RECORDAÇÕES DE SANDRA HALEPLIAN
Vou contar uma história verídica
Morávamos em São Paulo onde nasci, eu, Sandra, meu pai Silvio, minha mãe Therezinha, e meus irmãos: Silvio, Sonia, Paulo, minha avó Nena e o tio Sidnei, irmão de minha mãe, que morava no bairro da Vila Carrão. Nasci de uma família evangélica e humilde; eu e minha irmã mais velha estudávamos em colégio de freiras.
E os outros estudavam em colégio normal não sei o porquê, mas tudo bem. Quando completei sete anos meu pai voltou do hospital, onde ele trabalhava, porque ele era médico homeopata.
Disse que íamos mudar de cidade, íamos morar no interior de São Paulo, num sítio da minha tia, irmã de meu pai.
No começo não gostamos da ideia, mas viemos morar em Descalvado, não gostando, porque era tudo diferente e um silêncio... era tudo muito quieto, não tinha aquele barulho de carros, fábricas e tudo que tem na cidade, porém ficamos morando lá por alguns anos.
Ficamos umas semanas sem televisão e tudo que funcionava com eletricidade. Porque a noite era um silencio só e só se escutavam os grilos, sapos e corujas.
Depois de algumas semanas meu pai começou a fazer melhorias na casa do sítio. Fez uma granja, arrumou o celeiro, fez horta, plantação, curral e fez muitas coisas, ficou lindo e bem organizado.
Passamos bons momento no sítio. Meu pai colocou gerador para ligar as luzes e televisão, mas chuveiro quente ainda não tinha; tomávamos banho numa bica, mesmo no tempo do frio. Mas não sentia frio, se fosse hoje para tomar banho frio íamos sentir, porque o tempo mudou muito. Minha mãe fazia cobertas de retalhos e cobertores de tricô. Nós vivíamos bem vestidos de acordo com nossas possibilidades financeiras.
Íamos à escola de charrete, a escola era em Descalvado e eu queria comprar lanche, mas não tinha dinheiro. Eu tinha uns cabidinhos de bonecas. Levei à escola para vender, formaram-se até filas para comprar, minhas irmãs começaram a rir de ver eu fazendo aquilo. Com esse dinheiro comi o lanche que eu tanto queria.
Um dia, minha tia Regina e meu tio Júlio disseram que ia passar o sítio, para meus irmãos, porque viu as melhorias que fizemos, e os cuidados que tivemos, mas ficou só na conversa, porque passaram uns meses, a conversa foi outra.
Mas não podemos nunca acreditar nas palavras de homens. Minha tia Regina, sem mais, pediu o sítio de volta, para doar para um asilo. Meu contava com os negócios do sítio, pois vendia carne de boi e frango para uns frigoríficos de muitas cidades vizinhas.
Estávamos com uma vida tranquila, porque no sítio não tínhamos que pagar água, luz e nem aluguel, tinha muita fartura de comida, frutas, ovos e carne de boi, porco e galinha; só tínhamos de comprar outras variedades que não havia no sítio.
Antes de sairmos do sítio minha mãe ficou grávida. Ela estava apavorada porque com aquela situação, mas fazer o que. Passados os 9 meses, nasceu minha irmã, trazendo alegria para todos nós, que só tínhamos olhos para aquela criança.
Foi uma gravidez de risco e antigamente não havia muitos recursos e o bebê estava sentado, de pernas cruzadas e foi preciso fazer uma cesariana. Minha mãe não podia tomar a anestesia. Recebeu anestesia e entrou em choque.
Ela quase morreu, mas o médico que a atendeu era o Dr. Sápia, excelente médico de Descalvado, e que fez o possível para salvar a minha mãe.
Com a família maior, meu pai começou a procurar uma casa para alugar, não ligava para a casa e fomos despejados várias vezes, porque não pagava o aluguel, que gastava com mulheres e amigos.
Quando minha irmã nasceu, fiquei enciumada, porém ninguém via o que estava acontecendo e todos continuaram a paparicar a Simone, minha irmã caçula, e fui crescendo e me tornei uma adolescente.
Em 1971, fomos morar em Porto Ferreira. Meus pais já tinham se separado, minha mãe e meus irmãos tiveram que tomar conta da casa, pagar aluguel, pagar a luz e colocar comida em casa, mas estava melhor de quando estávamos com meu pai em casa, porque só fazia a gente passar vergonha. Houve várias brigas porque meu pai era muito ciumento e não aceitava que nós não precisássemos dele para tocar a vida.
Em Porto Ferreira, tivemos alguns vizinhos que nos ajudaram muito, como a D. Eunice e o Sr. Valdir, a D. Ritinha e o Sr. Orlando, Sr. Otávio Belline, a D. Rosinha e a D. Cidinha mulher do Dr. Dorival Braga que na época era nossa professora e o Dr. Dorival Braga, que era prefeito da época. Nós íamos à chácara de vez em quando, nos fins de semana. Eles convidavam alguns alunos dela: lembro da Dani, Renata e André. Esta família é muito humana.
Antigamente a vida era mais fácil, não precisava pagar água, e telefone era muito difícil quem tinha, mas a idade era tão pequena que nem precisava, todo mundo conhecia todo mundo, era muito gostosa a cidade era calma, e então minha mãe e meus irmãos foram trabalhar fora.
Eu tomava conta da casa, fazia comida, passava roupa, fazia de tudo na casa e tomava conta da minha irmã Simone que tinha 2 aninhos, como eu era chamada pelo meus irmãos Mirtes da casa.
Tivemos grandes amigos, que ajudaram minha mãe e meus irmãos a arrumar emprego, como o Jose Onofre, Netinho e o Detone e outros já estava acostumando na cidade de Porto Ferreira e como tomava conta da casa eu já estudava a noite na escola que era perto de casa Washington Luiz e fomos vivendo assim por um bom tempo.
Eu já conhecia tudo aqui e quase todo mundo, pois sou fácil de fazer amizade. Perto de casa na escola fiz bastantes amigos e antigamente o povo era amigo de verdade não tinha interesse.
E a gente podia sair de casa e deixava tudo aberto e os vizinhos tomavam conta, porque não tinha essa bandidagem de hoje. Eu ia sempre ao clube da cidade, que eram duas quadras de casa, era tudo perto.
Numa tarde de quarta-feira dia 1º de maio, estávamos eu Célia Amaru e a Roseli de Lima no Porto Ferreira Futebol Clube, onde éramos sócias, na piscina e me deu cólicas forte e disse para elas que ia ao banheiro e já voltava, mas chegando no banheiro, desci o biquíni e estava sangrando. Nossa, fiquei apavorada!
