação de novo. De correto. De interminável.
Enquanto tentava, ele apenas observava nas ruas os casais. Aqueles casais felizes, e tentava adivinhar há quanto tempo eles estavam juntos. Aqueles casais que se beijavam apaixonados na esquina, ou na porta de um condomínio. Aqueles casais que faziam das despedidas verdadeiras lamúrias e dramas dignos de Oscars ou, sei lá, de se tornarem novelas mexicanas que serão exibidas constantemente nas tardes da semana, pelo SBT. Aqueles beijos intermináveis, que quando um vai embora, o outro já puxa pelas mãos, e mais outras vezes mais se beijam. Ele observava. Lembrava-se de todo o começo. Aquele formigamento na garganta, a barriga roncando, e os lábios secos de nervoso, até que... Até que ela aparecia, e o dia ganhava cor e som. Magistralmente.
Eles bem que tentaram. Ela sentia falta dele. Ele a fazia bem. Os risos eram espontâneos e doces, Às vezes, escandalosos. As suas mãos não suavam mais, contudo, a temível sensação de que aquele amor e carinho dele pudessem um dia se esvair pelo ralo, e acabar sendo colhido por outro alguém, à faziam o querer por perto. Ele era seu relaxante muscular. Ele era o seu antidepressivo. Alguém com quem ela sabia que podia contar nas piores horas. Aquele alguém que ela sabia que pararia o mundo para socorrê-la aonde quer que estivesse. Onde quer que fosse. Onde quer que ela o chamasse. Ela queria tentar, porém, tinha medo. Os fantasmas de uma história conturbada estavam sempre por ali, no percalço, sobre seus ombros cansados das brigas e das dúvidas sobre qual rumo seguir.
Mas um dia. Alguém deixou de tentar. O “bom dia” não veio. O “até logo” nunca chegou. Alguém esqueceu de voltar e dizer que estava bem, ou de perguntar como havia sido o dia. Em algum momento, alguém parou de tentar. Alguém, ainda que involuntariamente, e com a vontade de falar ou chamar com um “oi”, ali, perturbando o juízo, não quis se reaproximar. E todos aqueles dias juntos. Todas as tentativas de reacender a brasa, de tentar fazer com que algum tipo de alquimista revivesse aquele amor, foram assim diluindo-se. Foram assim apagando-se.
E então, tentar deixou de ser o verbo. Pois agora pareciam estranhos. Pois agora, eles não eram mais um casal de duas pessoas que eram uma só.