Diário de Sonhos - #122: Náusea
Sonhei que estava numa ilha paradisíaca. O céu e o mar eram de um azul bem clarinho e o clima estava agradável. Estava andando sob os destroços parcialmente submersos de um navio naufragado. À minha frente havia três caixotes de madeira flutuando. Pulei de um em um até chega numa ilha bem pequenina, com uns dez metros de circunferência ou até menos. Perpendicular ao caminho de caixotes havia outro igual, só que mais longo. Eram tantos caixotes que iam até o horizonte e não acabavam. Fui pulando de um em um querendo descobrir o que havia no final. O céu começou a ficar cinza, começou a ventar. Comecei a me sentir mal. Tinha tontura, enjoo e náusea. Tudo rodava e eu sentia que ia vomitar.
Agora estou em terra firme. Está de noite e estou numa pequena clareira no meio de uma selva densa. Há algumas tochas. Sinto também que tem pessoas em volta, mas não olho pra elas. Apenas sinto que são pessoas sérias e más. Estou me sentindo muito mal. Vomito. Mas o que sai de minha boca não é líquido, e sim uma massa espessa, igual massa de pão, só que mais rígida. Como se meu estômago e minha garganta estivessem lotados até o limite com essa massa e uma força incrível empurrasse a substância pra fora de meu corpo. Faço força, muita força, sinto a garganta ardendo, a cabeça em chamas e os olhos sangrando. Não para de sair essa massa da minha boca. Ela começa a criar um volume no chão do tamanho de uma bola de basquete. Quando finalmente acaba quero gritar mas não consigo. Tem um pouco entalado em minha garganta. Não consigo respirar. Vou morrer.
Mais tarde estou sozinho na clareira com um volume de substância consistente, negra e mal cheirosa. Olho para aquilo e por algum motivo penso é alguma coisa de minha vida que eu perdi. Uma lembrança, um trauma, uma esperança. Não sei direito.
São Paulo, dez de setembro de dois mil e dezessete.