Ilustração: Eu e a bicicleta Patavium, num desfile de Sete de Setembro, anos 1960
MEMÓRIAS FAMILIARES - O MENINO DA BICLETA
Apresentação
[Num desfile de Sete de Setembro]: E não deu outra: na hora da saída vi que o pneu traseiro da Patavium havia furado. O que fazer? Outro vexame: participei de todo o desfile empurrando aquele estrupício de bicicleta, que montar não podia, enquanto os demais alunos, em bicicletas apropriadas para crianças, desfilavam garbosos, sobranceiros...
[Eu e Evandro Bacha atrás das meninas veranistas do Hotel Rezende]: pois que [elas] costumavam fazer longos passeios a cavalo pelos arredores de Aguinhas e eu e o Evandro, corda e caçamba, pedalando atrás, ele na Philips da farmácia, eu na velha Patavium imortal.
Reprodução: Antiga bomba de Flit (Fonte: Enciclopédia Nordeste)
Essas bicicletas [Philips/Patavium] eram daquelas que não estavam no gibi, porém, com tanto uso, em três tempos ficavam em pandarecos. E, como eram instrumentos vitais para a minha sobrevivência e a do Evandro, baixavam à oficina — que montamos na despensa da casa da dona Catarina — onde recebiam cuidados especiais: eram lavadas, engraxadas, enfeitadas e mais: vez ou outra eram completamente desmontadas e pintadas por nós mesmos, com bomba de Flit e tinta a óleo diluída com aguarrás. E assim recebiam cores diferentes, desenhos, frisos, decalques, muqueiras, selins, espelhinhos retrovisores, fitilhas nas raias e outros enfeites que comprávamos na bicicletaria do seu Zezinho Ferreira. Mais à frente, o Evandro acabou ganhando uma Monark pneu balão. A velha Patavium sueca durou até acabar, mas aí eu já não mais andava de bicicleta.
Ditinho Mendes na velha Philips da Farmácia, usada pelo Evandro Bacha
[Eu e Evandro Bacha] Trepados na imbatível dupla Philips/Patavium, andávamos por meia Aguinhas à cata de maços de cigarros e caixas de fósforos.
Eu estava ajudando e aprendendo na farmácia, quando o tio João disse: — Pega a Patavium do seu pai e vamos me ajudar num caso lá da Vila Nova. Trepei na magrela e acompanhei o tio João que seguia à frente levando uma caixinha de primeiros socorros e a seringa de injeção.
A indestrutível bicleta Patavium
O menino da bicicleta será o GUIMA, o menino-serelepe?
Vocabulário de Aguinhas [*]
- Corda e caçamba: Expressão que designa as pessoas que fazem tudo juntas. Refere-se à corda e à vasilha com que se tira água do poço.
- Dia de saco: Dia de sábado. [Costume do interior: Dia de sair da venda com o saco de compras da semana.]
- Em pandarecos: Em pedaços, destruído, acabado.
- Em três tempos: rapidamente
- Estrupício: Coisa esquisita, despropositada, fora do comum. Estrovenga.
- Magrela: bicicleta [gíria)
- Não estar no gibi: Ser fora do comum, ser inacreditável.
MEMÓRIAS FAMILIARES - O MENINO DA BICLETA
- Apresentação
- A indestrutível bicicleta Patavium
- O menino da bicicleta será o GUIMA, o menino-serelepe?
- Vocabulário de Aguinhas
- Referência
- A indestrutível bicicleta Patavium
- O menino da bicicleta será o GUIMA, o menino-serelepe?
- Vocabulário de Aguinhas
- Referência
Apresentação
Durante toda a meninice me acompanhou uma velha Patavium, a primeira e única bicicleta comprada por meu pai, e que durou até acabar...
No livro Menino-Serelepe (*), anotei diversas passagens dessa inseparável companheira:
No livro Menino-Serelepe (*), anotei diversas passagens dessa inseparável companheira:
[Um dia, meu pai] comprou a Patavium, reformou, pintou, pôs pra mim uma cadeirinha no guidom e botava a mãe na garupa e rumava da Vila Nova pro Pasto do Fubá, farol a dínamo ligado, metade do caminho empurrando a bicicleta morro acima, que em Minas não tem cidade sem ladeira. E o pai, orgulhoso da bicicleta nova, no dia de saco vinha sorridente com as compras da semana amarradas na garupa...
[No Pasto do Fubá, com 7 anos, eu aprendi a]: andar de Patavium, enganchado de lado, por sob o quadro, que as pernas eram curtas.