Corri, enrolei-me na toalha para ver o que estava acontecendo. Elas começaram a rir e disseram que eu tinha ficado mocinha, mas minha mãe não tinha falado nada disso, antigamente não tinha esse tipo de conversa entre mãe e filha.
Éramos muito bobinhas. Hoje em dia as crianças nascem sabendo tudo, mais que a gente.
Tinha muitas amigas para sair de fim de semana, mas com quem saímos sempre eram: a Zezé, Cida, Célia Amaru, Roseli de Lima e minha irmã Sonia. Saímos todas juntas. Num sábado à noite, fomos passear na Praça da Matriz. Nós dávamos volta igual a um peru.
Era muito engraçado, porque as mulheres andavam de cima para baixo e os homens de baixo para cima em volta da praça, e foi ai que conheci o Luiz. Nossa, coisa de adolescentes e por várias vezes nós conversávamos, mas era aquela coisa de pegar na mão, beijo no rosto e após uns fim de semana, começamos a namorar escondido.
Até que num domingo à noite, ele parava na esquina de baixo de casa para nos despedir e uma amiga da minha mãe, a Cida Bragione, viu e no dia seguinte foi contar para minha mãe. Fiquei morrendo de medo, pensando que ela ia me colocar de castigo.
Porque antigamente tinha que ter permissão dos pais para namorar, não é como hoje que fica com um hoje, amanhã com outro e isto é normal.
Luiz resolveu ir pedir permissão para minha mãe deixar ele me namorar e minha mãe deixou, nossa fiquei muito feliz porque gostava muito dele.
Na época tocava música na praça. O Luiz gostava de várias músicas, e ele dizia que eram nossas músicas. Uma delas era do cantor Gilson de Souza, a música era “Poxa”, e várias outras músicas, que ele dizia que eram nossas, como as músicas do Roberto Carlos. Tudo coisa de adolescente. Ficava viajando... e sonhando.
Uma delas era “Detalhes”, e de outros cantores, “Ritmo da Chuva”, e de um cantor italiano Albert Fidenco, “Sapore di sale”. Recordo-me com saudades daqueles tempos tão inocentes e tranquilos.
Na época em que começamos a namorar, eu tinha 13 anos e ele 16. Ele trabalhava num escritório perto de casa. Nós morávamos na Rua João Salgueiro. Passaram uns anos, fomos morar na mesma cidade, na Rua Padre Capeli mais perto do centro.
Nossa vida tinha dado um rumo muito bom. Nessa época eu já estava trabalhando fora e estudava à noite e no fim de semana eu e minhas irmãs colocávamos ordem na casa. Era muito bom naquele tempo, tenho saudades.
Chegou o carnaval e antes aqui em Porto Ferreira haviam uns blocos carnavalescos, como: bloco do Salgueiro e Portela, que desfilavam e o povo todo ia prestigiar. Havia também o desfile do boi, mas era um povo mais civilizado e educado. À noite tinha o baile de máscara e fantasias no clube.
Fomos ver. Era. Lindo. Ficamos até as 3 horas da madrugada e depois fomos embora a pé, era muito tranquilo e podíamos andar pelas ruas a qualquer hora.
Estava indo tudo bem. Lembro de quando eu e o Luís saímos para passear. Nós íamos ao cinema, e mesmo na praça ele sempre comprava sorvetes, pipocas e o chocolate Prestigio, e cada vez que como o chocolate me lembro dele. Era tão boa aquela época, mas tudo passa tão depressa.
Assistíamos a vários filmes, mas sempre tem aquele que marca. Um deles foi DIO COMO TIA AMO outros foram: LOVE STORY, ROMEU E JULIETA, LAGOA AZUL e muitos outros.
Depois quando ele tirou a carteira de habilitação, ele pegava o carro, que era uma Brasília azul, e lembro até da placa da Brasília (8466). Depois de uns dias o pai dele ou irmão não me recordo, comprou um fusca bege.
Íamos aos bailes, e antigamente tinha o baile das debutantes. Era lindo, porque as mulheres usavam vestidos longos e homens de ternos e gravatas traje social. Todos muito bem vestidos, agora hoje é tudo diferente. As pessoas não se arrumam de acordo.
Foi num baile que conheci Cleide Amaru e o Carlinhos Gomes. Ele é amigo do Luís. Eu e a Cleide começamos a conversar bobeira, sabe como é conversa d adolescentes, uma quer ser mais que a outra, bobinha de tudo e como não sabia o que falar, começávamos a falar dos namorados, passamos quase o baile todo assim só jogando conversa fora.
Nos fins de semana o Luís e o Zezé revezavam o carro. Uma vez eram Zezé e seu irmão mais velho e sua namorada Maria Elisa, e o outro era do Luís; ele tem um irmão que se chama Pedro Luís, o caçula e foi assim por um bom tempo, os pais deles eram a D. Anita e o Sr. José.
Foi um bom tempo assim, mas passaram os anos e aconteceu uma tragédia.
Foi no dia 03/06/1977, numa sexta-feira, num dia chuvoso. Fui levar minha irmã à escola e, quando eu estava voltando para casa, uma perua Kombi amarela vinha trazendo homens que trabalhavam na zona rural, quando perdeu o controle e para não bater num carro, desviou e subiu na calçada, sem ver que ia atropelar alguém.
Quando me atropelou, eu fiquei esmagada contra o muro por algum tempo. Quando me tiraram, todos pensaram que eu estava morta e inconsciente, mas eu estava vendo e escutando tudo, e vi quando me tiraram de lá. Foram o Sr. Domingos Momesso e seus irmãos que na época eram os taxistas, e o Buda um amigo que trabalhava no Banco do Brasil, onde é hoje as lojas Cem.
O taxista Domingos correu para me socorrer e lembro do Buda me tirando de lá e perguntou se era eu, a Sandrinha mas não dava para falar, porque meu rosto estava todo estourado.
Eles acharam que eu estava morta, porque meu olho direito estava todo para fora, e tinha fraturado o crânio, estava um pedaço da tampa da cabeça grudado na parede, e antes deles me socorrerem eu consegui passar a mão no rosto e percebi que o olho tinha saltado para fora.
Chegando no hospital, vi as brigas dos médicos porque um queria me levar pra Ribeirão Preto e outro não, justificando que era melhor não gastar dinheiro com defunto, mas chegando o Dr. Constantino o médico que trabalhava no hospital da época. Ele era de Ribeirão Preto e disse: Vamos leva-la para Ribeirão Preto, porque esta menina tem vida.
Foi um alivio eu ter escutado, porque já estava pensando ver meu velório. Deus me livre, já imaginou me tampar o nariz e a garganta com algodão. Credo, queria avisar que estava viva, mas não tinha como fazer, não tinha força de mexer e nem de falar.
