SOBRE VERGONHA E CENSURA - sobre o ocorrido na Exposição Queer Museu

Dizem que um cara falou demais desafiando a ordem que funcionava 'muito bem' assegurada pelo medo e pela força da violência.

A ordem estabelecia, num mundo de miséria, a opressão da lei eficiente que fazia da corrupção um bom negócio. Todos se vendiam por um preço a ser combinado.

O cara que falou demais pregou o amor e a paz entre os homens e foi torturado. Foi chicoteado quase até a morte e pregado numa cruz ainda consciente de ter feito a coisa certa. A cruz era o recado, um recado também muito eficiente, da necessidade de calar quem pensasse, quem falasse, que tivesse no amor esperança de mudança.

Mas os torturadores, homens de boa fé no sistema, fizeram uma coisa inusitada e importante pensando no bem geral das consciências ingênuas diariamente esmagadas pelo sistema: cobriram o penes, o pinto, com um pano de algodão para que quem assistisse ao espetáculo da crucificação não se escandalizasse. Imaginem o escândalo que seria o falo a mostra?

Assim é que, de alma lavada e boca calada, todos que assistiram a cena mórbida, e aqueles que depois a retrataram exaustivamente para a posteridade da lição, nunca deixaram de exaltar a dor e o sangue em detrimento da suposta vergonha encoberta.

Quanto à mim, queria ser como o sábio alfinete de Machado de Assis no apólogo da linha e da agulha, mas onde me espetam não fico mudo.

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Baltazar

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O texto acima reflete sobre o ocorrido na Exposição Queer Museu.

Para saber mais leia: https://brasil.elpais.com/.../1505164425_555164.html..

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 13/09/2017
Código do texto: T6113217
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