[No Pasto do Fubá, com 7 anos, eu aprendi a]: andar de Patavium, enganchado de lado, por sob o quadro, que as pernas eram curtas.
[Num desfile de Sete de Setembro]: E não deu outra: na hora da saída vi que o pneu traseiro da Patavium havia furado. O que fazer? Outro vexame: participei de todo o desfile empurrando aquele estrupício de bicicleta, que montar não podia, enquanto os demais alunos, em bicicletas apropriadas para crianças, desfilavam garbosos, sobranceiros...
[Eu e Evandro Bacha atrás das meninas veranistas do Hotel Rezende]: pois que [elas] costumavam fazer longos passeios a cavalo pelos arredores de Aguinhas e eu e o Evandro, corda e caçamba, pedalando atrás, ele na Philips da farmácia, eu na velha Patavium imortal.
Reprodução: Antiga bomba de Flit (Fonte: Enciclopédia Nordeste)
Essas bicicletas [Philips/Patavium] eram daquelas que não estavam no gibi, porém, com tanto uso, em três tempos ficavam em pandarecos. E, como eram instrumentos vitais para a minha sobrevivência e a do Evandro, baixavam à oficina — que montamos na despensa da casa da dona Catarina — onde recebiam cuidados especiais: eram lavadas, engraxadas, enfeitadas e mais: vez ou outra eram completamente desmontadas e pintadas por nós mesmos, com bomba de Flit e tinta a óleo diluída com aguarrás. E assim recebiam cores diferentes, desenhos, frisos, decalques, muqueiras, selins, espelhinhos retrovisores, fitilhas nas raias e outros enfeites que comprávamos na bicicletaria do seu Zezinho Ferreira. Mais à frente, o Evandro acabou ganhando uma Monark pneu balão. A velha Patavium sueca durou até acabar, mas aí eu já não mais andava de bicicleta.
Ditinho Mendes na velha Philips da Farmácia, usada pelo Evandro Bacha
[Eu e Evandro Bacha] Trepados na imbatível dupla Philips/Patavium, andávamos por meia Aguinhas à cata de maços de cigarros e caixas de fósforos.
Eu estava ajudando e aprendendo na farmácia, quando o tio João disse: — Pega a Patavium do seu pai e vamos me ajudar num caso lá da Vila Nova. Trepei na magrela e acompanhei o tio João que seguia à frente levando uma caixinha de primeiros socorros e a seringa de injeção.
A indestrutível bicleta Patavium
As fotos abaixo são de uma antiga bicicleta Patavium, ano 1956, à venda no site OLX
O menino da bicicleta será o GUIMA, o menino-serelepe?
Há um vídeo histórico da TV Tupi, disponível aqui, com lances da visita da Seleção Brasileira de Futebol a Lambari, em 1966.
Neste vídeo, aparece um menino pedalando uma velha bicleta de adulto, quando de uma corrida dos jogadores na Volta do Lago.
Veja:
Pois bem, provavelmente o menino de bicicleta é o Guima (GUIMAGUINHAS, o autor deste site), pois, conforme está narrado em seu livro de memórias (MENINO-SERELEPE), ele, então com 12 anos, acompanhou o dia a dia da Seleção em 1966, e não se separava da bicicleta marca Patavium do seu pai.
Neste vídeo, aparece um menino pedalando uma velha bicleta de adulto, quando de uma corrida dos jogadores na Volta do Lago.
Veja:
Pois bem, provavelmente o menino de bicicleta é o Guima (GUIMAGUINHAS, o autor deste site), pois, conforme está narrado em seu livro de memórias (MENINO-SERELEPE), ele, então com 12 anos, acompanhou o dia a dia da Seleção em 1966, e não se separava da bicicleta marca Patavium do seu pai.
- Veja o post A Seleção em Aguinhas disponível aqui
Vocabulário de Aguinhas [*]
- Corda e caçamba: Expressão que designa as pessoas que fazem tudo juntas. Refere-se à corda e à vasilha com que se tira água do poço.
- Dia de saco: Dia de sábado. [Costume do interior: Dia de sair da venda com o saco de compras da semana.]
- Em pandarecos: Em pedaços, destruído, acabado.
- Em três tempos: rapidamente
- Estrupício: Coisa esquisita, despropositada, fora do comum. Estrovenga.
- Magrela: bicicleta [gíria)
- Não estar no gibi: Ser fora do comum, ser inacreditável.
Referência
(*) O livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, trata-se de uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960.
O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda
(*) O livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, trata-se de uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960.
O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda