[SEM TÍTULO] - aceito sugestões

Se o Capitalismo soubesse usar os seus filósofos, os instalaria em cada estação de pesquisa interplanetária, e assim, motivados pelo bicho carpinteiro de Hefestos em gravidade zero, faríamos os sapiens sapiens do polegar sujo de terra alcançar mais rápido do que um flagship estilingado entre as ondas gravitacionais dos planetas, mais barato que discovery’s pra tapar a má consciência de alguma feira de tecnologia nos subúrbios das já minúsculas cidades atlânticas e mais estratégico que as densas barreiras político-bélicas das New Frontiers enfrentadas de cada dia, às Voyager’s; e trocaríamos pessoalmente os discos dourados a bordo por algo menos um pouco repetitivo pra nossos ausentes autocorrespondentes. Nada mais hilário nessa síndrome pioneira a lá Sputinik-Magalhães que nos obriga a brincar de correr ingenuamente, como boas crias recém-desplanetárias que logo seremos, pelas vastidões do desconhecido, sondando desvairadamente corredores interdimensionais, só para descobrirmos em outra galáxia ou faixa de frequência, aquela promessa microancestral que achávamos perdida nalgum instante evolutivo entre os abismos salgados de Oceanos e no decaimento vital desse fogo urânico que nos consome pantanosamente à mania fototáxica de querer beijar o brilho dos céus. Gagarin poderia ser assaltado por um repentino dilema ético enquanto perfurava a imaginação supersônica de Kármán: É prudente soltar os humanos pelo vácuo? E seríamos obrigados a responde-lo que por hora essa náusea cartográfica, esse enjôo kenofóbico é somente um dos sintomas dessa nova viagem que segue sendo a sempiterna órfã resposta humana para a humanidade: De que vale isso tudo afinal? Aonde levam essas reviravoltas estáticas e patéticas do gênero atravessado? Só para vê-los sorrir a morte longe de sua empreitada, numa interminável peça de tragédia cósmica? Que os deuses nos sinalizariam sobre isso? E como se o próprio caos das ondas de singularidades pudessem lamber as radiotelescópicas orelhas, talvez o seguinte ruído fosse escutado: Meu querido Gagarin, em busca de imortalidade vós, seres alucinados pela abertura prematura da língua, lançam-se de cabeça nas coisas infindas como se mergulhassem na própria infinitude, compartilham a individualidade na extensão como se o humano fosse pura res extensa, e bebem a existência paranoicamente como se habitantes do inabitável fossem. Sugiro que é melhor acenar contendo o desespero vertiginoso de um sem-número de atmosferas para as gerações vindouras de sua própria espécie antes de nos procurar, e contar ocasionalmente ao ouvido dos que nunca se desterraram, aqueles segredos que estragam o paraíso das infâncias. Desabes agora que nunca houve espaço, nem universos ou sequer estrelas, que as nebulosas tintas das antigaláxias colorem apenas o estreito vão entre o nada e o nada de seu dizer. Perpetuo aleam ludere animalis, hábeis em forjar a matéria de suas próprias imensidões para nelas mesmas se perderem, achas de boa fé que nós não reconheceríamos de longe o sotaque mético de Odisseu em tuas palavras, porta-voz hipnotizante de Homero? Sentimos de longe o cheiro das colônias de Jasão em teu bafo, a luz apolínea que antecede as explosões subatômicas e o desejo ardente de serem deuses-humanos só para cessar a impotência que tanto almejam. Durmam agora delicadas obras sempre-inacabadas, deitem suas pesadas cabeças sobre a malha fina do espaço-tempo e sonhem na companhia das sílfides do vazio e no etério frenesi dos lunáticos selenitas.