Mas depois de várias discussões me entubaram toda e me colocaram na ambulância e o Dr. Constantino disse para ir a toda velocidade.
No caminho tive parada cardíaca, hemorragia que não cessava e entrei em coma profundo por dois meses. Tive outra parada cardíaca, edema cerebral e edema pulmonar. Chegando ao hospital de Ribeirão Preto, fui direto para a sala de cirurgia e fui submetida a sete cirurgias na cabeça, no mesmo dia.
Tive também uma parte da massa cefálica perdida por causa do traumatismo craniano, tive uma visão perdida não total e com sequela numa das vista, a vista esquerda fechou por cauda do traumatismo craniano e a direita teve uma miopia, porque ela saiu toda para fora, mas enxergo o necessário.
Vi a minha vida sendo mudada do dia para a noite. Eu era uma moça de 15 anos, tinha toda a vida pela frente, eu que era uma atleta que nadava, corria, jogava futebol, vôlei e basquete, tive que parar com tudo.
Antes do acidente fui a várias cidades competir e ganhei várias medalhas, mesmo aqui competi de escola contra escola era muito bom, depois acabou tudo do dia para a noite.
E junto, todos os meus sonhos, minha expectativa de vida, minha alegria acabou ali.
Nesse tempo em que eu estava em coma, nós morávamos em Porto Ferreira. Tivemos que nos mudar para Ribeirão Preto por causa do meu tratamento e foi muito interessante porque ajudei na mudança de Porto Ferreira para Ribeirão Preto e, antes de entrar na casa, descrevi como era a casa que nós mudaríamos à minha mãe – que eu chamava de “mulher” -, sem nunca ter estado lá.
Ela achou muito interessante e se questionou como eu poderia saber tais características, eu disse o que foi quebrado na mudança e o que ocorreu durante a viagem de Porto Ferreira até Ribeirão Preto.
O tempo em que eu estava em coma, via tudo que acontecia no hospital e fora. Eu saí de dentro de mim, porque eu me via na maca do hospital, mas não sabia que era eu. O mais complicado foi que fiquei com meu avô, que já tinha morrido.
O tempo todo em fiquei com meu avô eu estava em coma, meu avô falava “nossa minha menina” e que a minha mãe estava sofrendo de novo, mas não sabia o porquê. Era interessante que eu não podia ficar muito perto dele, parecia que tinha um vidro entre mim e ele; tive três extrema-unções; a última vez acordei e estava no necrotério com um cheiro horrível.
Para mim era um sonho e eu queria acordar daquele sonho, não aguentava mais passar dias e dias com esse sonho, eu não sabia de nada. Foi uma tristeza muito grande, via todo mundo estranho, e foi na última vez que o padre disse, que era pecado dar a extrema-unção se a pessoa não morrera.
Eu não sabia o que estava acontecendo; depois de alguns dias fui transferida para UTI, vi meu cunhado Walton, fazendo graça pelo vidro e eu pensava comigo que “cara bobo”, pensava que era um sonho mais idiota. Assim, depois de uns dias fui para o quarto do hospital, onde fiquei por mais de um mês e quando passaram os 30 dias, tive alta.
Esse meu cunhado Walton fala que quando sofri o acidente e quase morri, só não morri porque era uma concorrência, fui para o céu e Deus disse que era para eu descer. Desci, aí o diabo disse que era muita concorrência “volta para a terra que tem muito ainda que pagar”.
Fui para casa sem saber andar ou falar, lembro-me de que parecia um robô. Era um vazio, fiquei por quatro anos sem memória. Na época eu namorava, mas por causa do acidente, ele largou de mim, porque fiquei muita feia, e os médicos já tinham falado de que eu ia ficar numa cadeira de rodas e ficar retardada, não ia mais ser uma pessoa normal.
Realmente não falo nada porque éramos jovens; a aparência conta muito quando somos jovens, e ficar com uma pessoa assim por mais que se goste ia acabar com a vida dele por causa de outra pessoa, não acho certo.
A primeira vez em que me vi no espelho, fiquei com medo daquilo que vi, porque eu estava cheia de cicatrizes, com o olho esquerdo fechado por causa do traumatismo craniano, o outro saltado para fora, cheia de ponto no rosto todo, careca com uns parafusos, apertando o maxilar, porque foi quebrado, fiquei parecendo um monstro de tão horrível.
Fui convivendo com minha família, mas não reconhecia ninguém; para mim eram todos estranhos, eles sempre procurando fazer eu me lembrar deles. No começo me tratavam com maior cuidado, depois foi me tratando como uma pessoa normal, meus cunhados Walton e o Jim faziam piadinhas e brincavam comigo todos os dias.
Até hoje eles brincam comigo, fazem comentários e debocham brincando e dizendo “você quem leva pancada e a gente que fica biruta”, porque sou difícil de esquecer das coisas. No meu serviço ou mesmo em casa todos pedem os números de telefone, consigo guardar e nem preciso olhar a lista.
Os médicos disseram que não ia mais nascer cabelos, mas nasceu sim ainda bem porque quando eu estava careca, usava turbantes. Deus que me livre, coisa feia, já estava uma coisa louca e ainda mais usando turbante, ninguém merece, tanta coisa ruim, e antes de sofrer o acidente pesava 40k, só estava com uns quilinhos a mais, fui para 115k.
Passaram uns anos e fui emagrecendo, mas fiquei muito inchada não era tanto gordura que não some, quanto o peso graças a Deus estou bem agora com 55k, também agora estou mais velha e tive filhos, então estou com o peso normal.
Minha mãe teve muitos amigos em Ribeirão, e temos parentes lá também e eles colaboraram com a minha família. Neste meio tempo minha mãe conheceu Sr. Silvio um homem que trabalhava no Fórum de Ribeirão Preto, porque como não tinha condições de pagar o tratamento foi pedir ajuda para a justiça e foi este Sr. Silvio quem ajudou.
Ele trabalhava no Fórum de Ribeirão Preto orientou e apresentou advogado para minha mãe.
Hoje recebo uma pensão que o Sr. Carlindo Ribeiro paga para mim, ganhei a causa, depois de um ano ele veio a falecer e o irmão dele o Sr. José Ribeiro que continuou a pagar. Este homem é muito gente boa, a mulher dela a D. Zilá eu também respeito.
Depois de uns anos o Sr. José Ribeiro também veio a falecer e quem continua a pagar é a Sra. Zilá, esposa do Sr. José Ribeiro. A família vai ter que pagar esta pensão até eu morrer.
Gosto muito da família dele. Já o conhecia bem antes do acidente, porque meu cunhado Walton é parente deles, e eu não sabia da casa deles e da casa do irmão dele.
