APRENDENDO COM OS ERROS ("Manipulação Não Existe, O Que Realmente Existe É A Incapacidade Do Outro De Não Visualizar O Outro Lado" (Welton Barbosa)

Naquela manhã de outono, enquanto caminhava pelos corredores da escola onde leciono há mais de duas décadas, fui atingido por uma epifania. O burburinho dos alunos, as paredes decoradas com trabalhos coloridos e o cheiro de tinta no ar pareciam contar uma história diferente da que eu costumava ouvir. Parei diante do mural de avisos, onde um cartaz anunciava mais um curso de capacitação para professores. Suspirei, pensando em quantos desses já havia feito ao longo dos anos. Foi então que me perguntei: estamos realmente atacando o cerne da questão?

As palavras do mestre Juan Matus ecoaram em minha mente: "Esteja alerta a cada segundo. Não permita que nada nem ninguém decida por você." Percebi que, em nossa ânsia de melhorar os índices educacionais, talvez estivéssemos perdendo de vista o verdadeiro propósito da educação. O aprendizado, ou a falta dele, muitas vezes caminha em círculos, sempre em busca de respostas para erros que já conhecemos bem, mas que insistimos em repetir.

Enquanto observava os alunos passando, cada um com seu mundo particular de sonhos e aspirações, refleti sobre a complexidade do processo de aprendizagem. Não é algo que possamos forçar ou impor. É uma dança delicada entre o consciente e o inconsciente, entre o desejo de saber e a resistência ao desconhecido. Recordei-me de uma aluna, Mariana, que certa vez me disse: "Professor, por que devo aprender isso se posso ser famosa no TikTok?" Sua pergunta me atingiu como um raio. Como competir com uma realidade onde o sucesso imediato parece mais atraente que o conhecimento?

Caminhei até minha sala de aula, os passos pesados de quem carrega o peso da responsabilidade. Ao entrar, vi os rostos expectantes dos meus alunos. Naquele momento, entendi que meu papel não era convencê-los, como bem disse Saramago, mas sim inspirá-los a querer aprender por conta própria. "Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito," suas palavras ressoavam em minha mente.

Iniciei a aula de forma diferente naquele dia. Em vez de seguir o plano, perguntei: "O que vocês realmente querem aprender hoje?" O silêncio inicial foi quebrado por uma onda de ideias e curiosidades. Percebi que o verdadeiro desafio não era ensinar, mas despertar o desejo de aprender. A frustração de explicações mal compreendidas deu lugar à reflexão: "Sou responsável pelo que digo, mas não pelo que você entende," como dizia Anaïs Nin.

A Secretaria de Educação, perdida em números e metas, promove capacitações como se o fracasso escolar estivesse nas mãos apenas dos professores. Quando o foco deveria ser a construção de uma motivação interna, capaz de despertar neles a curiosidade e o desejo de saber, estamos mais preocupados com índices. E o mercado, claro, ri da nossa ingenuidade, enquanto esportistas, músicos e políticos prosperam, sem precisarem de diplomas que justificam suas habilidades.

Ao fim do dia, enquanto arrumava minhas coisas para ir embora, senti uma mistura de esperança e apreensão. A educação, percebi, é um campo minado de contradições. Queremos que nossos alunos pensem por si mesmos, mas muitas vezes os sufocamos com nossas expectativas. Talvez seja culpa nossa. Afinal, o ensinar muitas vezes é inconsciente. Estamos tão ocupados em fingir que estamos "elaborando" que esquecemos de nos perguntar se realmente estamos sendo vistos.

Saí da escola naquela tarde com uma nova perspectiva. A verdadeira mudança na educação não virá de cima para baixo, mas de dentro para fora. Não podemos controlar o que nossos alunos aprendem, mas podemos criar um ambiente onde o aprendizado seja uma aventura emocionante, não uma obrigação tediosa. A escola vive na ilusão de que todos querem o que ela oferece, mas a realidade é mais complexa. As portas do sucesso, muitas vezes, não se abrem com o que oferecemos em nossas salas de aula.

Enquanto caminhava para casa, as palavras de Anaïs Nin ecoavam em minha mente: "A origem da mentira está na imagem idealizada que temos de nós próprios e que desejamos impor aos outros." Prometi a mim mesmo que, a partir daquele dia, buscaria a verdade na educação, não a perfeição.

A noite caía, e com ela, a certeza de que o amanhã traria novos desafios. Mas agora, eu estava pronto para enfrentá-los com um novo olhar. Afinal, como educadores, nossa maior lição talvez seja aprender a aprender, todos os dias, com cada aluno que cruza nosso caminho. No fim, não posso deixar de pensar que, em meio a tantos desafios, é preciso continuar tentando. Porque, no fundo, quem decide o que aprender – e como viver – são eles. E talvez esse seja o maior aprendizado que possamos proporcionar.

Com base no texto apresentado, proponho as seguintes questões para discussão:

O autor expressa uma profunda insatisfação com o sistema educacional tradicional. Quais são as principais críticas apresentadas por ele e quais as alternativas que ele sugere?

A relação entre professor e aluno é central no texto. Como o professor pode criar um ambiente de aprendizagem que estimule a autonomia e a curiosidade dos alunos?

O texto questiona a eficácia dos cursos de capacitação para professores. Qual a importância da formação continuada e como ela pode ser mais eficaz para melhorar a qualidade do ensino?

A influência da cultura popular, como as redes sociais, é mencionada como um desafio para a educação tradicional. Como a escola pode competir com a atratividade da cultura popular e tornar o aprendizado mais relevante para os alunos?

O texto destaca a importância da motivação intrínseca para o aprendizado. Como podemos despertar a curiosidade e o desejo de aprender nos alunos?