OS MUROS

Apesar das depressões geológicas e emocionais os muros vão naturalmente germinando, brotando em sua dura linearidade, blindando o horizonte dos olhos traiçoeiros e enxeridos, prendendo os inocentes, velando a vida das casas ao podar suas asas. Inflexíveis e altos os muros são protetores estáticos do patrimônio, da integridade e da moral, guardam seus donos do mal-intento, florescendo seus sorrisos secos de cinza concreto indiferente. Tijolo por tijolo, medo por medo, internamente estas construções de força têm a mesma função, vão sedimentando-se com razão de resguarde e proteção, porém acabam por ser limitantes das ações, bloqueadores do contato, impedimento para novas flores. Defesa absoluta é solidão. Além da retidão impecável, os muros formam mosaicos irregulares distorcendo a imagem, dando a vista ares de prisão. Em terror, não sabemos se quando os muros caírem será libertação ou condenação.