Depois de um ano minha mãe falou que ia voltar para Porto Ferreira, por causa de mim, ela disse que eu não queria ficar em Ribeirão Preto, não me lembro de nada disso. Mas tudo bem.
Voltamos para Porto Ferreira e no dia em que estava fazendo a mudança, tive a primeira meningite. Depois tive mas 6 meningites. Por causa do acidente fiquei com uma fístula abertura, fiquei no isolamento do hospital de Ribeirão Preto por 20 dias.
E quando eu estava no hospital fiquei pensando em fazer alguma coisa pra ver se a minha memória voltava porque não aguentava mais viver sozinha e no mesmo tempo junto era estranho.
Decidi trabalhar e estudar, tive que voltar a aprender tudo de novo, até a escrever e ler eu tinha uma noção só que não lembrava e a mão não ajudava, não tinha coordenação, tremia muito, mas com o tempo foi voltando, falava muitas bobeiras, ficava olhando para o nada, sem saber onde estava, o que estava acontecendo... Passaram-se meses... Arrumei um serviço.
Fui trabalhar no laboratório do hospital que na época era o Dr. Célio. Eu ajudava as meninas a pegar os frascos de exame que o povo levava; trabalhei com a Cecília, a Shirley e outras de cujo nome não me recordo.
Havia umas pessoas que me colocavam apelidos e um deles era “monstrinho”. Eu ficava muito chateada, mas fazer o que? Tem gente que não tem senso nenhum, que por mais que você não goste da pessoa nessas horas tem que ter senso.
Até hoje não tenho muita coordenação motora do lado esquerdo, mas faço o que minha competência dá para fazer, faço de tudo só que lento, mas faço. Fiquei revoltada, quando fui tirar Carteira de Habilitação e não podia porque não tenho reflexo nenhum do lado esquerdo.
Na época estava estudando no Colégio “Mário Borelli Thomaz”, na famosa escola de Comércio onde Sr. Neguinho era o diretor.
Num fim de noite, na sala de aula, a minha memória voltou, do nada e me lembrei de tudo. Fiquei louca de vontade de chegar em casa e ver minha mãe, porque para mim fazia tempo que não a via.
Mesmo convivendo com ela todo o tempo queria vê-la, e ver toda minha família. Foi tão gostoso ver todos ali perto de mim! Foi quando perguntei de meu namorado e minha mãe disse que ele estava se casando naquela semana.
Fiquei chocada! Sofri muito, mas levantei a cabeça e dei um rumo à minha vida, porque queria ter filhos e os médicos já tinham falado que não seria possível ser mãe. Aquilo me deixou extremamente chateada.
Não desisti da ideia de ser mãe. Como meu ex-namorado já tinha se casado, resolvi arrumar minha vida. Ai foi que conheci o Ricardo nas férias do serviço e da escola. Eu e minha família fomos para Santos na praia de Peruíbe, perto da Praia Grande uma praia muito bonita e na época não tinha muita poluição.
Lá estava ancorado o navio Porta-aviões para o povo conhecer o navio. Tinha muita gente querendo entrar para conhecer o grande navio. Minha mãe conseguiu a empurrou todos para dentro e entramos. Acabamos de entrar as portas se fecharam e foi só risada, porque minha mãe até levou o apelido de “bunda de ferro”.
Porque se não fosse ela empurrar nós tínhamos ficado de fora, olha devo esta para ela.
Conheci vários marinheiros, mas o que me pediu o endereço foi Ricardo que na época era um rapaz alto, moreno, magro, muito educado e gentil. Passei muito tempo pensando que não ia dar em nada.
Ficamos em Santos por mais uns dias e depois voltamos para Porto Ferreira, mas com vontade de ver o Ricardo de novo, foi muito bom conhecer uma pessoa que se interessou por mim naquela situação.
Já estava melhor, mas sempre achando que não ia conseguir namorar ninguém por causa daquele acidente, mas na vida aprendi que tudo passa e dei a volta por cima e digo sempre para mim mesma sou uma vencedora, já superei muitas coisas na vida.
Passou uma semana recebi uma carta do Ricardo dizendo se ele podia vir pra Porto Ferreira no carnaval. Eu disse que sim, mas não estava esperando nada sério, porque ele era marinheiro e já viu. Eles têm uma fama...
Nesse meio tempo sofri outro acidente, mas nada grave, desmontou o rosto porque é todo de platina, então não foi nada perto do outro; tive que colocar os pinos tudo de novo e era véspera de carnaval, o Ricardo ia vir do Rio de Janeiro para Porto Ferreira pela primeira vez, ia trazer um amigo e me encontrou no hospital e com a cara toda amarrada com uns ferros que me faziam parecer mais um monstro.
Recebi alta no dia seguinte e fomos para casa, o Ricardo todo educado disse que eu estava linda como sempre; eu fingi que acreditava.
Mas foi muito bom ele ter vindo, porque me animou e distraiu, conversamos bastante, no dia seguinte, saímos fomos ao Bar do Dudu, onde hoje é o estabelecimento do Aldinho. E o Ricardo e seu amigo tomaram Chopp e eu um suco de goiaba; ele comeu batatas fritas e eu só os viam comerem, porque não dava para eu mastigar, mas tudo bem, passamos uma horas bem alegres, só que era difícil eu rir, porque estava com o maxilar todo amarrado, não dava para ficar falando e nem rir, mas ele me entendia por mímica, era engraçado, foi muito divertido depois de 2 dias ele foi embora para o Rio de Janeiro.
E ficamos nos correspondendo por carta, porque naquela época não era todo mundo que tinha computador em 1981, mas tudo isso valeu porque fui criando confiança nele.
Ele gostava muito da várias coisas como: ler, filmes e músicas. E ele se identificava com a música que marcou, como a da cantora Perla, do cantor Roberto Carlos e Júlio Iglesias; quando ouço músicas desses cantores, eu me lembro dele.
Várias vezes ele veio para Porto Ferreira e fomos passear, nunca brigamos por nenhum motivo, ele confiava em mim e eu nele. Ele é muito culto e foi que num dia ele chegando do Rio me deu um livro e gostei porque precisava reativar a memória do passado e presente.
Com o passar do tempo nós fomos nos envolvendo e fiquei grávida. Todos se apavoraram porque os médicos já tinham falado que eu não podia engravidar mas nem liguei para o que os médicos tinham falado.
O Ricardo disse “vamos casar” e aí marcou a data mais rápida, porque senão a barriga ia aparecer e não ia dar para eu casar de noiva e esse era meu sonho, marcamos para o dia 12/6/1981.
