PAISAGENS-PARTE I

Eterno BURLE MARX. Antes dele, até os anos 30,jardim era de inspiração europeia: camélia, azaleia, magnólia... Ele “descobriu” o ‘mato brasileiro’: palmeira, cacto, helicônia... e levou a Mata Atlântica, o cerrado, a Floresta Amazônica e a caatinga para parques e mansões. Jardim moderno tem que ter volumes e texturas desiguais, tudo junto e misturado - integração plantas & arquitetura, projetos ainda em alta e seu nome como referência no mundo todo. Cerca de dois mil jardins projetados, objetos, joias, cerâmicas, tapeçarias gigantescas, cenários e figurinos, inclusive para o Balé Petrouchka, guaches e... muitas pinturas. Era uma pessoa poliédrica, no estilo de artistas completos do século XIX, muito valorizado por seu paisagismo, apenas não reconhecido como pintor. Aos 80 anos, acordava às 5 horas, ouvia Schubert e pintava com fúria até o meio da manhã, projetava jardins, pintava novamente à tarde - seis mil trabalhos, entre telas, gravuras, desenhos e panos (pedaços de brim pintados). Dizia que paisagismo era arte sob as mesmas leis da composição de uma pintura: or, forma e textura. Nascido paulista em 1909, mudança para o Rio com a família em 1913, cresceu num ambiente cercado de verde, casa no Leme,sopé do Morro da Babilônia, e aos 6 anos ajudava a mãe no jardim. Aos 19, foi para a Alemanha, tratamento dos olhos - foram todos, pai alemão, dono de curtume, mãe brasileira, descendente de franceses, pianista, e cinco irmãos; durante dois anos culturou-se com muitas exposições, óperas, teatros e aulas de canto. Nessa temporada, deslumbrou-se com a obra de VAN GOGH e a fase rosa de PICASSO - resolveu ser pintor. Visitou o Jardim Botânico de Dahlem, na Alemanha, onde viu vegetação tropical e imaginou ambientes verdes com plantas brasileiras... Voltou à casa do Leme, estudou arquitetura e pintura, e o vizinho LÚCIO COSTA o convidou para paisagista de seus projetos, primeiro trabalho em 1932, casa de uma família em Copacabana - fama aos 23 anos de idade. Autodidata e inspirado. Muitas honrarias internacionais, incluindo uma exposição de sua obra no MoMa de Nova York em 1991. Projetou os jardins da UNESCO, em Paris (1963) e da OEA, em Washington (1979), e muitos trabalhos em diversos países. Nas viagens, com o cozinheiro e grande amigo, visitava museus - bom de garfo e de copo, trazia queijos portugueses e franceses, trufas italianas, açafrão espanhol, vinhos-uísques-licores de vários lugares... Sítio comprado em 1949 para produção de plantas, mudara-se para lá em 973, área de 635 mil m2, mais de 3.500 espécies de plantas, vários exemplares do mundo, o verde aliado a expressões artísticas... Muitas vezes banquetes para 120 pessoas, toalhas que ele mesmo pintava depois - uma amiga ao piano - cantava árias de ópera, voz de barítono. Em 2008, foi editado o livro “À mesa com Burle Marx”, 60 receitas e anotações dele. No sítio, em Barra de Guaratiba, Rio de Janeiro, entre relíquias preservadas, foi recuperada a Capela de Santo Antônio da Bica, beneditina de 1610, século XVII, e um muro de arrimo construído com pedras de demolições, base para plantas tropicais. Colecionava cerâmica pré-colombiana, arte sacra, peças do Vale do Jequitinhonha, cristais, arte brasileira em geral. Há uma biiblioteca com mais de 2.500 livros. Leonino alegre, brincalhão, mas passional e odiava ser contrariado - amigo hoje, inimigo irredutível amanhã, sem perdoar. Como discípulo, um nissei carioca, a princípio estagiário no escritório do Leme, depois desenhista, colaborador, por fim sócio e titularda empresa após a morte do mestre, em 1994, seguindo a mesma linha de paisagismo - sem filhos, BURLE MARX elegeu como herdeiros o cozinheiro, a secretária por vinte anos e o ‘japonês”.

Principais obras inesquecíveis; Parque da Pampulha, em BH (1942), Parque do Ibirapuera, em SP (1954), Aterro do Flamengo, no Rio (1961), Eixo Monumental, em Brasília (1961) e Calçadão da Avenida Atlântica no Rio (1977).

FONTES:

“Sítio de Burle Marx já está no roteiro turístico do Rio” e “IPHAN realiza sonho de Burle Marx em sítio” - Rio, jornal O GLOBO - 22/3/98 e 30/5/04 --- “Sítio de relíquias e plantas raras” e “Paraíso paisagístico: legado exuberante” - Rio. Jornal O GLOBO, suplemento ZONA OESTE, 28/4/02 e 1/4/07 --- “Burle Marx não morreu” - Rio, revista O GLOBO, 30/11/08.

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 10/09/2017
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