Casamentos em extinção?
Palavras me encantam. Crônicas, então, parecem me atrair. Talvez porque eu seja um ser estranho, gosto de ler e observar tudo. Aliás, esses dias li em um texto de uma aluninha minha a característica da personagem dela. Ao criar um conto de mistério, a personagem central da narrativa era vista por todos como estranha porque gostava de ler. Ri muito, mas depois fiquei preocupada. Meu Deus! Sou um ser estranho, adoro ler! A que mundo chegamos! Mas, enfim, crônicas me atraem porque posso escrever sobre aquilo que é invisível para muitos e refletir a respeito.
Esses dias, ao adentrar o elevador, vi uma mulher chorando. Fiquei inquieta, é banal, eu sei, mas como boa vizinha e cidadã perguntei se estava bem e se poderia ajudar. “Pode criar um homem perfeito? Acabo de me separar. Odeio casamentos. Eles estão em extinção! ” Saiu na próxima parada do elevador. Que pessoa estressada! Foi meu primeiro pensamento. Homens perfeitos requerem mulheres perfeitas! Então, meu segundo pensamento foi questionar-me se eu era a mulher perfeita, se meu marido era o homem perfeito.
Como um filme rodando assim estava minha cabeça a caminho do trabalho. Fiquei me lembrando de alguns dias que chego em casa e encontro os chinelos no corredor de entrada, e não são os meus! A porta do guarda-roupa aberta, na verdade, deveria tê-lo comprado sem porque ela me custou caro e não tem serventia. O pijama está na poltrona do quarto e, o clássico, a tampa da privada levantada. Cenário completo: homem imperfeito: divórcio!
Casamento é isso? Liguei para ele mais tarde. Precisávamos, sem dúvidas, discutir a relação. Disse-me que estava em reunião. Ah, claro! Estou como minha vizinha do elevador. Tudo errado! Certamente nós duas estaríamos, dali a poucos dias, em um bar, lamentando a criação humana masculina.
Então, ao chegar do serviço, deparo-me com uma mesa linda! O jantar estava pronto. Lá estava ele, o homem imperfeito, apresentando o cardápio que havia me preparado porque sabia que chegaria cansada e com fome. Deixei a discussão da relação para mais tarde, assim como a limpeza da pia que estava um desastre. Naquele momento, queria deleitar-me de tudo que a vida havia me dado e que meus olhos não apreciavam. Se eu me senti culpada por desejar o homem perfeito? Sim. Como posso observar os detalhes da vida para escrever e não reconhecer os mistérios da alma humana?
Descobri que não são os casamentos que estão em extinção. O que está faltando é olhar para o outro e encontrar a essência dessa relação. A intolerância e arrogância humana estão suplantando relações amorosas. Casas arrumadas e perfeitas não existem nem são funcionais, tampouco homens e mulheres perfeitos. Saibamos aproveitar o melhor que a vida nos oferece. Isso sim está em extinção nas pessoas.
Paula Perillo
Mestre em Educação: Currículo pela PUC-SP