Continuei vivendo porque quem toma conta da minha vida é Deus; já sobrevivi a tantas armadilhas do diabo e saí vitoriosa, porque Deus tem um propósito muito grande na minha vida, e nem dei confiança para que os outros falavam.
Quando eu estava grávida fiz a mudança e fui de caminhão de Porto Ferreira ao Rio de Janeiro, por isso falo que não acredito em homens, passei muito bem a gravidez toda, e digo gravidez não é doença.
Tive vontade sim, mas foi variado, tive vontade de sorvete, vinho tinto e também comer raspa de tijolo, credo, nunca tinha tomado nada alcoólico e tomamos, eu a minha ex-cunhada Dirlene, uma garrafa de vinho.
Agora tem mulher que aproveita da situação só quer saber de comer coisas boas e de ficar de pernas para o ar, isto é mulher folgado e aproveitadora.
Mas não ficamos bêbadas, porque era vontade mesmo de grávida, só queria comer coisas azedas e salgadas, e eu que gosto de doces não podia nem pensar que me enjoava, cheiro do feijão cozinhando nossa, era horrível.
Quando grávida estava morando no Rio de Janeiro, muitas das vezes tive que vir para Porto Ferreira descalça dentro do ônibus, porque não cabia meu pé em sapato nenhum de tanto que inchou, e tinha gente que ficava olhando eu nem ligava não estava nem aí para o que os outros falavam, achava feio ou bonito eu nem me importava.
Eu me importava sim era com meu bem estar. O que os outros pensavam não me importavam, eu sei o que sou e o meu caráter, eu tinha que vir fazer o pré-natal, aqui em Descalvado.
Minha mãe não ia, poderia ir para o Rio de Janeiro ficar comigo, então vim ter minha filha em Descalvado em 1982 ela nasceu sadia só que de 8 meses, foi cesariana, o nome dela é Marina.
Fiquei um mês em Porto Ferreira, depois voltei para o Rio de Janeiro onde passei uns bons momentos com os amigos que fiz lá, conheci vários lugares, até me perdi, mas conheci os lugares que queria.
Andei de bondinho, mas fiquei com um medo, porque estávamos só eu e minha filha Marina, ela tinha um ano e sete meses, nunca mais ando naquilo porque o vento era tão forte lá em cima e balançava tanto que dava vontade de pular de lá.
Porque era todo aberto, mas agora mudou como era, ficou bem mais seguro. Mas mesmo assim não ando naquilo, fiquei com trauma.
Fiz muitas amizades lá e até hoje tenho contato com eles, e também tenho parentes no Rio, até teve um amigo que mora no Rio de Janeiro que já veio passear aqui o nome dele Teco, era meu vizinho lá no Rio.
Tinha muitos amigos que me ajudaram em tudo, a conhecer os lugares e as pessoas, estes amigos foram irmão pai e mãe, tenho até avó no Rio.
Esta família me mostrou e me ensinou tudo lá, ensinar eu pegar ônibus e ir para os lugares, já viu caipira nunca tinha saído do interior e fui logo para o Rio de Janeiro. Na época foi muito bom, não tinha tanta violência era gostoso eu morava em Realengo, perto da favelinha da Rocinha.
Era tranquilo tive que fazer amizade com a turma da pesada que ficava em frente a minha casa, porque eles sabiam que ficava sozinha e percebia que tinha medo, eu deixava garrafa de café, fósforo, tudo o que pediam e estivesse ao meu alcance, eu deixava com eles.
Mas foi bom que eles tomavam conta e nunca aconteceu nada, eles mesmo falavam “enquanto nós estamos aqui a gente toma conta da senhora e da casa”, mas mesmo assim ficava com medo.
Tinha muito lugares a que os meus vizinhos me levaram para eu conhecer. O povo carioca é muito simpático, José, Teco, Nininha, Deusi, Osmar, da vó, tio Dani, Maísa, Noemi e d. Ivone e vários outros amigos de lá, lembro-me deles, tenho saudades.
Depois que aprendi a andar lá eu ia para os lugares mais fácil eu saber que ônibus pegava. Passaram uns meses minha sogra, que morava em Recife, veio morar com a gente e ficou morando por um bom tempo em casa.
Depois de algum tempo alugou uma casa e foi morar com as minhas cunhadas que também vieram; a casa dela era perto da minha, tivemos alguns contratempos, mas depois passou tudo por causa de ciúmes uma da outra, sabem como é esse negócio de sogra com nora.
As minhas cunhadas por parte de meu marido se chamam Cleide, Rivanire, minha sogra era Creuza, minha sogra depois de alguns anos morreu, mas as cunhadas estão bem e somos amigas até hoje.
Conheci a Barra da Tijuca, Copacabana, Niterói, Urca, Estádio do Maracanã, Sinhô, Ipanema, Cabo Fio, alguns mercados e até o “shopping” e vários outros lugares; andei de barca da ponte Rio Niterói e foi muito gostoso, continuei vivendo com todo o meu problema de não enxergar direito com tantas confusões, tenho uma visão dupla.
E com todo o meu problema não entrega o ponto, mas num dia sem ter outra escolha tive que entregar porque tive outra meningite, fui internada no hospital da Marinha por 20 dias, no isolamento minha mãe veio e buscou a Marina porque ela tinha 2 anos e não tinha ninguém para tomar conta dela.
Porque minha sogra e cunhadas também trabalhavam e o Ricardo viajava quase sempre e deixar com os vizinhos não ia ficar sossegado, por mais que me tratassem muito bem não é a mesma coisa que família de verdade.
Saindo do hospital e minha mãe trouxe a Marina. Na hora em que a Marina me viu ela estranhou, mas depois acostumou e voltou a rotina tudo de novo.
Criei minha família junto com meu marido, e nunca tive ninguém para fazer nada, eu que tomava conta da casa e trabalho fora e cuidei de tudo, sempre fui eu que fiz tudo em casa, lavava, passava, cozinhava e sempre dei conta do recado por mais que eu sentisse algum mal estar continuava firme.
Conheci vários lugares, por causa de meu marido, conheci Pernambuco, Bahia, Salvador, Olinda, o Rio de Janeiro, enfim viajei bastante.
Passaram-se seis anos eu queria voltar para o interior de São Paulo porque estava sem ninguém da família aí que o Ricardo resolveu pedir baixa da marinha e vir para o interior de São Paulo comigo.
Não queria que ele deixasse a Marinha, mas acho que ele também estava cansado de viajar, queria ficar em terra firme, mas foi uma pena ele ter deixado uma profissão muito bonita e se não faz nada de errado fica até se aposentar e tem muitas regalias e ganha muito bem também.
Voltando do Rio eu fiquei mais perto da minha família, tomava conta dos meus sobrinhos gosto muito de crianças, e como eles todos regulava idade da minha filha resolvi cuidar deles, Marcela, Marco, Viviane, Vanessa, Paulinha, Lilian, Gabriela, Fabricio, Juliana e o Gustavo eles passavam quase o dia inteiro comigo.
Passaram uns anos eu e o Ricardo tivemos uma discussão, e nós resolvemos nos divorciar. Fui morar perto da minha mãe, e ela queria que eu fosse morar com ela, mas não iria dar certo mesmo que a casa fosse grande já morava com minha avó e meu tio e disse que ia tirar a liberdade dela, das minhas filhas e da minha, então resolvi alugar uma casa.
Mas antes de nos separarmos fiquei grávida de novo e foi aquela agonia, tudo de novo, mas passei uma gravidez boa, sem nenhum problema aconteceu que o filho que eu esperava era outra mulher.
Passaram-se uns meses e nasceu minha segunda filha, de cinco meses e meio. Foi outra cesariana e tive que fazer a laqueadura, porque não podia mais ter filhos, também já tinha conseguido o que queria.
Sempre desejei ter duas filhas; tive daí, o Ricardo resolveu ir embora, dar um rumo para a vida dele e eu continuei com minhas filhas que amo, elas são tudo na minha vida, mas me desesperei, porque não tinha emprego.
Nunca tínhamos brigado nem de solteira e nem de casada, foi uma coisa assim... acabou tudo, mas hoje somos bons amigos, gosto muito do Ricardo, mas como amigo.
Meus sobrinhos Walton, Jim e o Valdir são muitos engraçados, como diz a gíria são “da hora”. O Jim sempre serio mas gosta de uns pileques, o Walton todo grã-fino mas gosta de um baralho e o Valdir um palhaço só fala besteira, a gente se diverte com ele, minhas cunhadas já são as patricinhas, uma gosta de ficar sempre maquiada, outras de se vestir bem, chamar atenção.
A Marília é mineira e faz cada comida que nossa, o pão de queijo, bolo de milho, bom ter uma cunhada assim prendada.
Quanto à Sônia, minha outra cunhada vive fazendo plástica aqui, faz ali, puxa aqui, estica ali, mas tem mesmo que se cuidar enquanto pode e tem condições, mas já disse que depois dos 30 é assim mesmo, cai tudo.
Quando me separei fui fazendo tudo como podia para sustentar minhas filhas, meu irmão Silvio pagava o aluguel e o resto era por minha conta, já era uma boa ajuda ele pagar o aluguel. Fui fazer faxina nas casas, catei algodão, laranja, por pouco tempo de nove meses, aí fiquei fazendo só faxina nas casas e larguei de ir catar algodão e laranja.
Mas consegui sustentar minhas filhas e superar todos os problemas, não enxergava muito bem, mas consegui a superar muitas dificuldades, e tive que aprender a superar mais e me fazer de forte.
A Marina foi para o primeiro ano primário e teve professores da escola que me ajudavam com materiais de escola, uniforme e tudo mais; teve um ano que um amigo me ajudou porque a filha dele estava na mesma classe e comprou material de escola e uniforme.
Agradeço muito a este amigo que me ajudou na hora em que eu mais precisei; depois de uns 2 anos fui chamada para trabalhar com minha irmã foi aí que começou a melhorar a situação financeira, e na clínica trabalhavam médicos e dentistas, era p Dr. Edson, Dr. João Roberto, Dr. Marcelo Melara, Dr. Paulo e a Sílvia que é assistente social.
Foi muito bom trabalhar nessa clínica, era muito gostoso, porque adquiri experiência e logo prestei concurso público de merendeira, atendente.
Passei, graças a Deus, nos concursos que prestei. Comecei a ter direito a convênio médico para mim e para minhas famílias, porque até então tinha que clinicar minhas filhas e eu pelo SUS. Tive um salário e cesta básica que me ajudou bastante.
Quando comecei a trabalhar na Prefeitura, meu primeiro emprego a ser registrada, foi na creche do Porto Novo onde fiquei por um ano, porque vi coisas que não são da minha índole; vi umas babás maltratando criança e desci até a prefeitura e disse tudo o que tinha acontecido.
Foi um filho de policial, Paulo Moreno e da Edna; contei para eles também o ocorrido, desse dia em diante a chefe não quis que eu continuasse lá.
É ruim ser honesta demais, as pessoas que estão no poder pensam que podem fazer o que querem com as pessoas. Se todos agissem assim não teria tanta gente de mau caráter, porque íamos colocar a pessoa no lugar ou trabalha direito ou dá lugar para quem quer trabalhar com honestidade.
Então o Paulo Moreno disse que se fizessem alguma coisa contra a Sandra ele iria tomar providencias sérias. Assim, eu quis mesmo ser transferida porque o clima tinha ficado ruim.
Fui transferida para o Posto de Saúde onde fiquei por um ano e meio, porque peguei uma infecção e fui transferida de novo, para o sindicato.
Passaram uns anos fui transferida para outro Pat onde conheci a Cidinha Bezerra, uma mulher de fibra, depois de alguns meses fui para a Defesa Civil e lá conheci o capitão Camilo e antes de acabar o mandato do atual prefeito André Braga (ele foi cassado, alguém fez tramoia, tiraram-me de lá, entraram no meu lugar e eu fiquei a disposição).
Fui conversar como Luiz Adriano que era o vice-prefeito na época e ele disse para eu ir assessorá-lo e fui, fiquei uns meses com ele, mas como tenho dificuldade de enxergar pedi para me colocar em outra repartição.
Para não forçar muito a vista tinha que esforçar não só a vista, mas também a cabeça, fui para o arquivo, e que alivio, fiquei no arquivo durante 6 anos mas teve pessoa que me transferiu e hoje estou na Habitação, agora gosto do que faço aqui.
O Luiz Adriano é um ser humano muito bom e honesto; todo tempo de prefeitura nunca vi um vice e administrador com tanto respeito com tanta dignidade e carinho com os funcionários. Desculpem-me alguns vices, mas para o Luiz Adriano tiro o chapéu porque valorizou muito o funcionário.
Quando não tinha convenio e não conseguia vagas no Posto de Saúde, porque tinha que chegar muito cedo, o Dr. Paulo Jardim via que precisava atender a Mariana, porque tinha crise alérgica e ele mandava eu ir direto ao consultório particular dele e isso se repetiu várias vezes.
Hoje faço parte do convênio da MedPorto, onde há vários especialistas e continuei com o Dr. Paulo Jardim que sempre fui bem atendida e vários médicos como o Dr. Airton, Dr. Anízio, Dr. Ilacir, Dr. Pedro e vários outros.
