ETERNO ENCANTO
Sua lágrima competia com a garoa. Caindo devagar e a escorrer pelo seu rosto colado na vidraça. Em pensamentos vagos e sem chão, com um nó na garganta e a soluçar, apertava seu peito com a mão, pois que dorido estava o coração que outrora tanto amor transbordava. Ouvindo o seu silêncio viajou, no trem do tempo até a primeira estação.
Ah, tarde primaveril! Perfume exalando no ar, quimeras mil rodopiando igual às borboletas entre as flores, nesta mente absorvida pela beleza leve de tanto encanto que a adolescência nos proporciona.
Vieram as lembranças: observava uma pipoca entre os dedos, antes de levá-la à boca, e imaginava quão espetacular era a magia que transformava o grão do milho em linda “noiva” toda de branco, então, em sua pureza, se imaginou tal qual pipoca; linda e maravilhosa, transformada e admirada por todos, viu-se adentrando a igreja sob olhares deslumbrados, filmagens e fotografias, num corredor florido e que parecia interminável até chegar ao altar. Desviou o seu olhar da pipoca da sua abstração e pôs-se a observar numa recém-desabrochada rosa vermelha a presença de um colorido e delicado beija-flor num romântico bailado de ágeis asas, pairando no ar e delicadamente tocando a flor com seu bico sedento pelo néctar da mesma, nesse instante sentiu seu coração se apaixonando pela ternura daquela cena e um sentimento inesperado levou-a a querer ser aquela rosa, viu-se bela e atraente, cerrou os olhos e esperou seu “beija-flor” por horas a fio. Então anoiteceu.
Amanheceu, e a primavera de outra fase era plena. Outros olhos, mas o mesmo coração; sem pipocas, rosas, beija-flores, mas ainda amante daquele romantismo eloquente, ora mais madura, pés no chão. O príncipe encantado houvera vindo de algum lugar. Pela relva orvalhada ia feliz da vida colher belas flores para brindar o sublime sentimento que em seu coração fez morada: o amor. Em cada flor colhida depositava seu beijo carinhoso e ofertava em pensamento àquele que então era a razão da sua felicidade.
Dias, meses, anos, na plenitude do amor. Agora uma chuva fina escorria por fora, na vidraça testemunha daquela vida a dois de felicidade total. Nos olhos, a lágrima transbordando daquela alma condoída, mas no coração a dorida saudade entre a conformação e o desconforto da solidão ora vivida. O encanto eternizou-se naturalmente, pela lei da vida.