CRONICA DE UM DIA ESPECIAL

Não era um dia comum, destes que passa despercebido. Não era não. E, não deveria ser. Tratava-se do dia do aniversário de seu casamento....Para ela, extremamente importante a lembrança.

Tempos houveram onde o frescor da memória não deixava escapar data alguma. Bem, aqueles foram os primeiros anos de uma convivência que já beirava a “casa” das bodas de ouro.

Existe época, pensava ela, que a memória mergulha no esquecimento ou na indiferença naturalizada. E isso acontece com todas as pessoas, motivada, quem sabe, pela rotina de tribulação que se tornou a vida; esse espaço apertado na mente onde não cabe a menor lembrança, ou o próprio estado rotineiro que havia chegado o seu casamento, como tantos; fatos que justificariam a falha do companheiro, desta ausência e carência sentidas que seus devaneios e sonhos produziam.

Pensou em uma rosa vermelha ofertada pelo companheiro. Não em outro mimo qualquer. Apenas uma...solitária, tal qual mergulhara seu coração naquele dia. E buscou refúgio em Deus.

Refletindo quão inocente e infantil não estava sendo dando mostras desta fragilidade, que quase esquece que sua demora seria sentida no núcleo da Seicho-no-Iê, onde junto a outros amigos voluntários colaborava semanalmente com aquela instituição.

E, em seus afazeres, inserida no burburinho do entra e saí dos que buscavam soluções às suas mais variadas necessidades, releva, já refeita, aquele pensamento que por momentos a tanto a entristecera, todavia, a confissão mais íntima feita à Deus ainda aflorava em seu coração.

De repente, do inesperado, a figura de uma mulher muita bem vestida, desconhecida de todos, circula pela ampla sala carregando nas mãos um belo arranjo ornado unicamente por rosas vermelhas.

Pára, discorre o olhar por todos os atendentes em suas respectivas mesas e dirigindo-se à ela diz:

__Estas rosas são prá você!

Tomada de espanto pela surpresa, desentendida, questiona emocionada.

__Porque, prá mim, tão lindo presente?

Objetiva, mas com doçura na voz, responde:

__Não sei! Intencionava fazer alguém feliz no dia de hoje. Pensei em rosas vermelhas, mas não apenas uma, solitária, e sim em muitas unidas em suas solidões. E são para você. Pegue!

Paralisada, aconchega carinhosamente a oferta em seu peito, inclina a cabeça em reverência e chora copiosamente. Quando pensa em retribuir com um abraço aquele gesto de generosidade, aquela desconhecida simplesmente já havia partido sem deixar qualquer vestígio de sua identidade.

Atônita olhava para o vazio como se estivesse só, mas rodeada de amigos, enquanto o sol batendo na janela escancarava seu divino brilho naquele dia tão especial.

Em suas mãos restaram apenas uma rosa, a solitária, a do pedido à Deus, enquanto as outras eram compartilhadas com os amigos mais próximos que a acolhia em suas lágrimas temperadas de surpresa, gratidão e felicidade.

Néo Costa
Enviado por Néo Costa em 07/09/2017
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