E tem muitos que me criticam e dizem que sou louca. Com todo meu problema, faço muitas coisas, trabalho fora, tomo conta da casa, serviço de banco, escola.
Só que a louca sustentou, deu educação e trabalhou para criar as filhas, sendo que gente normal que nunca teve nada, não sabe fazer nada e nem tomar atitude de pessoas dignas. Faço de tudo ainda mais pelo presente de Deus me deu, porque não podia ter filhos e tenho, então tenho que cuidar desses presentes, como uma pedra preciosa e muito rara.
Passaram alguns anos arrumei namorado, mas não deu certo por vários motivos aí resolvi ficar sozinha, foquei num objetivo – estudar e fazer o mesmo com minhas filhas, e fazer de tudo para crescer e fazer minhas filhas, ser gente porque ninguém dava nada para mim nem para minhas filhas e me chamavam de louca retardada.
Meu pai que estava morando aqui, porque estava doente, meu irmão o trouxe pra cá com a sua atual esposa e pagava aluguel para ele porque não tinha condições de pagar. Ele tinha uma TL, carro antigo que me ajudou muito porque pegava Mariana minha filha mais nova no colégio Sud Menuncci para mim e levava para casa, porque eu trabalhava na creche e tinha que entrar às 13hs00 e ficava muito corrido, porque ela saia às 12hs00.
Minha filha mais velha concluiu o 2.º grau, e como eu não tinha condições de pagar uma faculdade ela resolveu fazer uns cursinho: fez curso de computação, ela queria mesmo fazer faculdade, disse para ela tenha calma, que um dia iria conseguir fazer, e todo começo de ano eu ficava triste por não ter condições financeiras de pagar uma faculdade.
Minha filha completou 18 anos, o tio dela o Silvio pagou para ela tirar a CNH-Carteira Nacional de Habilitação e foi trabalhar na Ralf Center uma firma dele. Ela ficou por lá um ano ou mais, depois fechou e como pagamento recebeu uma Brasília que foi seu primeiro carro.
Passaram alguns anos a Marina, a filha mais velha, começou a trabalhar num projeto da prefeitura, e a Mariana ficou sozinha para tomar conta da casa, e a Marina tinha que me ajudar na despesa da casa, e não teve jeito de ela começar a faculdade.
E a Mariana estudava e tomava conta da casa, ela era uma menina com treze anos e o Sr. Neguinho, diretor da escola, via que era muito estudiosa, sugeriu que ajudasse os outros alunos a estudar e foi assim que orientava uma turminha a estudar quase todo dia.
Eram o Wllian, Druziel, Caio, Leticia, Fernanda, Marina, Patrícia, esses amigos vão ficar na história, faziam uma bagunça, mais uma bagunça divertida.
Até hoje são amigos, o Druziel é cômico, sempre fazendo piadinhas, disse que Elvis não morreu, fui eu que matei, porque quando soube que sofri o acidente teve um enfarto e caiu duro.
Contava essa história para muita gente e falava que o Elvis cantava e dançava com as pernas daquele jeito porque a noite anterior tinha tido uma noite comigo e deixei-o de pernas bambas.
Esse Druziel é locutor, porque tem uma voz que dá inveja para muitos radialistas e também tem esse sonho de um dia fazer entrevista com famosos.
Depois de algum tempo, Mariana também começou a trabalhar de guardinha no Fórum. Minhas filhas começaram a tomar conta das coisas delas e eu continuei a tomar conta da casa sozinha, mas já foi melhor, porque roupa, calçado, dentistas tudo o que era delas, elas assumiram, e deu uma aliviada.
Passaram vários anos ainda nada de faculdade, isso me entristecia cada começo de ano.
Nossa, essa carro dela vai ficar na história, porque era uma Brasília velha e tinha muito problema, porque vivia quebrando, ela parava na rua, tinham que empurrar, era um horror. Várias vezes para o movimento e tinha que pedir para os amigos empurrarem, era uma comédia. Elas ficaram conhecidas como as moças da Brasília.
Que orgulho! Foi a primeira mulher a trabalhar no escritório dele; estava muito orgulhosa por ver que elas tomaram um rumo, porque tinha gente que não dava nada para elas e nem para mim, falavam “aquelas lá vão ser umas perdidas”.
Também com a mãe que têm... mas mostrei que sou mãe, e de que sou capaz de dar educação e respeito; sou muito alegre, brinco com todo mundo mas em primeiro lugar dou e faço questão de respeito.
E agora pasmem, quem duvidou do que sou capaz, de educar minhas filhas e ensinar a serem pessoas responsáveis.
Passaram alguns anos e finalmente minhas filhas foram fazer a tão sonhada faculdade. Era um sonho, para elas e para mim elas fazerem a faculdade.
Precisei ajuda-las, então trabalhava dobrado porque elas pagavam a faculdade e eu pagava o ônibus, trabalhava de segunda a sexta, na Prefeitura.
E de fim de semana e feriado fazia hora extra num departamento da Prefeitura. Eu era vigia, não tinha folga; fiz esta vida durante 5 anos e não me arrependo, porque fiz de coração, se tivesse que fazer isso de novo para ajudar minhas filhas, faria.
A minha avó, bisavó delas estava orgulhosa ao vê-las se esforçando e incentivava, elogiava muito.
Mas pena que minha avó, a bisa delas, morreu antes delas terminarem a faculdade; fico triste porque ela não via a hora delas se formarem e dizia: “se tiver tudo bem eu quero vê-las, a receber o diploma disso e faço questão” mas não deu.
Antes da minha avó morrer ela tinha uma casa em Ribeirão Preto e passou para mim. Mas tem irmãos que não aceitaram que ela passou a casa para mim, mas não era dela mesmo, era da minha mãe, passou também por causa de um problema financeiro de minha mãe, rolo da família, então resolveu passar porque eu era a pessoa mais indicada no momento.
E brigam por esta casa até hoje. Depois de uns três anos que minha avó tinha morrido, vendemos barato para um dos meus irmãos para resolver um outro problema financeiro deles, mas tudo bem não era meu mesmo, deixe eles brigarem por uma coisa que não foi conseguido pelo suor deles (ó gente gananciosa! Esta casa pertencia primeiramente a minha mãe).
Mas tem gente que não vê desta forma, só pensa no bem estar deles, não veem que estão machucando cada vez mais minha mãe, tudo bem tem que largar de lado e viver, eu brigo pelas coisas que conquistei com os meus esforções, não sei como posso ser tão diferente.
Eles esquecem que têm filhos e vão ficar velhos também e estão dando aulas para os filhos fazerem o mesmo, é a lei do retorno, aqui se faz, aqui se paga, pode até demorar mas volta, não é praga não, mas funciona assim.
