Garrafa

Abri os olhos e tudo me veio a mente. Junto aos dilemas morais, vieram também os efeitos biológicos de uma noite de bebedeira.

A cabeça latejando, o corpo caído em uma cama dura, um faixo de luz queimando meu rosto, memórias soprando meus ouvidos. Como isso aconteceu?

Um sintoma em especial se destacava dos demais: sede. Queria água. Gelada. Em Litros, de preferência. E ali estava ela. Branquinha, suada, me dando maior mole. Uma garrafa d'água.

Parecia um milagre. Tudo que eu precisava naquele momento e que não estava degraus abaixo de distância.

Mas mesmo diante da minha necessidade, ficar de pé me parecia um preço caro a se pagar. Despertar da minha incapacidade mecânica ou me confortar na mesma?

Parei, pensei, filosofei... Decisões são sempre difíceis mesmo quando tudo parece tão óbvio.

Segui meu coração (como sempre sugerem) e encarei o passo da morte. A perna formigava. Minha força estava concentrada em me manter acordado, e apenas isso. Mas aquela água gostosa não saía da minha cabeça. E lá estava eu, de pé, a um passo da glória.

Estiquei meu braço em sua direção. Ela até brilhava com a luz da manhã (ou seria da tarde?) que entrava através da cortina.

Finalmente pude colocar a mão naquela danadinha que me assistia dormir (ou morrer). A peguei com tanta felicidade que não deu tempo de perceber o que acontecera. Como pode? Depois de tanta luta e questionamento? Não acreditei que isso pode acontecer também nas camadas mais superficiais da vida.

A garrafa estava vazia!

Raphael Barros
Enviado por Raphael Barros em 13/09/2017
Reeditado em 13/09/2017
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