A MULHER NO MUSEU
Uma lembrança deliciosa de viagem que tenho é a das mulheres que vi no Museu de Arte Moderna de Nova York. Elas me fizeram fantasiar sobre uma categoria especial de mulheres: as que vão a museus. Evidentemente, as mulheres que vão a museus são diferentes das mulheres que vão a shopping centers ou que deixam os filhos na escola. Embora, em muitos casos, sejam as mesmas mulheres. Porque‚ também é evidente que uma mulher não deixa de ir a shoppings ou levar os filhos ao colégio apenas porque vai a museus.
O fato é que a mulher no museu é outra mulher. Assim como a figura humana e as situações nos quadros não reproduzem fielmente a vida real, pelo menos em se tratando de arte moderna. No museu, a mulher não precisa estar impecável em roupa-cabelo-pintura. Não precisa ser a rainha do lar, nem a boneca de luxo, nem a fêmea no templo do consumo. O despojamento é o mesmo dos retratos de Picasso. Talvez, por inconsciente impulso imitativo, a mulher reproduza, ou recrie, algo das poses das modelos que admira nas telas. Seria então a mulher no museu nova e ambulante pintura ditada remotamente por Matisses e Modglianes?
Despojada das máscaras da alta costura e do pret-a-porter, arrancada do pedestal onde a haviam instalado os poetas românticos, nem por isso a mulher no museu é menos desejável.
O corpo adquire uma outra postura e eu fico a imaginar que influência o espírito pode exercer sobre os contornos da sensualidade. No museu, como nos quadros, a mulher é desejável pela soma ou pelo detalhe; e a perfeição lhe é reconhecida por quem pinta ou vê, independentemente de medidas. O museu, por isso, é o avesso da academia de ginástica, onde, mesmo se aproximando do ideal, a mulher se vê sempre aquém do que lhe exigem. E, agindo assim, busca a beleza absolutamente proporcional e sem mistérios. Na maioria dos casos, torna o imperfeito, segundo essa ou aquela estética, esforçada tentativa de perfeição, o que tende a parecer ridículo. Olhando-se no espelho das imagens que não envelhecem, a mulher realiza um dos seus sonhos mais caros: o de ser medida apenas pelo impreciso senso da arte.