Não tenho essa ambição por aquilo que não é meu, tomo conta daquilo que me pertence e que conquistei com meu esforço. Hoje eu moro na casa da minha mãe, não dentro, mas em cima da casa dela, porque ela tem um salão de festa e para eu não pagar aluguel minha mãe disse “vem morar aqui”, fui, mas o que já escutei porque eu fui morar...
No ano de 2010 conseguimos comprar um carro. Nós fomos para Ribeirão Preto ver para comprar um carro usado e de repente saímos da concessionária com um carro O Km. Que emoção, tudo com a graça de Deus.
Passou uma semana e minhas filhas foram buscar o carro porque teve que fazer a documentação e revisão do carro antes de sair da concessionária, e elas não sabiam como sair de Ribeirão. Perguntaram na concessionária como saía de Ribeirão Preto, a moça explicou e vieram embora, chegando em casa nem acreditava que tinham conseguido esta vitória, era um sonho.
Hoje em dia no serviço muitos também fazem deboche, caçoam de mim pelo meu jeito, porque não sou de esquentar com nada. Para mim tudo está bom, só não gosto de falsidade e nem de mentira, e o que tenho de falar falo na cara, sou sincera até demais. Se você gostou, gostou, se não gostou, não posso fazer nada, sou autentica e por isso levo a fama de louca, e sou louca porque falo a verdade e não consigo fingir.
Mas agora gosto do que faço e de onde estou, mas como todo lugar, sempre tem alguém querendo puxar o tapete. E eu vou vivendo, perto de pessoas como o Tiago, o Marival, o Sr. João, o Sérgio, os guardinhas que aqui passaram, a Marilia, o Lucas e o nosso atual “boy”, que é o Gustavo.
Agora minhas filhas estão formadas, também trabalhando, cada uma na sua área. E elas têm dois serviços, a que se formou em Química trabalha na Vidroporto durante o dia e dá aula à noite na escola “Mario Borelli Thomaz”, onde estudou, e agora é professora, e a psicóloga trabalha no atacadão da Papelaria Ideal e atende na clínica, graças a Deus está tudo se resolvendo.
Tenho dois genros abençoados, muito educados que tratam minhas filhas como uma princesa, gosto muito do Alan e do Anderson, já o conhecia os pais do Alan e sei que posso confiar, e do Anderson não, mas sei que posso confiar.
Hoje tenho orgulho das minhas filhas e de mim também porque ensinei minhas filhas a trilhar o caminho certo a crescer, ser gente, ter dignidade e serem respeitadas por todos, agora meu objetivo é comprar uma casa.
Mas como sempre há pessoas que ainda debocham de mim, que querem me fazer sentir ridícula e me deixar pra baixo, mas não dou moral, porque essas pessoas não têm dignidade, nem moral de falar de mim e nem das minhas filhas, apesar de tudo eu consegui ser o que sou, enquanto essas pessoas não têm capacidade de sair do lugar, porque com todo meu problema me superei e faço coisas que eles, perfeitos, não conseguem.
Hoje sou uma mulher quase realizada, porque tenho Deus na minha vida, mas ainda quero comprar uma casa pra elas e uma chácara para mim. Trabalho, ando, falo e até cresceu meu cabelo.
Eu sempre falo que não confio em homem nenhum aqui na terra e sim em Deus, porque os homens disseram que não ia poder ter filhos e tenho duas, disse também que não ia andar nem falar, falo até pelos cotovelos e que não ia nascer cabelo, nasceu, tudo que o médico disse foi ao contrário.
Sou uma pessoa que por tudo que passei estou bem, dou muito valor à vida e estou sempre de bem com a vida; tem dia que estou irritada, com canseira, desanimada, mas tudo coisa de ser-humano e coisa de segundo daí respiro fundo e falo para mim mesma “você passou por coisas piores e superou, então levanta sacode e de a volta por cima isso é fichinha, em vista do que você passou.
Hoje estou mais tranquila e tenho umas horas para mim, faço academia, hidroginástica e quero fazer dança também, e estou escrevendo este livro, mas tem muita gente que duvida que vou publicar. Ficam caçoando, fazendo piadas, mas tenho uma coisa: quando quero, quero e acabou posso até dar com a cara na parede, mas faço, sou determinada.
Agora que ver meus netos, quero comprar a chácara, fazer uma horta, ter meus bichos e um espaço meu e de minha família que são os netos, filhas e genros, irmãs, irmãos, sobrinhos, cunhados e amigos verdadeiros venham fazer parte dessa felicidade.
Quero agradecer as minhas amigas da prefeitura a Carla Cadine, Simone Camargo e à Carolina Fratini por terem me ajudado e apoiado para eu escrever este livro, e nunca debocharam de mim e sempre me incentivaram e deram apoio por tudo que falo e faço.
Consegui fazer novos amigos no serviço, e aqueles que já tinha continuaram, aquele que depois de casada conheci para mim tudo isso foi um aprendizado, uma experiência bem maior de quando era jovem, posso ver a vida de uma outra forma, posso falar que amadureci e valeu a pena tudo...
TUDO ISSO PORQUE TENHO UM DEUS QUE DIRIGE MINHA VIDA. AGRADEÇO POR TUDO, SENHOR.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradeço a Deus pela vida. À minha mãe, Therezinha, que me trouxe à luz; aos meus irmãos: Silvio, Sônia, Paulo e Simone. À minhas filhas, companheiros de todos os momentos.
Às amigas e amigos da Prefeitura; à Carla Cadine, Carol Fratini e Simone Camargo e a todos que, de algum modo me ajudar a escrever este livro.
Aos meus vizinhos: Márcia Menendes, Marcos Menendes, José Márcio e Cláudio Menendes, Luiz Terrassi e sua irmã Ângela; à Leninha, Marta, Marilda e Tereza Belini. Ao Luiz Lacerda e seu irmão Paulo, ao Carlinhos, ao Roberto (mais conhecido como Capeta); ao Comin; ao José Geraldo e Juliana; a Walderez e seus primos, à Vânia Zuffo, Roseli de Lima, Celia Amaru e suas irmãs Ana Paula Camarotti e tantas outras pessoas, que me entenderam, foram pacienciosos e que viveram comigo, a minha história.
E, agradeço também, à professora Marília Mondin Thomaz Verechia por ter me incentivado e ajudade, na correção do meu texto.
Meu pai Silvio, minha avó Nena e meu tio Marinho (in memorian).
“...Muitos dias se passaram
Muitos dias passarão
À noite segue-se o dia
E assim os dias se vão...”
(Vinicius de Moraes)